Listas Unitárias concorrem à direcção dos bancários

«Defendemos a saída da UGT»

Com as elei­ções mar­cadas para 10 de Abril, as Listas Uni­tá­rias voltam a con­correr à di­recção do Sin­di­cato dos Ban­cá­rios do Sul e Ilhas com a con­vicção de que apenas a saída da UGT po­derá ga­rantir aos tra­ba­lha­dores do sector a di­recção ac­tiva e rei­vin­di­ca­tiva de que tanto pre­cisam.

Em fase final de con­cepção das listas para a di­recção do Sin­di­cato dos Ban­cá­rios do Sul e Ilhas (SBSI), as Listas Uni­tá­rias voltam a afirmar-se como a al­ter­na­tiva cre­dível ao «sin­di­ca­lismo re­for­mista» da ac­tual di­recção, com­posta pelas ten­dên­cias sin­di­cais so­ci­a­lista e so­cial-de­mo­crata e por ele­mentos afectos ao MRPP. Esta é a opi­nião de Gastão Barros, res­pon­sável pelas Listas Uni­tá­rias, que, em de­cla­ra­ções ao Avante!, lem­brou que a ten­dência sin­dical que re­pre­senta tem imenso pres­tígio entre os tra­ba­lha­dores da banca, sendo a maior exis­tente no sector. «Só nos ga­nham em co­li­gação», afirma. «E com cha­pe­ladas», como acre­dita ter acon­te­cido no úl­timo acto elei­toral, so­bre­tudo nos re­for­mados e em «al­gumas re­giões onde temos di­fi­cul­dade em ga­rantir a fis­ca­li­zação das mesas».

Nas úl­timas elei­ções, as Listas Uni­tá­rias es­ti­veram perto de con­quistar a di­recção do sin­di­cato, fi­cando apenas a oi­to­centos votos. Na opi­nião do res­pon­sável, isto levou a que a ac­tual di­recção – e as ten­dên­cias que a com­põem – se sen­tisse ame­a­çada. As ir­re­gu­la­ri­dades no pro­cesso elei­toral já não eram su­fi­ci­entes e op­taram por outra via: a re­visão dos es­ta­tutos e a cri­ação de uma fe­de­ração. Com esta es­tru­tura, «pre­tendem fazer com que nunca mais os tra­ba­lha­dores te­nham nada a ver com as de­ci­sões sin­di­cais», acusa Gastão Barros. Querem também mar­gi­na­lizar os se­cre­ta­ri­ados re­gi­o­nais e de em­presa, onde as Listas Uni­tá­rias têm forte pre­sença, «pois é aqui que ainda se faz sin­di­ca­lismo, o que os in­co­moda». O Con­selho Geral desta fe­de­ração terá cento e vinte mem­bros, dos quais no­venta são no­me­ados pelas di­rec­ções dos sin­di­catos que a com­põem. «Apenas no SBSI, e por pressão nossa, trinta dos ses­senta mem­bros serão eleitos», de­nuncia. No norte, os seus qua­renta mem­bros serão no­me­ados, bem como os vinte do Sin­di­cato dos Ban­cá­rios do Centro.

Para estas elei­ções es­peram-se novas ma­no­bras. Em prin­cípio, para além da lista de con­ti­nui­dade da ac­tual di­recção e das Listas Uni­tá­rias, de­verá con­correr uma ter­ceira. Se­gundo Gastão Barros, será uma da­quelas listas «que apa­recem sempre que os tra­ba­lha­dores co­meçam a ma­ni­festar con­di­ções e or­ga­ni­zação para dar a volta à si­tu­ação». Com o pro­cla­mado ob­jec­tivo de for­ta­lecer a uni­dade, servem apenas para «di­vidir os tra­ba­lha­dores e ga­rantir a vi­tória de quem lá está há tantos anos». A di­visão do campo que se opõe à UGT é, aliás, a mo­ti­vação prin­cipal deste tipo de mo­vi­mentos, con­si­dera. É a UGT «e a sua prá­tica re­for­mista, de traição, o prin­cipal ad­ver­sário dos ban­cá­rios». Daí que, caso vençam as elei­ções do pró­ximo dia 10 de Abril, as Listas Uni­tá­rias pro­porão a saída do SBSI da­quela cen­tral sin­dical. «Nós somos uma ten­dência sin­dical de classe, rei­vin­di­ca­tiva, que en­carna a forma de fazer sin­di­ca­lismo da CGTP», afirma Gastão Barros.


