Ricos
e
PERIGOSOS
"A desigualdade tem vindo a crescer em muitos países desde o início dos anos 80. (...) Os países da Europa do Leste e CEI [ex-Urss] registaram alguns dos maiores aumentos de sempre no índice de Gini, a medida para a desigualdade de rendimento. Os países da OCDE também registaram grandes aumentos na desigualdade, depois dos anos 80 especialmente a Suécia, Reino Unido e EUA. A desigualdade entre países também aumentou. O hiato de rendimento entre o quinto da população mundial que vive nos países mais ricos e o quinto que vive nos países mais pobres era de 74 para 1 em 1997, acima de 60 para 1 em 1990 e de 30 para 1 em 1960". Esta citação é do Relatório do Desenvolvimento Humano 1999, das Nações Unidas (PNUD). É uma faceta do que tem significado para a Humanidade o avanço do capitalismo à escala mundial nos últimos 20 anos.
Com base em dados da revista norte-americana Forbes, o do PNUD cita outros aspectos chocantes: os activos das 3 (três!) pessoas mais ricas do mundo superam o PNB conjunto de todos os países menos desenvolvidos; os activos das 200 pessoas ultrapassam o rendimento conjunto de 41% da população mundial; a riqueza líquida dessas mesmas 200 pessoas mais ricas do mundo aumentou, entre 1994 e 1998, à taxa de 500 dólares por segundo; e bastava uma contribuição anual de 1% da riqueza desses 200 maiores multimilionários para prover o acesso universal à educação primária. O Prof. Wolff da Universidade de Nova Iorque calculou que a riqueza do maior desses 200 multimilionários (William Gates, o patrão da Microsoft) excedia a riqueza total dos 106 milhões de americanos mais pobres (40% da população do país). E em 1998, a Childrens Defense Fund, organização norte-americana para a infância, divulgava que, segundo as estatísticas oficiais norte-americanas, dos 70 milhões de crianças nos EUA, 14 milhões viviam na pobreza; quase 12 milhões não tinham acesso à assistência médica; 2 milhões e 600 mil viviam em condições de "extrema pobreza"; e 4 milhões de crianças com menos de 12 anos passavam fome. (Liberazione, 6.5.98). Isto, no país mais rico do mundo. Entre as 200 pessoas mais ricas, contava-se Belmiro de Azevedo. Que, longe de contribuir para a educação primária, está a ver a sua expansão na América Latina subsidiada com o nosso dinheiro de contribuintes, pela mão socialista de Guterres e Pina Moura. Para maior glória dos seus lucros pessoais.
Mas estes números não descrevem toda a realidade. Não reflectem aquilo que, não sendo facilmente quantificável, nem por isso deixa de ser componente essencial da vida de milhões de seres humanos: os cada vez maiores ritmos de trabalho e de exploração; o desemprego; a insegurança cada vez maior de emprego, de condições de trabalho, de reformas, de férias; a destruição da vida familiar e social que daí resulta; o alastramento da marginalidade, da droga, da criminalidade que acompanha tudo isto; a catástrofe para países e regiões inteiras do globo.
E a acrescentar a tudo isto, a guerra. Longe
vão os tempos em que "todos queriam a paz". Agora, os
nossos dirigentes pregam a guerra. E fazem-na. Sejam eles
reaccionários assumidos, liberais,
democratas-cristãos, social-democratas
(de direita ou de esquerda). É o capitalismo em todo
o seu esplendor. À procura de alargar o seu domínio imperial a
todo o planeta. Mas também consciente de que as desigualdades e
injustiças crescentes têm em si o germe da revolta e luta
crescente dos trabalhadores e povos que delas são vítimas. E
para quantos estejam a torcer o nariz perante o
sectarismo ou panfletarismo do que acaba
de ser dito, aqui fica a mesma ideia, expressa por um defensor da
outra parte, o colunista do New York Times, Thomas
Friedman, que 4 dias após o início da agressão imperial nos
Balcãs (28.3.99) escrevia: "Para que a globalização
funcione, a América não pode ter medo de agir como a
todo-poderosa superpotência que na realidade é. A mão oculta
do mercado nunca funcionará sem o punho oculto. O
McDonalds não pode prosperar sem a McDonnell Douglas,
fabricante dos [aviões de combate] F-15. E o punho oculto que
mantem o mundo seguro para as tecnologias de Silicon Valley
chama-se Exército, Força Aérea, Marinha e Fuzileiros [Marines]
dos Estados Unidos". Estão a ver como o mercado
gosta do Estado? Jorge Cadima