Furacão Mitch
América Central
pede «perdão» de dívida externa


Os prejuizos pessoais e materiais da passagem do furacão Mitch pela América Central ainda não foram totalmente contabilizados, mas sabe-se que pelo menos 11 mil pessoas morreram e um número muito elevado de casas ficou destruída.

O Sistema Nacional de Defesa Civil da Nicarágua calcula que mais de 1800 pessoas morreram, quase 1300 desapareceram, 800 mil ficaram feridas e 2500 casas foram danificadas total ou parcialmente.
Por seu lado, as autoridades das Honduras afirmam que o número de vítimas mortais ascende actualmente a quase sete mil, havendo dez mil desaparecidos.
Entretanto, os sobreviventes dos diversos países afectados pelo furacão vêem-se a braços com uma grave crise alimentar. A Comissão Permanente das Situações de Urgência das Honduras afirmou já que o destino de dezenas de milhar de pessoas depende exclusivamente da ajuda da comunidade internacional.
Mas os problemas não param de aumentar. A Tela Railroad Company, empresa de bananas subsidiária da norte-americana Chiquita Brands que opera desde o início do século nas Honduras, anunciou a suspensão indefinida de quase oito mil trabalhadores devido à destruição das plantações.
Mas outras culturas foram afectadas, nomeadamente de açúcar e cacau. De acordo com a Organização Internacional do Café, entre 10 e 15 por cento da produção de café das Honduras foi destruída, estimando que os cafezais tanto deste país como da Nicarágua precisam de dois a três anos para recuperarem da devastação. Estas perdas irão provocar uma subida generalizada do preço do café nos mercados internacionais.

UE propõe ajuda financeira

Os presidentes dos países da América Central, reúnidos na segunda-feira em El Salvador, pediram à comunidade internacional para perdoar a dívida externa das Honduras e da Nicarágua e apelou à ajuda para a reconstrução das infraestruturas destruídas pelo furacão.
«Não é possível que um país destine um dólar anual para a compra de medicamentos, saúde e educação, enquanto guarda cinco dólares para pagar os interesses da dívida», afirmou o Presidente da Nicarágua, Arnoldo Alemán.
Os presidentes apelaram ainda aos Estados Unidos para não deportar os emigrantes ilegais. «A América Central não pode receber deportados neste momento», declarou o Presidente salvadorenho, Armando Calderón.
Entretanto, os países membros União Europeia aprovaram na segunda-feira ajudas urgentes no valor de 100 milhões de ecus. A hipótese de perdoar a dívida externa foi posta de lado, mas, segundo o comissário europeu para a América Latina, Manuel Marín, os Estados-membros chegaram a «um compromisso para que cada país estude a composição da dívida dos países afectados pelo furacão para ver o que se pode fazer».
A Comissão Europeia anunciou que irá elaborar um plano de reconstrução de 450 milhões de ecus anuais, mas só o apresentará em Janeiro.
A Nicarágua deve 5.929 milhões de dólares (o triplo do Produto Interno Bruto do país), as Honduras 4.453 milhões de doláres (92 por cento do PIB), a Guatemala 3.785 (23 por cento do PIB) e El Salvador 2.894 (35 por cento do PIB).


«Avante!» Nº 1302 - 12.Novembro.1998