Tisep, Eru, Longa Vida
Multinacionais resolvem fechar


«O Governo não pode ficar quedo e mudo e tem que alterar a sua postura face ao investimento estrangeiro em Portugal», exigiu Carvalho da Silva, comentando o anúncio do encerramento da Texas Instruments Samsung Electrónica Portugal, na Maia.

O fecho da Tisep, que deixará sem emprego quase oito centenas de pessoas, é o mais grave, mas não foi o único verificado nestes dias. Também a Nestlé vai abandonar a produção de semi-frios e de iogurtes «Longa Vida», em Matosinhos, com mais de uma centena de trabalhadores.

A fábrica de componentes electrónicos já tinha o encerramento como perspectiva assumida pela administração há mais tempo, mas apenas na quinta-feira informou os trabalhadores. No dia seguinte, o coordenador da CGTP juntou-se aos sindicalistas que acompanharam o caso, na Maia, e contrapôs ao anúncio do encerramento «a seco» a exigência de uma intervenção do Governo para a promoção de alternativas para os trabalhadores que vão ser despedidos.
A CGTP, lembrou Carvalho da Silva, citado pela Lusa, vinha a alertar há ano e meio para o perigo de ocorrer uma situação destas, porque, «salvo raras excepções, o investimento estrangeiro continua a apostar na mão-de-obra barata».
A Texas Instruments está instalada na Maia desde 1973. Depois de se associar à Samsung, constituindo a Tisep, em 1993, a nova joint-venture recorreu a apoios e incentivos oficiais destinados à captação de investimento estrangeiro. Até ao momento, o acordo assinado com o Governo em 1995 e que deveria vigorar por dez anos permitiu à Tisep arrecadar avultadas verbas.
Em declarações ao «JN», o director-geral da Tisep reconheceu que a decisão do fecho da fábrica, que funciona em laboração contínua, «não decorre, de maneira nenhuma, do desempenho e qualidade dos trabalhadores, eles são admiráveis».

O abandono do sector de semi-frios e iogurtes da Longa Vida foi denunciado à Lusa por Manuel Guerreiro. Este dirigente da CGTP manifestou uma «surpresa relativa» face à decisão da Nestlé, lembrando que esta já fechou as fábricas da Tofa, da Rajá e da Findus, para além de já ter procedido ao despedimento de 70 trabalhadores na fábrica da Longa Vida.
O sindicalista notou que, «desde há 65 anos, a Nestlé vem crescendo com o trabalho de muitas gerações de trabalhadores e com o consumo de milhões de portugueses, que a colocaram entre as maiores empresas do ramo alimentar e que agora vão ser recompensados com o desmantelamento de uma parte do sector produtivo em Portugal».
A «deslocalização» da produção para Espanha ou França foi confirmada pelo responsável das Relações Públicas da Nestlé Portuguesa, que justificou a decisão por «falta de competitividade». Manuel Bobone não negou que a multinacional tenha recebido incentivos financeiros públicos para a modernização da fábrica de Matosinhos ou a criação de postos de trabalho.

A fábrica de queijos Eru, na Abóboda, Carcavelos, deverá encerrar até final do ano, deixando no desemprego os seus 50 trabalhadores, revelou sexta-feira o Sindicato da Alimentação do Sul e Tabacos. A produção «será transferida para fora de Portugal, situação que se tornou comum nos últimos anos no sector da indústria alimentar», adianta o STIAST/CGTP, apontando a contradição entre as alegadas dificuldades de mercado e o aumento recente dos ritmos de produção, com o início da laboração a dois turnos. A multinacional recorreu a fundos comunitários e ao plano Mateus para garantir os postos de trabalho.

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Esence não pagou

O responsável do Grupo Esence - Sociedade Nacional Corticeira foi acusado de actuar de má-fé, porque se comprometeu a pagar cerca de 30 mil contos relativos a indemnizações até 30 de Outubro, se os trabalhadores da Infal, obrigados a rescindir os contratos devido ao arrastamento da situação de salários em atraso, retirassem o processo de falência da empresa.

O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Corticeira do Sul denunciou publicamente esta «afronta», mostrando-se ainda mais surpreendido por o Estado ter concedido em Julho um aval de um milhão de contos, para contracção de um empréstimo, ao grupo de que Edmundo Rodrigues Pereira é administrador.

A fábrica de aglomerados de cortiça do Montijo deixou de laborar há mais de um ano, por não cumprir regulamentação ambiental, e deixou de pagar a tempo e horas a alguns trabalhadores, que decidiram rescindir os contratos e pedir a falência da Infal, para reaverem as verbas em dívida. Em Julho, quando foi solicitado um empréstimo de três milhões de contos e obtido o aval estatal para a terça parte deste valor, o administrador propôs o pagamento da dívida a troco da retirada do pedido de falência. Pagou dez mil contos de salários e subsídios, mas ficou a dever as indemnizações.


«Avante!» Nº 1304 - 26.Novembro.1998