PCP sempre

Num par­tido, ou há par­ti­ci­pação dos mi­li­tantes ou não há de­mo­cracia in­terna

Como pode ver-se na Agenda das duas úl­timas edi­ções do Avante!, o 82º ani­ver­sário do PCP está a ser as­si­na­lado com múl­ti­plas ini­ci­a­tivas pro­mo­vidas pelas or­ga­ni­za­ções do Par­tido. Mi­lhares de mi­li­tantes e sim­pa­ti­zantes co­mu­nistas já par­ti­ci­param e vão par­ti­cipar, em todo o País, em cen­tenas de al­moços e jan­tares de con­fra­ter­ni­zação, de­bates, con­ví­vios, co­mí­cios. Para os mi­li­tantes co­mu­nistas trata-se de re­cordar e as­sumir com or­gulho – em con­vívio fra­terno, como é sua ca­rac­te­rís­tica - a his­tória do seu Par­tido: trata-se de, es­ti­mu­lados pelo pas­sado he­róico do PCP e com os pés bem as­sentes no pre­sente; cons­ci­entes dos obs­tá­culos que têm pela frente e cons­ci­entes, também, da força dos seus ideais e das suas con­vic­ções, as­si­na­larem estes oi­tenta e dois anos de vida e de luta.

Im­porta su­bli­nhar mais uma vez que a in­vo­cação do glo­rioso pas­sado do PCP, ine­vi­tável nestas cir­cuns­tân­cias, não é uma ma­ni­fes­tação sau­do­sista de quem nada tem para in­vocar no pre­sente. (E, por muito que a in­vo­cação do nosso pas­sado an­ti­fas­cista in­co­mode – e in­co­moda! – os que tal pas­sado não têm ou os que pouco têm para co­me­morar em tal ma­téria, não pres­cin­di­remos dela em mo­mento ne­nhum). Na ver­dade, o nosso pre­sente, a nossa pos­tura ac­tual pe­rante o mundo e a vida, a nossa con­dição de prin­cipal motor na luta contra a po­lí­tica de di­reita, o nosso pro­jecto e os nossos va­lores de hoje – que têm tudo a ver com esse pas­sado e dele nas­ceram e nele têm as suas raízes fun­da­men­tais - cons­ti­tuem igual mo­tivo de or­gulho para todos os mi­li­tantes co­mu­nistas.

Acresce que, ao in­vo­carmos o pas­sado he­róico do PCP, não es­tamos a can­di­datar-nos nem a me­da­lhas, nem a co­roas de louros que, hoje como sempre, dis­pen­samos. Con­tudo – e bom é que isso fique, mais uma vez, claro – ja­mais pres­cin­di­remos da ver­dade his­tó­rica, ja­mais nos coi­bi­remos de re­cordar que, no tempo do terror e da opressão fas­cista, quando os par­tidos de­mo­crá­ticos eram proi­bidos, quando de­fender a de­mo­cracia e a li­ber­dade tinha as con­sequên­cias ter­rí­veis que hoje toda a gente co­nhece (mas muitos pro­curam si­len­ciar ou me­no­rizar), o PCP foi, então, o único par­tido que re­sistiu ao fas­cismo e lhe moveu uma luta sem tré­guas; os co­mu­nistas por­tu­gueses es­ti­veram na pri­meira linha da luta an­ti­fas­cista, ocu­param a van­guarda no com­bate pela de­fesa dos di­reitos dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País. Dir-se-á que, assim agindo, o PCP se li­mitou a cum­prir o seu dever. E é ver­dade. Tão ver­da­deira como esta outra: pena foi que não ti­vesse ha­vido, então, mais ne­nhum par­tido dis­posto a re­sistir ao fas­cismo e a bater-se pela de­mo­cracia.

