Rogério
Ribeiro expõe ilustrações do livro de Álvaro Cunhal
«Até Amanhã, Camaradas»
Uma das exposições paralelas da 12ª Bienal de Artes Plásticas da Festa incluirá as ilustrações da autoria do pintor Rogério Ribeiro para o livro de Manuel Tiago, pseudónimo de Álvaro Cunhal, «Até Amanhã Camaradas».
As obras que estão patentes ao público da Festa foram recentemente oferecidas pelo autor ao PCP e estiveram expostas pela primeira vez no Espaço Vitória onde, em 13 de Abril passado, se realizou um debate com a participação de Álvaro Cunhal e Rogério Ribeiro, entre outros dirigentes políticos, artistas e personalidades da cultura portuguesa.
Na ocasião,
Rogério Ribeiro explicou que o seu encontro com o texto de
Manuel Tiago se deu em 1975: «durante um ano fui-o lendo,
riscando em sublinhado as imagens que me surgiram e numa segunda
leitura outras me aguardavam nítidas, claras, imediatas ali como
imagens reais. Era quase um transporte, uma viagem que ao longo
da noite acompanhado com as estrelas me transportava ao âmago do
mundo».
«Havia encontros com a própria, minha própria intimidade.
Havia rostos de gente que eu conhecia, havia gestos que pertencem
a todos, havia reuniões onde alguma vez se tinha estado, havia
em suma um terreno lavrado ao gosto da nossa vaidade simples, ao
gosto do nosso imenso contentamento».
«Quem não enfiou um papel debaixo das portas como quem deposita
a força da razão? Quem não ouviu ou soube ou sofreu as
histórias tremendas que se viveram? As esperas, a ansiedade, as
missões, o rosto da PIDE em cada perfil. A expectativa, o tempo,
uma imensa e por vezes dolorosa paciência».
«Tudo isso voou rente às folhas onde ia acrescentando imagens
sem destino».
As ilustrações
demoraram-lhe um ano de trabalho, «fazendo-o para nada.
Realizando-as por si mesmas, talvez pelo gosto, talvez por
necessidade... Era um esforço que me era preciso, que me era
necessário», mas que não tinha «propósitos ou destino
fixado», explica o artista.
De tal forma, afirma, que «em determinado momento do trabalho,
pensando que seria um meio apropriado de grande divulgação, uma
linguagem apetecível a uma vasto público, tentei o livro em
banda desenhada. Ao contrário do resto parei».
A razão, explica, é que «o mundo deste livro não tem
personagens, cada um é uma personagem e são atravessadas pelos
acontecimentos. Esta riqueza está no partido e pareceu-me mais
seguro e talvez mais certo assim».
«O livro não fala de quaisquer homens ou mulheres, fala da luta
do Partido Comunista Português e estas imagens ambicionam serem
também de algum mundo um relato dessa luta. Testemunho a somar
ao de tantos camaradas neste caminho ambicioso, fecundo e
fraterno, a rolar sobre os anos, com uma inequívoca
esperança».