Por
melhores salários, pelo emprego, pelos direitos
Trabalhadores
avançam para a greve
Do despedimento colectivo na Unicervi à «pacotada» contra os ferroviários, da discriminação na Merloni às «chuchas» na Robialac, do Teatro D. Maria II aos motoristas de mercadorias e ao pessoal da Gás de Portugal - as injustiças geram descontentamento e este acaba por resultar na forma de luta extrema ao dispor de quem vive do seu trabalho.
Em greve está hoje
o pessoal da Ford Electrónica, que de manhã se concentra
no Centro Nacional de Protecção contra os Riscos Profissionais,
para reclamar «mais eficácia» no acompanhamento da situação
de centenas de trabalhadoras afectadas por tendinites.
O despedimento de 55 trabalhadores da Unicervi, no dia 16,
levou a que o restante pessoal da distribuidora da Centralcer em
Palmela e Grândola entrasse em plenário permanente.
De segunda-feira até ontem, os trabalhadores da Opel Portugal
(fábrica da Azambuja) fizeram paralisações de 30 minutos. Hoje
a greve é de 24 horas. Em causa estão as pretensões da
administração de introduzir um sistema de remuneração baseado
em novos prémios e de condicionar a actualização salarial a um
acordo para três anos. Uma nota do Sindicato dos Metalúrgicos
de Lisboa acrescenta ainda que o pessoal da Opel exige aumentos
que melhorem o valor real dos salários e os aproximem dos
níveis praticados nas outras fábricas da Europa, bem como a
redução do horário de trabalho.
A aplicação de aumentos salariais de 2,9 por cento para os
operários e de 4,4 até 8 por cento para quem já auferia
vencimentos superiores, tal como a atribuição arbitrária de
prémios, levou à realização de uma greve de 3 horas na Merloni
(Ariston) no dia 12. O Sindicato dos Metalúrgicos do Sul refere
a disposição dos trabalhadores de darem continuidade à luta.
A degradação dos vencimentos dos actores levou o Sindicato dos
Trabalhadores dos Espectáculos a declarar greve no Teatro
Nacional D. Maria II, nos dias 16 a 18. O Sindicato da
Função Pública do Sul e Açores também apelou à greve do
pessoal técnico, administrativo e auxiliar, exigindo a
neociação de um regulamento interno e de um enquadramento
salarial e de carreiras. Este sindicato admite também que possam
ser desencadeadas formas de luta no Ministério da Cultura.
De segunda-feira até ontem, por períodos de 4 horas, os
trabalhadores da SSGP-Vidro Automóvel estiveram em greve
por melhoria de salários e redução do horário de trabalho, à
semelhança do que já sucede nas empresas do Grupo Saint Gobain
em Portugal (Covina e Vidreira do Mondego).
Na Robialac foram marcadas greves de hora e meia, de ontem
até segunda-feira, dia em que os trabalhadores reunirão em
plenário para analisar o eventual endurecimento da luta contra a
discriminação salarial e pela criação de um subsídio de
risco e desgaste. Por 30 dias foi declarada greve ao trabalho
extra. Esta foi a resposta à imposição, pela direcção da
empresa, de aumentos salariais «a seu belo prazer, as chamadas
"chuchas"», como se diz na resolução do plenário de
Fevereiro.
A greve da passada sexta-feira na Emef teve, no Barreiro,
uma adesão de mais de 98 por cento, que foi «a maior de
sempre», refere a Comissão Concelhia do PCP, num comunicado em
que apela à luta contra o pacote laboral. A
paralisação, no segundo período de trabalho, abrangeu também
as oficinas da Emef no Porto, Sernada do Vouga, Régua, Coimbra
Figueira da Foz, Entroncamento, Lisboa e Vila Real de Santo
António, tendo por objectivo «obrigar a administração a
negociar rapidamente os novos valores salariais, que deviam estar
em vigor desde o passado dia 1 de Fevereiro», informa uma nota
da Federação dos Ferroviários.
Contra o arrastamento das negociações por parte das
administrações da Emef e Refer e do conselho de
gerência da CP, «a luta é o único caminho», defende o
Sindicato dos Ferroviários do Centro, que acusa os responsáveis
das empresas de terem «uma estratégia global» e tentarem
«impor, à semelhança do Governo, a sua "pacotada"
laboral, fazendo depender da discussão e aceitação de
"acordos globais" o evoluir das matérias
remuneratórias para 1999». Novas greves estão convocadas para
dia 29, segunda-feira.
A greve de dias 17 e 18 no Grupo Gás de Portugal foi
considerada como «um êxito» pela Fequimetal/CGTP, que aponta
uma adesão global de 85 por cento (97 por cento nos sectores
fabris).
A recusa da Antram em aceitar as reivindicações propostas pela
Festru/CGTP para o sector de transportes rodoviários de
mercadorias (onde os salários em vigoram são os acordados
em 1997) suscitou já a marcação de uma greve com início às
zero horas do dia 5 de Abril.