À per­gunta muitas vezes feita sobre que mo­ti­va­ções, que ra­zões, que fac­tores es­ti­veram na origem dessa ca­pa­ci­dade re­sis­tente dos co­mu­nistas, con­ti­nu­a­remos a res­ponder que as raízes es­sen­ciais da força do PCP se si­tuam, no­me­a­da­mente, no seu pro­jecto trans­for­mador, re­vo­lu­ci­o­nário, hu­ma­nista e nos va­lores de jus­tiça so­cial, de li­ber­dade, de so­li­da­ri­e­dade, de fra­ter­ni­dade que o sus­tentam; na sua na­tu­reza de classe e na sua ide­o­logia; nas suas normas de fun­ci­o­na­mento que, as­sentes numa pre­o­cu­pação cons­tante de en­ri­que­ci­mento do con­teúdo de­mo­crá­tico, vêem na cres­cente par­ti­ci­pação dos seus mi­li­tantes na vida do Par­tido o ca­minho mais se­guro e mais certo para o re­forço desse fun­ci­o­na­mento de­mo­crá­tico.

Nestes tempos em que, fus­ti­gados por uma das mais fortes ofen­sivas an­ti­co­mu­nistas de sempre, co­me­mo­ramos o 82º ani­ver­sário do PCP, su­bli­nhamos a im­por­tância da exis­tência de um par­tido com as ca­rac­te­rís­ticas deste – re­vo­lu­ci­o­nário, por­tador de um pro­jecto trans­for­mador vi­sando a cons­trução de uma so­ci­e­dade li­berta de todas as formas de opressão e de ex­plo­ração - in­sis­timos na im­por­tância da ver­tente par­ti­ci­pa­tiva na De­mo­cracia e re­lem­bramos que, seja num sis­tema, seja numa ins­ti­tuição, seja em qual­quer as­so­ci­ação, a par­ti­ci­pação é a pedra de toque e a me­dida es­sen­cial de afe­ri­mento da ri­queza de con­teúdo de­mo­crá­tico. Num par­tido po­lí­tico, por exemplo, o seu fun­ci­o­na­mento de­mo­crá­tico é tanto mais rico quanto maior for o grau de par­ti­ci­pação mi­li­tante. Sem exa­gero, pode dizer-se que, num par­tido, ou há par­ti­ci­pação dos mi­li­tantes ou não há de­mo­cracia in­terna – por me­lhor en­saiada que possa estar a re­pre­sen­tação de­mo­crá­tico-me­diá­tica da­queles par­tidos que, des­pre­zando a par­ti­ci­pação mi­li­tante e fun­ci­o­nando no des­co­nhe­ci­mento quase ab­so­luto do que seja de­mo­cracia in­terna, se mas­caram de exem­plos mo­de­lares de prá­ticas de­mo­crá­ticas.

Tudo isto con­fere uma di­mensão tão ri­dí­cula quanto pe­ri­gosa às po­si­ções que os prin­ci­pais par­tidos do sis­tema as­sumem sempre que en­tendem pro­nun­ciar-se sobre os co­mu­nistas e o seu par­tido ou quando de­cidem, como é o caso ac­tual, impor ao PCP o con­ceito de de­mo­cracia par­ti­dária que vi­gora entre eles e que é, vi­si­vel­mente, de uma con­fran­ge­dora po­breza de­mo­crá­tica. É a essa luz que deve ser vista a lei dos par­tidos para a qual quer o PS quer o PSD já apre­sen­taram pro­jectos – ambos vi­sando a fas­ci­zante, logo ina­cei­tável, pers­pec­tiva de cri­ação do mo­delo único de par­tido. Se a este ob­jec­tivo se acres­centar a in­tenção anun­ciada por ambos de fazer aprovar essa lei por oca­sião das co­me­mo­ra­ções do 29º ani­ver­sário da Re­vo­lução, for­çoso é dizer que es­tamos pe­rante não só um brutal aten­tado contra a li­ber­dade de as­so­ci­ação e a li­ber­dade de au­to­nomia dos par­tidos con­quis­tadas com o der­rube do fas­cismo, mas também pe­rante uma des­pu­do­rada pro­vo­cação ao 25 de Abril e aos seus ideais li­ber­ta­dores.

Por isso, hoje como du­rante os úl­timos 82 anos, di­zemos: PCP sempre.