Acessibilidades
e transportes
carecem de uma política clara
Em matéria de acessibilidades e transportes continua a faltar uma política clara que defina os objectivos e hierarquize as prioridades de investimento, capaz de dotar o País de uma rede estruturante de vias de comunicação.
A opinião é do
deputado comunista Joaquim Matias que vai mais longe na sua
análise ao considerar que uma tal política tem de deixar de
«fazer cedências a interesses de grupos económicos e a
objectivos eleitoralistas». Estava-se num debate de urgência
suscitado pelo PSD sobre a quebra de investimento público nas
vias de comunicação.
Embora assentando que nem uma luva ao Governo PS, não foi apenas
este a ser o alvo das críticas da bancada comunista. Delas não
se livraram com idêntica acutilância os anteriores governos da
responsabilidade do PSD, a quem Joaquim Matias acusou igualmente
de não terem sido capazes de incrementar uma política
susceptível de inverter a tendência de crescimento
assimétrico, promovendo simultaneamente a coesão social e
territorial do todo nacional.
Uma política, explicou, orientada para a melhoria das
acessibilidades regionais e em particular das regiões mais
desfavorecidas, «através da priorização de infra-estruturas
de nível estruturante e de um sistema de transportes multi-modal
devidamente hierarquizado e potenciador das complementaridades
funcionais dos diferentes modos de transporte».
Em vez disso, como fez notar Joaquim Matias, assiste-se a «uma
competição sobre o número de quilómetros de auto-estrada
efectuada em cada ano por este Governo e pelo anterior», como se
isso pudesse iludir a ausência de «diferenças substanciais
entre a política do Governo PS e as opções políticas do PSD,
com ou sem CDS/PP», no domínio das vias de comunicação,
acessibilidades e transportes.
Os resultados desta política, esses, como observou o deputado do
PCP, estão bem à vista: «só o transporte individual
sobrevive». E mal, pode acrescentar-se, uma vez que, sem
alternativa, tratou de lembrar, «as vias ficaram desadequadas
para a intensidade de tráfego que têm de suportar e tornaram-se
perigosas dando origem a uma quantidade inadmissível de
acidentes nas estradas e a congestionamentos insuportáveis nos
centros urbanos e, em particular, nas áreas metropolitanas».
Quanto ao mais, não se pode propriamente dizer que o panorama
seja animador. O que ressalta do diagnóstico feito por Joaquim
Matias é, aliás, para sermos rigorosos, arrasador. Falar de
linhas ferroviárias, portos marítimos, metros de superfícies,
circulares regionais, itinerários principais, itinerários
complementares, autoestradas, etc, é falar, invariavelmente, de
projectos, programas, indecisões, adiamentos, obras em atraso.
Obra concluída, essa, talvez lá mais próximo das eleições...