Demanda
do povo de Cuba
contra o governo dos EUA (4)
As actividades do CORU, organização que sob a batuta da CIA unificou os grupos terroristas dedicados às agressões contra a Revolução cubana, não terminaram com a prisão dos operacionais que fizeram explodir em pleno voo o avião civil das linhas aéreas cubanas, de que se deu conta na edição da semana passada. A lista das suas acções é longa e sangrenta, como revela a continuação da Demanda contra os EUA. A agressão norte-americana contra Cuba, que vem até aos dias de hoje, passa igualmente pela ocupação da base de Guantánamo e pelas inúmeras tentativas de assassinar Fidel Castro.
Esse mesmo grupo
unificado pela CIA levou a cabo, entre outras, as seguintes
acções:
6 de Abril: Dois barcos de pesca, Ferro-119 e Ferro-123,
são atacados por lanchas piratas provenientes da Florida, do que
resulta a morte do pescador Bienvenido Mauriz e graves prejuízos
às embarcações;
22 de Abril: Uma bomba é colocada na embaixada cubana em
Portugal, e da explosão resulta a morte dos funcionários
diplomáticos Adriana Corcho Callejas e Efrén Monteagudo
Rodríguez, ferimentos graves noutros funcionários e
destruição total do local;
5 de Junho: A missão de Cuba na ONU é alvo de um
atentado com explosivos, o que provoca consideráveis prejuízos
materiais;
9 de Julho: Uma bomba explode no contentor com a bagagem
do voo da Cubana de Aviación, no aeroporto de Kingston, Jamaica,
pouco antes de ser transbordada, ou seja, por um triz não
explodiu em pleno voo do avião da Cubana que transportaria
aquela bagagem.
10 de Julho: Uma bomba explode nos escritórios da
Bristish West Indies em Barbados, que representava os interesses
da Cubana de Aviación nesse país;
24 de Julho: Um técnico do Instituto Nacional da Pesca,
Artagnán Díaz Díaz, é assassinado numa tentativa de sequestro
do cônsul cubano na cidade mexicana de Mérida;
9 de Agosto: Dois funcionários da embaixada cubana na
Argentina, Crescencio Galañena Hernández e Jesús Cejas Arias,
são sequestrados e nunca mais se teve notícias deles;
18 de Agosto: Uma bomba explode nos escritórios da Cubana
de Aviación no Panamá, provocando consideráveis estragos.
Os grupos que
integravam o CORU faziam declarações públicas nos Estados
Unidos, reivindicando cada uma destas acções. Em Agosto de
1976, foi publicado num jornal editado em Miami um relatório
de guerra onde, depois de referirem como fizeram explodir um
automóvel em frente da embaixada de Cuba na Colômbia e
destruíram os escritórios da Air Panamá, os cabecilhas do CORU
declaravam textualmente: «Em breve faremos explodir aviões em
pleno voo». Aproximadamente seis semanas depois, explode o
avião cubano que fez escala em Barbados.
Presos Orlando Bosch e Luis Posada Carriles, e submetidos a um
longo e difícil processo judicial na Venezuela, juntamente com
os dois mercenários venezuelanos que sob as suas ordens
colocaram a bomba no DC-8 da Cubana de Aviación, Posada Carriles
é resgatado pela CIA em Agosto de 1985, através da
chamada Fundação Nacional Cubano-Americana, da prisão de
máxima segurança de San Juan de los Morros, e transferido em
poucas horas para El Salvador, onde é posto logo a trabalhar
numa das operações mais secretas, delicadas e comprometedoras
de todas as realizadas pelo Governo dos Estados Unidos: o famoso
«Irãogate» que causou um enorme escândalo político nesse
país. Posada Carriles era praticamente o responsável dos
armazéns e da distribuição de armas para a guerra suja na
Nicarágua, mandatado directamente pela Casa Branca. Jamais
assumira uma responsabilidade tão grande nos seus 25 anos ao
serviço do Governo dos Estados Unidos.
Orlando Bosch, que na altura do revoltante crime era o chefe da
operação, pois ocupava uma posição hierárquica superior a
Posada Carriles na organização terrorista unificada pela CIA,
foi cinicamente absolvido por um tribunal corrupto e impudico.
Autor de inúmeras acções terroristas contra Cuba, é hoje
hóspede ilustre dos Estados Unidos.
Outra acção terrorista dolorosa e grosseira teve lugar após o
brutal crime de Barbados. Em 11 de Setembro de 1980, foi
assassinado em pleno dia, numa populosa zona de Nova Iorque, o
diplomata cubano Félix García Rodríguez. O crime foi cometido
por um comando da organização terrorista Omega-7, cuja missão
era matar aquele diplomata e mais três funcionários da
representação cubana nas Nações Unidas.