UGT com­pro­mete fu­turo


Sair da UGT é ur­gente. Na opi­nião de Gastão Barros – par­ti­lhada por José Ca­brita e Rute Santos, ambos da co­or­de­na­dora das co­mis­sões de tra­ba­lha­dores do sector ban­cário e mem­bros das Listas Uni­tá­rias –, a si­tu­ação dos tra­ba­lha­dores da banca é a que é porque estes «não têm um sin­di­cato que efec­ti­va­mente seja capaz de in­ter­pretar e de­fender os seus di­reitos». Nos úl­timos dez anos, os sa­lá­rios des­va­lo­ri­zaram-se cerca de trinta por cento e muitos mi­lhares de tra­ba­lha­dores com pouco mais de cin­quenta anos foram com­pul­si­va­mente re­for­mados. Muitos ou­tros de­sem­pe­nham fun­ções se­me­lhantes às dos ban­cá­rios mas não be­ne­fi­ciam do es­ti­pu­lado no acordo co­lec­tivo do sector, pois são con­tra­tados através de em­presas de pres­tação de ser­viços. Apesar de a lei es­ta­be­lecer que o li­mite para um tra­ba­lhador ser con­tra­tado a prazo é de três anos, muitos chegam a de­sem­pe­nhar fun­ções no mesmo banco du­rante seis anos con­tra­tados a prazo. Rute Santos conta como: «du­rante três anos são con­tra­tados pela em­presa de pres­tação de ser­viços e os ou­tros três pelo pró­prio banco.»

«Há um con­junto de tra­ba­lha­dores que, para além dos sa­lá­rios, re­cebem va­lores de­pen­dentes do seu "de­sem­penho", com o re­sul­tado dos bal­cões», lembra José Ca­brita. «Tra­ba­lham cen­tenas de horas para re­ceber um mês ou um mês e meio de sa­lário no final do ano», as­se­gura. «É muito tra­balho para tão pouca re­com­pensa.» Rute Santos con­corda, re­cor­dando que quando uma agência atinge os ob­jec­tivos, o que nor­mal­mente não acon­tece pois são bas­tante am­bi­ci­osos, no ano se­guinte são-no ainda mais: «o mer­cado é o mesmo e a área é a mesma. É muito di­fícil.»

«Face a este di­ag­nós­tico, a questão cen­tral é que temos tido di­rec­ções sin­di­cais que pura e sim­ples­mente não ac­tuam», con­si­dera Gastão Barros. A si­tu­ação é tal que há cerca de vinte anos que não há lutas no sector. «É sempre a perder sem nunca re­agir.»

A somar a tudo isto, lem­bram os três ele­mentos das Listas Uni­tá­rias, o sin­di­cato tem ne­go­ciado acordos de em­presa – no BCP foi já con­cluído – que re­tiram di­reitos con­sa­grados no acordo co­lec­tivo do sector. A Caixa Geral de De­pó­sitos e o Banco de Por­tugal são os pró­ximos. José Ca­brita só es­pera que as Listas Uni­tá­rias vençam as elei­ções antes que es­tejam con­cluídas as ne­go­ci­a­ções para estes acordos.

