30 anos do MDM
Mulheres pela igualdade


O MDM, Movimento Democrático de Mulheres, comemorou, na passada sexta-feira, o seu trigésimo aniversário, na Padaria do Povo, local onde o movimento foi fundado.

A sessão iniciou-se com um apontamento cultural de música de câmara, em que alunos do Conservatório Regional de Loures interpretaram duas Sonatas, uma de Haendel e outra de Wagenseil.
Durante a sessão houve diversas intervenções moderadas por Ana Conceição Marques, do Secretariado Nacional, que iniciou a conversa, citando M.ª Lamas, no 1º Congresso do MDM, com um apelo a uma sociedade mais justa, em que os portugueses se consciencializem das condições de injustiça em que muitas mulheres ainda vivem em pleno século XX.
Seguidamente, interveio uma das fundadoras do MDM, Dulce Rebelo, que percorreu a história dos 30 anos do movimento. Recordou o tempo em que protestar «era subversivo» e o tempo da oposição ao regime de Salazar, em que «um punhado de mulheres» se encontravam para decidir a orientação da sua luta. Lembrou ainda como o MDM organizava debates, colóquios e encontros para defender os direitos das mulheres e das crianças e, como várias companheiras sofreram represálias por pertencerem ao movimento, tendo sido presas ou perdendo o emprego. Dulce Rebelo invocou sobretudo dois momentos da luta do MDM: o 1º encontro do movimento a 21 de Outubro de 63 e o 1º comunicado após o fascismo, a 28 de Abril de 74. No entanto, não esqueceu também o presente em que o MDM integra vários grupos de trabalho nacionais e internacionais e, se continua a preocupar com questões da sociedade como: o emprego e desemprego das mulheres, a maternidade, a família, o alargamento da rede escolar, a interrupção voluntária da gravidez, a pobreza, a 3ª idade e a violência contra as mulheres. Dulce Rebelo terminou, apelando à unidade e à luta: «Mulheres solidárias em luta pela igualdade (…) estamos aqui em festa, em alegria, em participação unidas pelos dedos da mão».
Ao depoimento de Dulce Rebelo, seguiram-se os testemunhos de vários membros do MDM e de outras pessoas para quem o movimento foi importante. M.ª Carolina Mega, Ilda Pires e Fernanda Mateus recordaram a importância que o movimento teve no despertar das suas consciências de mulheres, do conhecimento da vida e das situações difíceis que as mulheres tinham que enfrentar. Louvaram também o empenhamento de todas as participantes que lutaram ao seu lado, mesmo as mais silenciosas. Também Irene Santos Silva, da Comissão de Mulheres da CGTP, louvou a importância do MDM, quando o seu marido, capitão de Abril foi preso, após o 25 de Novembro, e o movimento a ajudou a si e a outras mulheres a organizarem-se. M.ª Carolina Mega recordou ainda algumas situações caricatas ligadas a algumas iniciativas das comemorações do 8 de Março, tais como o ciclo de cinema dedicado às mulheres, organizado por ela no Quarteto, mas que falhou por se terem esquecido da divulgação do acontecimento.
Ana Conceição Marques deu depois a palavra a Cristina Coelho, afirmando «Falámos do passado, do presente, mas o futuro também nos pertence». Cristina Coelho mostrou-se emocionada com todos os testemunhos das outras mulheres, e como representante da nova geração do MDM, sublinhou a importância que os movimentos de mulheres ainda têm hoje, uma vez que ainda há imensas situações de injustiça e discriminação nas escolas, nos empregos e na política que vitimam a classe feminina.
A sessão contou ainda com as saudações da Vereadora do Desporto da Câmara Municipal de Lisboa, Rita Magrinho, e do Presidente da Junta de Freguesia do Santo Contestável, Lourenço Bernardino.
No final, ficou o apelo à continuação da luta das mulheres.


«Avante!» Nº 1321 - 25.Março.1999