As mudanças registadas a nível internacional fizeram com que
também se alterassem as formas de actuação do que
objectivamente constituía o terrorismo de Estado contra a
República de Cuba. Os sectores mais reaccionários no seio dos
emigrantes cubanos nos Estados Unidos intensificaram a actividade
terrorista no final da administração do presidente George Bush,
do Partido Republicano, o que se traduziu em várias acções de
envergadura durante a primeira e segunda administrações do
democrata William Clinton.
De 1992 até à data, como foi plenamente demonstrado nos
julgamentos aos terroristas Raúl Ernesto Cruz León e Otto René
Rodríguez Llerena, que em 1997 colocaram sete bombas em
hotéis da capital, a Fundação Nacional Cubana-Americana,
financiadora proeminente de campanhas políticas presidenciais e
de um grupo de conhecidos legisladores norte-americanos, planeou,
organizou e financiou impunemente nesse país esta campanha
terrorista contra Cuba. A Fundação tem actuado não só a
partir do próprio território norte-americano, utilizando
mercenários de origem cubana residentes nos Estados Unidos, mas
também na América Central, contratando mercenários
centro-americanos, às ordens do infelizmente célebre terrorista
Luis Posada Carriles.
Estas últimas acções criminiosas contra Cuba a partir da
América Central, concebidas, organizadas e financiadas pelos
chefes máximos de uma mafia cubano-americana radicada nos
Estados Unidos, realizam-se incontestavelmente com o conhecimento
e a tolerância das autoridades norte-americanas, para as quais
sempre trabalhou Posada Carriles, e que jamais romperam o
vínculo com ele.
Além disso, o Estado norte-americano, como parte da sua
estratégia política, atiçou a emigração ilegal para o seu
território, não só como instrumento de luta ideológica e das
suas campanhas de descrédito contra Cuba durante 40 anos, mas
também para promover a indisciplina e a instabilidade social.
Isto trouxe como consequência a prática de delitos, convencidos
que estavam os seus autores do acolhimento e protecção que
receberiam nos Estados Unidos, depois de atingirem o objectivo
fundamental de abandonarem o solo cubano. Não acontecia o mesmo
com outros cidadãos do mundo que tentassem emigrar para esse
país sem prévia obtenção de visto.
Foram múltiplos os incidentes provocados por essa cínica
política, mas ficou para a história o dia 9 de Janeiro de
1992, data em que foram assassinados os combatentes da
Polícia Nacional Revolucionária, Yuri Gómez Rivero e Rolando
Pérez Quintosa; Orosmán Dueñas Valero, elemento das Tropas da
Guarda Costeira, e o segurança Rafael Guevara Borges, empregado
do Acampamento de Pioneiros José Martí, em Havana, ao serem
atacados por um grupo de delinquentes, dirigidos por Luis Miguel
Almeida Pérez, que pretendiam sequestrar uma embarcação para
abandonar ilegalmente o país.
Do mesmo modo, em 4 de Agosto de 1994, foi assassinado o
combatente Gabriel Lamouth Caballero, da Polícia Nacional
Revolucionária, por indivíduos anti-sociais que tentaram sair
ilegalmente do país pelo porto de Havana; em 8 de Agosto de
1994 foi assassinado o tenente da marinha Roberto Aguilar
Reyes, ao ser sequestrado no porto de Mariel, em Havana, um navio
auxiliar da Marinha de Guerra Revolucionária, por Leonel Macías
González que conseguiu fugir para os Estados Unidos, onde foi
recebido como um herói e goza de total impunidade, após o
cobarde assassinato.
Em consequência das acções terroristas promovidas pelo Governo
dos Estados Unidos contra o nosso país, durante 40 anos, a
partir da vitória da Revolução até hoje, 234 pessoas
inocentes perderam a vida ou ficaram com incapacidades físicas,
o que provamos com os documentos que anexamos a esta demanda, com
os números 14, 15, 16, 17, 18 e 19.
Para termos uma ideia da intensidade atingida em dado momento
pelas actividades terroristas contra Cuba, destacamos que em
apenas 14 meses, desde 30 de Novembro de 1961, data em que
é aprovada pelo presidente Kennedy a entrada em vigor do
denominado «Projecto Cuba», até ao mês de Janeiro de 1963,
se efectuaram 5.780 acções terroristas contra Cuba, das quais
716 constituíram sabotagens de envergadura contra instalações
industriais.
Merecem particular destaque - enquanto testemunho da total falta
de escrúpulos, da imoralidade e da incapacidade de respeitar as
normas civilizadas da prática política por parte dos Estados
Unidos - os planos concebidos pela direcção desse país para
assassinar o dirigente da Revolução cubana, inicialmente na sua
condição de primeiro-ministro, desde 16 de Fevereiro de 1959
até 3 de Dezembro de 1976, e posteriormente como chefe de
Estado.