A des­truição do acordo co­lec­tivo é mesmo o maior ob­jec­tivo do pa­tro­nato. Apesar de a ac­tual di­recção do sin­di­cato ter afir­mado junto dos tra­ba­lha­dores que o pa­cote la­boral não os afec­taria, a ver­dade é outra, bem di­fe­rente: «os ban­cá­rios são os únicos tra­ba­lha­dores deste País que estão fora do sis­tema normal da se­gu­rança so­cial. As suas re­formas emanam ex­clu­si­va­mente do acordo co­lec­tivo e são obri­ga­to­ri­a­mente pagas pelos bancos», lembra Gastão Barros. O sis­tema de saúde também brota di­rec­ta­mente desse acordo. «Basta isto para ima­ginar o que acon­te­cerá se ao fim de dois anos, como o pa­cote la­boral prevê, os acordos co­lec­tivos ca­du­carem», alerta o res­pon­sável pelas Listas Uni­tá­rias. «Havia uma grande ne­ces­si­dade de os tra­ba­lha­dores ban­cá­rios se terem jun­tado aos res­tantes tra­ba­lha­dores na luta contra o pa­cote la­boral.» Apesar de ter sido apro­vada uma moção nesse sen­tido, a di­recção do sin­di­cato não avançou nessa al­tura, com o ar­gu­mento de ser pre­ma­turo. Agora, acha que não vale a pena. Os três mem­bros das Listas Uni­tá­rias são unâ­nimes: a isto chama-se traição.


PCP apoia Listas Uni­tá­rias


«Mu­dança ac­tiva, al­ter­na­tiva de con­fi­ança» é o lema das Listas Uni­tá­rias para as pró­ximas elei­ções para a di­recção do Sin­di­cato dos Ban­cá­rios do Sul e Ilhas e para os se­cre­ta­ri­ados re­gi­o­nais e de em­presa, a ter lugar no pró­ximo dia 10 de Abril. Os três en­tre­vis­tados, mem­bros do or­ga­nismo de di­recção dos ban­cá­rios de Lisboa do PCP, re­a­fir­maram a ne­ces­si­dade de os co­mu­nistas se em­pe­nharem em mais esta ba­talha sin­dical em torno do pro­jecto das Listas Uni­tá­rias, que o PCP sempre apoiou e apoia, pelo seu ca­rácter am­pla­mente uni­tário e con­trário à par­ti­da­ri­zação da vida sin­dical. A par­ti­ci­pação de tra­ba­lha­dores sem par­tido, que se iden­ti­ficam com este pro­jecto, é ga­rantia de uni­dade, ao con­trário das res­tantes ten­dên­cias, es­tri­ta­mente par­ti­dá­rias – so­ci­a­lista e so­cial-de­mo­crata –, tão caras ao sin­di­ca­lismo da UGT. «Es­tamos a falar com tra­ba­lha­dores para que in­te­grem esta lista, tra­ba­lha­dores jo­vens, sé­rios, com ca­pa­ci­dade rei­vin­di­ca­tiva», afirmou José Ca­brita.

No seu ma­ni­festo elei­toral, a ten­dência uni­tária de­clara-se pela de­fesa da con­tra­tação, contra os ata­ques ao acordo co­lec­tivo lan­çados pelos pa­trões com a co­ni­vência da ac­tual di­recção do sin­di­cato, bem como da UGT.

Outra das ban­deiras da maior ten­dência sin­dical da banca é o re­forço do sin­di­ca­lismo nos lo­cais de tra­balho. «Tenho treze anos de banco e a única vez que vi um di­ri­gente do sin­di­cato foi num reu­nião de de­le­gados sin­di­cais», afirma Rute Santos. «Quem não for de­le­gado sin­dical não os co­nhece pois eles não vão aos lo­cais de tra­balho.»

Au­di­toria ex­terna às contas do sin­di­cato e dos SAMS – ser­viços de saúde –, de­fesa de sa­lá­rios justos, com­bate à pre­ca­ri­e­dade cres­cente que se vive no sector e luta contra o pa­cote la­boral são ou­tras das pro­postas das Listas Uni­tá­rias.



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