Plágios bons, plágios maus

José Casanova

A Lusa des­co­briu e di­vulgou que uma cró­nica as­si­nada por Clara Pinto Cor­reia (CPC) e pu­bli­cada na re­vista Visão, era um plágio: «96 das 106 li­nhas do texto» eram «ri­go­ro­sa­mente iguais (...) frase por frase, pa­rá­grafo por pa­rá­grafo», a um texto pu­bli­cado numa re­vista norte-ame­ri­cana. Os jor­nais, pra­ti­ca­mente todos, no­ti­ci­aram. O Pú­blico foi ouvir a cro­nista e in­formou-nos que, se­gundo ela, tra­tara-se de uma «dis­tracção» - «dis­tracção» que, pelos vistos, se re­petiu já que, logo a se­guir, como in­forma o mesmo Pú­blico, al­guém des­co­briu se­gunda cró­nica pla­giada. Os jor­nais, pra­ti­ca­mente todos, vol­taram a no­ti­ciar, a Visão cessou a co­la­bo­ração com a, di­gamos assim cro­nista, e uma edi­tora que se pre­pa­rava para lançar um vo­lume de cró­nicas (su­pos­ta­mente) es­critas por CPC sus­pendeu a pu­bli­cação do livro.

Esta re­acção es­pa­lha­fa­tosa dos vá­rios jor­nais sur­pre­ende. Quanto mais não seja porque, como muito bem sa­bemos, em ma­téria de textos de opi­nião todos eles estão pe­jados de ideias, con­clu­sões e apre­ci­a­ções pla­gi­adas. Ou não?

Tenho para mim que estas setas contra CPC de­correm de rai­va­zi­nhas e in­vejas pelo es­paço e pelo tempo que lhe é con­ce­dido nos média, onde ela pas­seia os seus múl­ti­plos ta­lentos, exi­bindo sor­risos e olhares, pernas e peitos, prosas e sa­beres, es­critas e falas.

Aqui che­gado, não posso deixar de lem­brar que, há tempos, um co­la­bo­rador re­gular do Pú­blico – Fran­cisco Louçã (também ele, como CPC, ha­bitué na exi­bição me­diá­tica de múl­ti­plos ta­lentos, su­blinhe-se) – cer­ta­mente por efeito de «dis­tracção» se­me­lhante à de CPC, as­sinou um ar­tigo que, no es­sen­cial, mais não era do que a tra­dução de um texto de Chous­so­dovsky – facto para o qual se chamou a atenção aqui no Avante! mas que, na­tu­ral­mente, foi si­len­ciado em toda a res­tante co­mu­ni­cação so­cial, Pú­blico in­cluído... talvez por ali se con­si­derar que há plá­gios bons (os que à Casa in­te­ressam) e há plá­gios maus (todos os ou­tros). Ora, Louçã é di­ri­gente do Bloco de Es­querda e, por isso e en­quanto tal, in­to­cável na co­mu­ni­cação so­cial do­mi­nante a qual, como todos os dias vemos, trata o BE com ca­ri­nhos, en­levos e des­velos raros e o enche de mimos como o pai ba­bado ao filho único che­gado já em idade avan­çada.

É certo que, por vezes, CPC se banha nas mo­dernas águas blo­quistas... mas não passa de uma prin­ci­pi­ante, de uma sim­ples apoi­ante de quem nin­guém se lembra en­quanto tal. Por isso Louçã pode pla­giar e ela não.



Mais artigos de: Opinião

Paremos as guerras!

Aquilo que durante muitos anos era afirmado apenas pelas forças de esquerda mais consequentes, está hoje mais claro para milhões de seres humanos: o imperialismo norte-americano (que afinal, sempre existe...!) procura aproveitar as circunstâncias históricas criadas pela derrocada do...

Não contem com eles

A nuvem que por breve período ensombrou a excelente coabitação entre Jorge Sampaio e Durão Barroso dissipou-se. Segundo o «Expresso» da semana passada, a questão da cedência da Base das Lajes aos EUA, em caso de ataque ao Iraque, foi sanada com um acordo de...

«Descrispação» e asneira

Não sei o que pensam os línguístas do neologismo «descrispação» que há dois dias me espantou, escrito em letra de forma, para definir o estado das relações entre o Governo PSD-PP e o PS, em fase de «sossego». Mas se a palavra é...

Desenvolvimentos

Vários e inesperados desenvolvimentos vieram colocar a administração norte-americana de George W. Bush numa situação delicada, apesar do estilo de terraplanagem com que a sua política se tornou famosa por esse mundo. Os factos mais relevantes que estão sobre a mesa...