Lei de Bases da
Segurança Social
Por
um sistema moderno e solidário
O Parlamento aprovou, faz hoje oito dias, na generalidade, cinco diplomas sobre a Lei de Bases da Segurança Social. A opção, em debate na especialidade, está agora nas mãos do PS: ou escolhe um projecto velho e conservador, aliando-se à direita; ou converge no sentido do projecto moderno e solidário preconizado pelo PCP.
Esta, bem se pode dizer, foi a dicotomia que marcou um debate
onde as posições estavam desde há muito definidas. De um lado,
tendo na bancada comunista o seu principal defensor, um sistema
público de segurança social de cariz universalista, solidário,
financeiramente sustentado, a pensar nos que toda a vida
trabalharam e produziram riqueza, onde o Estado não se demita
das suas responsabilidades; do outro, inspirado numa matriz
neoliberal, sob o pretexto da «liberdade de escolha», a
privatização do sistema ou de parte dele, canalizando os fundos
para sociedades financeiras com vista à sua aplicação nos
mercados de capitais e bolsista.
É esta solução que a bancada comunista rejeita
peremptoriamente, recusando, como afirmou Lino de Carvalho,
qualquer tese que conduzisse a «pôr o dinheiro dos
trabalhadores ao serviço dos interesses leoninos dos mercados
financeiros», mesmo quando tais «opções são envolvidas no
manto diáfono de discursos populistas».
Para isso apontam os projectos dos partidos de direita, quer do
CDS/PP quer do PSD, que chegam ao despudor de propor a criação
de um «Fundo de Garantia» para o caso de incumprimento por
parte das sociedades privadas gestoras de fundos de pensões. Por
outras palavras, sabendo dos riscos de comporta um tal sistema,
CDS/PP e PSD propõem que enquanto recolherem mais-valias pelos
investimentos na bolsa, o lucro vá para aquelas sociedades.
Quando houver prejuízos, então, será o Estado a assegurar os
fundos de pensões através do referido «Fundo de Garantia», ou
seja, com o dinheiro dos portugueses contribuintes.
Para Lino de Carvalho resulta claro, pois, que o essencial das
propostas e objectivos do CDS/PP e do PSD se resume a «reduzir
drasticamente o Sistema Público, privatizar os lucros,
socializar os prejuízos».
A encruzilhada do PS
Apesar de alguma
evolução no seu discurso, indiciando aparentemente sinais de
reconhecimento quanto às preocupações manifestadas pelo PCP, o
Governo não abandonou por completo a ideia da concretização do
tecto contributivo ou plafonamento, defendida pelo CDS/PP e pelo
PSD.
Tal tese, fortemente criticada pelo deputado comunista Lino de
Carvalho, conduziria à descapitalização do Sistema Público e
à criação de dois sistema de Segurança Social: «um, para os
ricos, o dos fundos de pensões; outro, assistencialista, de
mínimos, que ficava no Sistema Público».
Verberada na proposta do Governo pela bancada comunista foi ainda
uma segunda questão, assumida por Lino de Carvalho como
«divergência central», a qual se prende com a consideração
da possibilidade dos «recursos económicos dos agregados
familiares» serem ponderados para avaliação do montante das
prestações substitutivas dos rendimentos, mais concretamente do
montante das pensões de reforma ou do subsídio de desemprego.
«A concretizar-se este princípio seriam os trabalhadores
assalariados os penalizados», advertiu o deputado do PCP, uma
vez que, observou, «são estes os únicos que vêem no âmbito
do nosso actual sistema fiscal a sua declaração de rendimentos
controlada ao tostão».
No projecto de lei do BE, em que dois terços são uma cópia do
projecto comunista, não foi esta parte, por si considerada
«obviamente boa» que suscitou dúvidas a Lino de Carvalho, que
interveio no debate em nome do Grupo Parlamentar do PCP. A que
mereceu «a maior das reservas» foi a proposta do BE que visa
resolver o desemprego de longa duração antecipando a idade de
reforma para os trabalhadores nessas condições. «É uma
proposta há muito reivindicada pelo patronato mas também desde
sempre recusada pelo movimento sindical», sublinhou Lino de
Carvalho, antes de frisar que «o desemprego não se resolve
enviando para a reforma trabalhadores em plena idade activa, com
pleno uso das suas faculdades de trabalho».
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Garantir direitos
O Projecto de Lei do
PCP assenta, nas suas linhas essenciais, no objectivo de
reforçar e apoiar o Sistema Público de Segurança Social,
baseado no principio da solidariedade entre gerações, e
enquanto garante de direitos sociais fundamentais como a
protecção dos cidadãos na doença, na velhice, na invalidez,
na maternidade, bem como no desemprego e em todas as outras
situações de falta ou diminuição de meios de subsistência ou
de capacidade para o trabalho.
Nesse sentido, como salientou no debate o deputado Lino de
Carvalho, é defendido o primado da responsabilidade e da
dimensão universal do sector público, sem ambiguidades, ao
serviço dos cidadãos. Garantidos são ainda os direitos
adquiridos e em formação de todos os
beneficiários/contribuintes do sistema tanto das actuais como
das futuras gerações, propondo-se, simultaneamente, a criação
de condições para a melhoria das prestações sociais, em
particular das pensões de reforma de velhice e invalidez
aproximando as mínimas do salário mínimo nacional.
O reforço e renovação do sistema público de segurança social
e do seu financiamento, de modo a garantir a sua
sustentabilidade, hoje e no futuro, constitui outra das traves
mestras em que assenta o projecto comunista.