Em 11 de Dezembro de 1959, o coronel J. C. King, chefe da
divisão da CIA encarregada dos assuntos do hemisfério
ocidental, redigiu um memorando secreto endereçado ao director
da Agência, Allen Dulles, onde afirmava: «Deve considerar-se
seriamente a eliminação de Fidel Castro. Nenhum dos seus mais
próximos, como o seu irmão Raúl ou o seu companheiro Che
Guevara, têm a mesma influência carismática sobre as massas.
Muitas pessoas informadas consideram que o desaparecimento de
Fidel aceleraria enormemente a queda do actual governo».
A partir desse momento, os órgãos da Segurança do Estado
cubanos tomaram conhecimento, investigaram, descobriram ou
neutralizaram indícios claros, planos concebidos ou
minuciosamente traçados, em fase avançada de organização e
execução ou prestes a serem executados, incluindo os que não
se realizaram por cobardia dos que chegaram a ter o seu objectivo
a poucos metros, de um total de 637 conspirações contra a vida
do presidente Fidel Castro. Resta saber qual o número das que
jamais foram descobertas.
O Senado dos Estados Unidos investigou e comprovou pelo menos
oito dessas conspirações, apenas 1,25 por cento das que foram
organizadas directamente pela CIA ou induzidas pela hostilidade,
propaganda, tolerância cúmplice e acções do Governo dos
Estados Unidos contra Cuba durante 40 anos.
Sexto: A base naval de Guanánamo, estabelecida em Cuba
há quase 100 anos, mediante um convénio confuso e perfidamente
redigido, em virtude do qual se aluga aos EUA o território
ocupado pela base «durante o tempo que precisarem dele», sem
uma cláusula que garantisse o pleno direito da nossa soberania
sobre o dito território, foi usada pelos EUA como um instrumento
da sua política de agressão contra o nosso país.
Aquando da vitória da Revolução, as autoridades militares e os
serviços especiais dos Estados Unidos protegeram nesse enclave
centenas de assassinos e parceiros do regime de Batista.
A base tornou-se num activo centro de subversão e provocações
contra o nosso país.
Numerosos mercenários, julgados à revelia, fugidos da justiça
cubana pelos seus crimes e delitos, encontraram lá refúgio e
impunidade.
Numerosas pessoas, incentivadas pelo privilégio de entrar sem
visto nos Estados Unidos, decidiram abandonar ilegalmente o país
através dessa instituição militar, mantida à força em Cuba.
A base tem sido abrigo seguro para os vis traidores que
conduziram para ali aviões e embarcações sequestradas, sem que
os delinquentes, em nenhum dos casos, fossem extraditados,
tornando-se essa uma prática habitual depois do triunfo da
Revolução.
No artigo nº 2 do convénio, assinado em 16 de Fevereiro de
1903, concede-se um direito, sob determinadas condições,
que os Estados Unidos aceitaram e se comprometeram a cumprir:
«Fazer tudo quanto for necessário para dispor destes lugares
exclusivamente como estações de carvão ou navais e não para
outro objectivo».
O artigo nº 4 do Convénio Complementar, de 2 de Julho de
1903, também assinado pelos Governos de Cuba e dos Estados
Unidos, precisa claramente: «Os foragidos da justiça, culpados
de delitos ou faltas, sujeitos à jurisdição das leis cubanas e
refugiados nesse território, serão entregues pelas autoridades
dos Estados Unidos, quando o exigirem as autoridades cubanas
devidamente autorizadas».
É injustificado que uma base militar dispendiosa, mantida a
expensas do orçamento e dos contribuintes desses país, sem
utilidade alguma para a segurança nacional dos Estados Unidos,
esteja ocupando uma parte valiosa do nosso território, para
humilhar, fustigar e agredir o povo cubano, pois essa tem sido a
sua missão nas últimas décadas. Foi particularmente
arbitrário e abusivo o facto de manter esse enclave militar
contra a vontade do nosso povo, ainda mais quando os Estados
Unidos já desmantelaram dezenas de instalações no seu
território e no estrangeiro para reduzirem o seu orçamento
militar. É por demais evidente que, 96 anos depois do
compromisso assumido por ambas as partes, no artigo 1º do
Convénio de Fevereiro de 1903, assinado pelo Governo dos
Estados Unidos com um Governo fraco, submetido e imprevidente,
que lhe permitiu ocupar essa terra «todo o tempo que
precisarem», há já muito tempo que não precisam dela para
nada, a não ser para insistir na sua política agressiva contra
Cuba, direito esse que não está incluído nem sequer nesse
péssimo convénio. Não é justo que uma das melhores baías de
Cuba esteja dedicada a isso.