A TALHE DE FOICE
Comunistas
A dois meses das próximas eleições para o
Parlamento Europeu, este órgão comunitário divulgou a
avaliação do trabalho realizado pelos eurodeputados ao longo de
toda a legislatura que agora termina. Os resultados que dizem
respeito aos 25 eurodeputados portugueses são bastante
significativos.
Considerados em conjunto, entre os 25 europarlamentares lusitanos
três houve que, sozinhos, produziram 33,4% de todo o trabalho
realizado.
Esses três eurodeputados são os do grupo parlamentar do Partido Comunista Português.
Considerados por
representação partidária - e no somatório da
«euroactividade» com que cada um resgatou as promessas
partidárias feitas ao eleitorado -, os 25 eurodeputados
portugueses que, durante quatro anos, habitaram o principesco
areópago da União, deram a seguinte nota aos quatro partidos
que representaram:
Um deles, o PP, com três deputados e 12% de representatividade,
limitou-se a um desempenho equivalente ao seu peso percentual no
grupo português: realizou 11,8% do trabalho apurado.
Dois outros de longe os mais poderosos -, ficaram-se muito
aquém do peso numérico e percentual que levaram para
Estrasburgo: o PS, com 10 deputados e 40% dos recursos humanos
portugueses, produziu apenas 26,3%; o PSD, com nove deputados e
36% da representação nacional, ficou-se pelos 28,4%.
Dos quatro partidos portugueses, só um excedeu largamente a
relação entre os meios de que dispunha - três deputados,
equivalentes a 12% da representação nacional - e o trabalho
realizado: 33,4% do total.
Foi o Partido Comunista Português.
Importa assinalar
que a intervenção política de cada deputado no Parlamento
Europeu está, sobretudo, dependente da sua iniciativa pessoal,
capacidade de trabalho, talento e coragem na acção, tendo como
pano de fundo algumas condicionantes, como o número dos
respectivos grupos e «famílias políticas», que lhe determinam
o maior ou o menor tempo disponível para intervenções.
Acontece que os três deputados do PCP estão inseridos no Grupo
de Esquerda do Parlamento Europeu, um dos mais pequenos com os
seus 33 deputados, o que lhes encurta significativamente os
tempos disponíveis para intervenção, ao contrário do PS que,
com os seus 10 deputados agregados a um grupo largamente
maioritário, dispõe de muito mais tempo, recursos e apoios, à
semelhança do que acontece com o PSD.
Todavia e para que conste... averiguou-se que os
três deputados do PCP, quando numericamente relacionados com os
10 do PS, produziram quatro vezes mais...
Estes foram os
resultados quantitativos da avaliação feita por Estrasburgo,
mas se olharmos para a ponderação qualitativa, o panorama
continua semelhante, como a seguir se constata.
O Parlamento Europeu atribuiu igualmente uma pontuação
qualitativa para classificar os relatórios e pareceres
considerados mais importantes. Neste parâmetro, os eurodeputados
comunistas Sérgio Ribeiro, Honório Novo e Joaquim Miranda
surgiram outra vez no topo da tabela, apenas acompanhados por
Arlindo Cunha e Carlos Pimenta, do PSD, e Barros Moura, do PS.
Ou seja: os deputados do PCP não apenas produziram um volume de
trabalho várias vezes superior ao apurado em cada um dos outros
partidos portugueses, como o realizaram na vanguarda dos índices
de qualidade estabelecidos pelo órgão legislativo comunitário.
Se acrescentarmos que este trabalho parlamentar em análise
corresponde a tudo o que os 25 eurodeputados portugueses fizeram
no Parlamento Europeu em defesa dos interesses nacionais,
obteremos com meridiana clareza quem vale o quê, na nudez destes
números vindos de Estrasburgo.
Perante isto, as celebradas «candidaturas de prestígio» às próximas eleições europeias que andam para aí a saracotear ficam reduzidas ao que realmente são: conversa. Fiada, desonesta e de chacha... Henrique Custódio