Indignação
e revolta manifestam-se hoje em Lisboa
CGTP
exige abandono
do pacote laboral
Trabalhadores de todo o País participam hoje na acção de luta nacional convocada pela CGTP-IN. Às 15 horas há uma primeira concentração, nos Restauradores, que se dirige para São Bento. A concentração frente à Assembleia da República está marcada para as 16 horas.
«Vamos ter no dia
25 de Março uma grande acção de revolta, de denúncia, de
protesto, de exigência ao Governo e aos deputados da AR que
abandonem definitivamente os diplomas mais gravosos do pacote
laboral: o tempo parcial, as férias, o conceito de
retribuição, o lay-off e o trabalho nocturno» - previu
José Ernesto Cartaxo, segunda-feira, na conferência de imprensa
sobre a análise feita na Comissão Executiva da CGTP-IN, reunida
nesse dia em Lisboa.
Interrogado sobre o facto de ser um governo socialista o
protagonista desta ofensiva, aquele dirigente da Inter
relatou que, nos contactos que, como outros sindicalistas, tem
tido nestes dias em várias empresas e regiões, «são os
próprios trabalhadores socialistas, militantes organizados, que
se manifestam desiludidos e frustrados por o seu partido, que
sustenta o Governo, ter avançado com diplomas de tão grande
gravidade e que significam, em certos casos, um retrocesso para
situações piores que antes do 25 de Abril».
A Executiva, informou José Ernesto Cartaxo, verificou que há
«grande movimentação, grande disponibilidade e empenho para
transformar esta acção numa grande jornada», expressando «a
confiança de que o Governo não vai ter outra saída, senão
recuar em relação a estes diplomas», que quer agendar ainda
para Abril e que «correspondem, a cem por cento, às
reivindicações da CIP», como acusou Ulisses Garrido, também
presente no encontro com os jornalistas.
Por Abril
O lema da acção de
hoje - «Por Abril, defender os direitos dos trabalhadores,
contra o pacote laboral» - reflecte a especial
indignação que provoca o facto de esta ofensiva contra pilares
do Direito do Trabalho coincidir com o ano em que se comemora o
25º aniversário da revolução. Em causa, salienta a CGTP,
estão o direito ao trabalho e à segurança no emprego, o
direito a horários e salários dignos, o direito à
contratação colectiva e à liberdade sindical, a proibição da
discriminação de mulheres e jovens, o direito à Segurança
Social, o direito universal a férias.
Aos diplomas para aplicação geral, o Governo somou ainda um pacote
legislativo para a Administração Pública, que articula o
ataque a importantes direitos com uma política de
privatizações.
Combatendo a preocupação do Governo de proteger os interesses
do grande patronato em detrimento dos interesses e direitos dos
trabalhadores, a CGTP contrapõe ao pacote laboral a
exigência de melhores condições de vida e de trabalho.
Na conferência de imprensa de segunda-feira foi denunciado o
bloqueamento sistemático da negociação colectiva por parte dos
representantes patronais, comportamento que tem suporte na
política de «moderação» salarial praticada pelo Governo.
«Este bloqueamento resulta numa pressão muito grande sobre os
salários, uma situação inadmissível, quando o crescimento
económico, reconhecido por toda a gente, não tem revertido a
favor dos salários nos últimos anos e este ano em particular»,
protestou José Ernesto Cartaxo, exigindo a inversão da
«política sistemática de conseguir a competitividade das
empresas à custa dos baixos salários».
A CGTP acusa também o executivo de António Guterres de não
concretizar a aproximação dos salários portugueses à média
europeia, promessa eleitoral do PS e objectivo incluído no
programa do Governo.
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Como se faz uma
grande acção de protesto
O Acordo de
Concertação Estratégica, onde surgiu pela primeira vez este pacote
laboral, foi assinado em 21 de Dezembro de 1996. No verão
passado, o Governo procurou chamar a si uma competência da
Assembleia da República. Mas teve que recuar, por força dos
protestos: não só não legislou nas férias, como foi obrigado
a mandar as propostas de lei para a AR.
Havia uma pretensão de que o trabalho a tempo parcial pudesse
ser discutido até 15 de Dezembro. Na Conferência de
Organização Sindical, a 27 e 28 de Novembro, a CGTP decidiu
promover greves e paralisações e uma acção nacional junto da
AR, no dia em que fosse agendado aquele diploma. Anunciado o
calendário pretendido, o plenário nacional de sindicatos,
convocado de emergência para 26 de Fevereiro, apelou à
mobilização dos trabalhadores e marcou o «cordão» humano de
dia 11 e a acção de hoje.
Todos os dias de Março foram aproveitados para reuniões nos
sectores e regiões, para plenários em empresas, para a
elaboração e distribuição de milhares de folhetos e
comunicados.
Hoje de manhã, do Porto, saíram dezenas de autocarros, prevendo
a União dos Sindicatos do distrito que se desloquem a Lisboa
cerca de 1300 pessoas. Na capital, estão convocados plenários
em empresas como o Metro, a Carris e o grupo CP, com saída dos
trabalhadores para a manifestação. Foram apresentados
pré-avisos de greve em sectores como a hotelaria, os gráficos,
a indústria vidreira, a construção civil, a metalurgia, a
química e farmacêutica, a administração local e a Função
Pública, as indústrias eléctricas, têxteis e de bebidas, as
telecomunicações e audiovisual, o comércio, escritórios e
serviços.
Uma acção desta envergadura faz-se com muito trabalho. Aqui
ficam alguns exemplos.
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PCP prossegue campanha
Até final do mês
decorre a acção nacional de esclarecimento, iniciada pelo PCP
no dia 15, sob a palavra de ordem «Mais respeito por quem
trabalha».
Envolvendo centenas de militantes comunistas, foram realizada,
até ao passado fim-de-semana, iniciativas em mais de 200
empresas, em todo o País. Já foram distribuídos mais de cem
mil exemplares do folheto central da campanha, a que se somam
comunicados e outros materiais editados pelas organizações.
No dia de hoje, todos os passos confluem para a manifestação
convocada pela CGTP. Amanhã, a acção retoma o seu ritmo. Odete
Santos, por exemplo, participa numa «volta» por empresas
têxteis do concelho de Santo Tirso, enquanto outros camaradas
estarão em iniciativas noutros locais. Entre os meios
atribuídos pelo PCP a esta acção estão também três
carrinhas, equipadas para darem um forte apoio aos contactos com
os trabalhadores e a população.