Portugal e
a Reforma da PAC
Prejuízos
de que não há memória
Um «estrondoso fracasso» para o Governo português, inigualável até aos dias de hoje em negociações comunitárias, assim classificou o Grupo Parlamentar do PCP a reforma da Política Agrícola Comum (PAC) recentemente aprovada pelo Conselho de Ministros da Agricultura da União Europeia.
Para o deputado Lino
de Carvalho, que levou o assunto a plenário em declaração
política proferida na semana transacta, os resultados obtidos
são «de uma extrema gravidade para a agricultura e os
agricultores portugueses», traduzindo-se nos «maiores
prejuízos de que há memória».
Responsabillizando directamente o Governo pelos fracassos
registados em toda a linha, desde a estratégia negocial até à
definição de alianças, Lino de Carvalho alertou para o facto
de a presente reforma vir agravar o actual modelo de agricultura
comunitária em que 83 por cento dos apoios vão para os cereais,
o leite e a carne de bovino e apenas sete por cento é dirigido
para as produções mediterrâneas (vinho, azeite e
horto-frutícolas) e em que os agricultores portugueses recebem
cinco a seis vezes menos do que a média dos seus congéneres
comunitários.
Mais grave ainda, segundo o deputado do PCP, é a circunstância
de estarmos em presença de um novo quadro que não só agravará
o «fosso com as agriculturas setentrionais mais desenvolvidas»,
como, inclusivamente, com os agricultores dos restantes países
do Sul face aos resultados que a Espanha, a Itália e a Grécia
conseguiram.
Resulta assim claro para a bancada comunista que o Ministro da
Agricultura «não conseguiu atingir nenhum dos objectivos
globais» a que se tinha proposto, nem do ponto de vista da
estratégia negocial previamente definida, nem dos objectivos
sectoriais por si anunciados.
Fundamentando a sua afirmação, num registo demolidor, Lino de
Carvalho lembrou, por exemplo, no que se refere aos princípios
da estratégia nacional de negociação, que o resultado foi
«zero». Contrariamente às expectativas iniciais, denunciou,
não haverá reequilibrio dos apoios entre Estados membros, entre
regiões e entre agricultores, continuando as agriculturas mais
poderosas e os maiores agricultores a ser os principais
beneficiários da PAC, em detrimento das agriculturas
mediterrâneas, que continuarão a ser discriminadas.
Do mesmo modo que, entre os vários exemplo citados por Lino de
Carvalho, continuará bloqueada a reconversão e a reorientação
da produção, não haverá nenhum regime particular que garanta
a segurança do rendimento dos pequenos agricultores, nem se
vislumbram medidas reforçadas de apoio ao desenvolvimento rural.
No plano dos objectivos sectoriais anunciados pelo Executivo,
concretamente quanto a ajudas ou sistemas de apoio novos, as
coisas não se passaram de modo diferente. Regressado da
reunião, na mala, Capoulas dos Santos nem promessas trouxe,
ficando-se por um desconfortável «zero» ou «nada». Assim
sucedeu com as culturas aráveis, com os bovinos, com o leite,
com o vinho ou com o tomate. E nem mesmo a garantia de que
Portugal receberia 37 milhões de contos de ajudas (quando o
Ministro chegou a falar da elevação das ajudas para 300
milhões) pode servir de consolo. É que, como sublinhou Lino de
Carvalho, tal montante «não chega para compensar as quebras de
preços acordados de 20 por cento para os cereais e oleaginosas,
de 20 por cento para os bovinos e de 15 por cento para o leite».