Anticastristas de Miami ameaçam
recorrer a todos os meios para impedir Elián de voltar a Cuba
e acusam Clinton de trair a causa cubana
Sequestro de Elían
à beira do fim



Os EUA reconheceram que Elián González deve ser entregue à custódia do pai, a quem concederam visto para entrar no país, mas o processo ainda não terminou.


O sequestro do menino cubano que em Novembro passado naufragou nas águas de Miami parece estar finalmente a chegar ao fim. No início desta semana o governo norte-americano tomou a única decisão conforme com a legislação nacional e internacional e retirou a custódia temporária de Elián González ao tio-avô de Miami, reconhecendo os direitos do pai.
Reposta a legalidade e concedidos os vistos à pequena delegação cubana que acompanhará Juan Miguel González no resgate do filho, dir-se-ia que a degradante exploração de uma criança na campanha norte-americana contra Cuba tinha terminado, mas na verdade a situação é mais complexa. À hora do encerramento desta edição o governo e os advogados dos familiares de Elián em Miami negociavam ainda «como e quando» seria feita a entrega do menino, ao mesmo tempo que os advogados recorriam da decisão e encaravam a possibilidade de seguir uma nova estratégia, transferindo o caso para os Tribunais de Família a fim de ser ali determinada a questão da custódia. Em qualquer dos casos, a decisão final arrastar-se-á previsivelmente por mais algum tempo.
Para agravar esta situação, a mafia cubana de Miami ameaça lançar mão de todos os meios ao seu alcance para impedir que Elián deixe a casa do tio-avô. Depois do presidente da cidade ter garantido a semana passada que a polícia local não cooperará com a federal caso seja necessário recorrer à força para fazer cumprir a decisão judicial, os radicais cubanos prometem formar um cordão humano em torno da casa onde se encontra a criança, como de resto fizeram no início da semana logo que se soube da decisão do governo norte-americano.


Questões em aberto

A ministra da Justiça, Janet Reno, fez entretanto saber que a entrega de Elián ao pai deverá ser feita de molde a não traumatizar a criança, pelo que se procuram agora soluções para o verdadeiro imbróglio criado desde que o caso foi transformado em mais uma arma de arremesso contra Cuba. Uma das possibilidades é encontrar um local neutro para a entrega, o que não resolve o problema de fundo, ou seja, a retirada do menino da casa do tio-avô. De referir que os familiares de Elían radicados nos EUA já nem sequer o deixam ir à escola, o que agrava ainda mais o sequestro, com receio, dizem, que seja «sequestrado» pelas autoridades.
Como se tudo isto fosse pouco, acresce ainda que está por resolver onde permanecerão Juan Miguel González e as cinco pessoas que o acompanham aos EUA (a actual mulher e o filho bébé, um pediatra, a professora cubana de Elían e um primo deste). A proposta cubana é de que todos fiquem instalados na residência do responsável de negócios cubano em Washington e de outros diplomatas, mas a questão estava ainda por resolver no fecho desta edição.
Enquanto nos EUA a teia de conivências e pressões levanta todos os obstáculos possíveis e imaginários para impedir a reposição da legalidade neste caso verdadeiramente escandaloso, em Cuba continuam as mega manifestações contra a prepotência norte-americana e de apoio a Juan Miguel González, cujo único objectivo, como afirmou esta semana à imprensa, é pôr termo ao pesadelo e levar o filho para casa sem transformar o desfecho deste lamentável caso num show à americana.


«Avante!» Nº 1375 - 6.Abril.2000