JUGOSLÁVIA
Não à agressão!


A ameaça de agressão militar da NATO contra a Jugoslávia pode concretizar-se a todo o momento. Em frontal violação do direito internacional e à revelia da própria ONU e do seu Conselho de Segurança, onde países como a China e a Rússia recusam a completa instrumentalização que os EUA lhe querem impôr. Com a colaboração da União Europeia e o envolvimento directo das grandes potências que a dominam, em primeiro lugar a Alemanha e a Grã-Bretanha, mas também a França, que acolheu e co-presidiu a farsa de Rambouillet. Perante a estranha mistura de impotência e colaboracionismo da OSCE, cujos elementos da "Missão de Verificação" no Kosovo acabam de abandonar o terreno para permitir maior liberdade de movimentos aos agressores. Com o indigno e subserviente concurso do Governo Guterres, colocando à disposição da agressão imperialista um contingente militar português.

Nunca é demais insistir que o que está em causa é particularmente sério. A Jugoslávia tem sido metódica e perfidamente atacada, desmembrada, bloqueada, ocupada e utilizada numa estratégia de tensão que visa justificar o reforço da NATO e o relançamento da corrida aos armamentos. E isto, fundamentalmente, porque não se rendeu ao diktat alemão ou norte-americano, não correu a renegar a sua história, a sua Constituição, a sua soberania nacional. As brutais ameaças que hoje pesam sobre a nova Jugoslávia (e a Sérvia sobretudo) sucedem-se porque o governo de Belgrado não abdica da sua soberania nacional, não bate palmas ao devastador avanço imperialista para Leste, nem coloca como objectivo ("democrático" e "libertador" naturalmente) a entrada para a NATO. Com todas as suas contradições e factores de inquietação (a brutal ingerência nos assuntos internos da Jugoslávia já possibilitou a participação no governo de Belgrado de forças nacionalistas profundamente reaccionárias), a resistência ao ultimato imperialista na sua versão NATO/Rambouillet contam com indiscutível apoio popular. O que não é manifestamente o que se passa na Polónia, Hungria e sobretudo República Checa com a entrada destes países na NATO. Para os aspirantes a senhores do mundo, trata-se de um desafio inadmissível.

É particularmente inquietante que tudo isto se passe sem que da esfera do poder de um qualquer país da União Europeia se erga uma voz forte , uma só que seja, a apontar com seriedade para os perigos e a dizer não ao diktat norte-americano atlantista, ainda que sejam evidentes os propósitos hegemonistas dos EUA em relação à Europa. Lamentavelmente, também em matéria de questões de Segurança e Defesa, a "onda rosa" que levou os sociais-democratas para o governo em 13 dos 15 países da U.E. não se traduziu em qualquer real modificação das políticas da direita assumida, entretanto condenadas nas urnas. É mesmo o contrário que se verifica em importantes aspectos, com o projectado relançamento da NATO por ocasião do seu 50º aniversário ou com a própria militarização em curso da U.E.. É também significativo que seja precisamente com um governo social-democrata em Bona que, pela primeira vez desde a 2ª guerra mundial, tanques alemães se preparam para invadir um país soberano, país onde precisamente a bota nazi esmagara a soberania nacional e violentara o seu povo de forma brutal.

Perante uma tão perigosa situação, onde se banaliza a própria ameaça do uso da força que já por si é uma violação grosseira do direito internacional, é necessário fazer quanto estiver ao nosso alcance para desmascarar os reais objectivos dos EUA e da NATO nos Balcãs, impedir a agressão militar contra a Jugoslávia ou a instauração no Kosovo (à semelhança da Bósnia) de um "protectorado" apoiado numa poderosa força de ocupação. E em particular intensificar a luta contra a participação de Portugal na estratégia agressiva do imperialismo.Albano Nunes


«Avante!» Nº 1321 - 25.Março.1999