Aproveitamento
dos recursos hídricos
Urge
vencer atrasos
Por iniciativa do Grupo Parlamentar do PCP, a sala do Senado da Assembleia da República foi palco de um importante e animado debate sobre a Convenção Luso-Espanhola para o Aproveitamento dos Recursos Hídricos, que brevemente será alvo de debate e votação em plenário.
Procurando, de forma
séria, recolher o máximo de informação sobre as vantagens da
Convenção e sobre as críticas que lhe são feitas, com o
objectivo de preparar a intervenção e o sentido de voto dos
deputados comunistas, o Grupo Parlamentar do PCP convidou cerca
de três dezenas dos mais reputados especialistas nacionais em
recursos hídricos.
Com a participação dos camaradas Luís Sá, membro da comissão
Política do PCP e dos deputados Lino de Carvalho e Pimenta Dias,
bem como de Sérgio Ribeiro, deputado no Parlamento Europeu, o
debate, a que fizemos referência na última edição do
«Avante!», prolongou-se por cerca de 4 horas com a activa
participação, entre outros, do Presidente do INAG, Engº Pedro
Serra; do Dr. Mário Baptista Coelho, consultor da Comissão
Mundial Independente para os Oceanos; Engº João Bau, presidente
da EPAL; Engº Pedro Leão de Sousa, presidente do Conselho
Directivo do Instituto Superior de Agronomia; Engº Faria
Ferreira, Conselheiro de Obras Públicas e Transportes; Profº
Dr. Bordallo e Sá, do Instituto de Ciências Médicas Abel
Salazar; Engª Luisa Tovar, do Departamento de Planeamento do
INAG; Engº Francisco Teixeira da Direcção Regional de Ambiente
do Norte; Dr. Mário Fernandes, do Instituto de Navegabilidade do
Douro; Engº Rui Godinho, vereador da Câmara Municipal de
Lisboa; Engº João Oliveira, vereador da Câmara Municipal de
Serpa; Vicente Batalha, vereador da Câmara Municipal de
Santarém.
Aprofundados ao longo do debate foram aspectos como a
oportunidade da assinatura do Acordo sem que o Governo português
dispusesse a tempo e horas de elementos fundamentais como os que
decorrem dos Planos de Bacia que ainda não estão elaborados;
questões institucionais ligadas aos organismos que vão executar
o Acordo, como a Comissão para a Aplicação e Desenvolvimento
do Convénio, que terá poderes de alteração de aspectos
substanciais ao seu conteúdo, incluindo os que vão ser votados
pela Assembleia da República, como o volume de caudais, o que se
afigura inaceitável.
Para esta questão, levantada pelos deputados comunistas, não
foi possível, aliás, obter resposta esclarecedora do Presidente
do INAG, que confessou ter sido confrontado pela primeira vez com
este problema, que reconheceu ser real.
Muito debatido foi também o regime de caudais e a ausência de
capacidade de controlo do Estado português sobre a quantidade e
a qualidade da água que nos chega de Espanha bem como o deficit
de articulação entre as matérias da Convenção e o regime das
águas costeiras e dos Oceanos.
Reconhecido foi que Portugal é um País que possui o dobro da
média comunitária por habitante de recursos hídricos
disponíveis. Por exemplo, a Espanha tem 3.000 mts3/habitante/ano
e Portugal tem 3.100 mts3/habitante/ano, e só considerando os
recursos gerados nos próprios territórios. Contando com os
caudais provenientes de Espanha as disponibilidades em Portugal
passam para 6.400 mts3/habitante/ano. Recordado foi também que
Portugal é um país de jusante, no essencial, e que essa
posição geográfica não pode deixar de ser tida em conta na
apreciação da Convenção que se aplica às bacias
hidrográficas dos rios Minho, Lima, Douro, Tejo e Guadiana.
Críticas contundentes foram produzidas a propósito, por um
lado, do enorme atraso de Portugal na regularização e
aproveitamento dos seus recursos hídricos o atraso de
Alqueva é um exemplo típico e, por outro, da ausência
de prévia informação, pelo menos à Assembleia da República,
do curso das negociações com a Espanha.
Foi no entanto opinião generalizada dos intervenientes no
colóquio que esta Convenção, apesar de muitos pontos
críticos, é um texto que vai mais além do que os acordos
anteriores negociados com a Espanha sobre a partilha dos recursos
hídricos fronteiriços.