O mundo árabe sente-se ameaçado com o ataque norte-americano ao Iraque e,
apesar das divisões, exige o fim da agressão

Liga Árabe contra a guerra

Liga Árabe pediu se­gunda-feira uma reu­nião de emer­gência do Con­selho de Se­gu­rança da ONU para pôr fim à guerra «ile­gí­tima» contra o Iraque.

Os mi­nis­tros dos Ne­gó­cios Es­tran­geiros dos países mem­bros da Liga Árabe, reu­nidos no Cairo no início da se­mana, ape­laram aos EUA e à Grã-Bre­tanha para que re­tirem, ime­diata e in­con­di­ci­o­nal­mente, as suas tropas do Iraque.

A de­li­be­ração apro­vada no final do en­contro con­si­dera que a agressão contra o ter­ri­tório ira­quiano é «uma vi­o­lação da Carta das Na­ções Unidas» e «uma ameaça à paz mun­dial», pelo que se impõe que o Con­selho de Se­gu­rança reúna de emer­gência e adopte uma re­so­lução para pôr fim à guerra no Iraque, que a Liga con­si­dera «ile­gí­tima».

O do­cu­mento não foi apro­vado por una­ni­mi­dade: o Koweit (onde se situa a prin­cipal base de ataque norte-ame­ri­cana) opôs-se ao texto ale­gando que o mesmo não se re­feria aos mís­seis ira­qui­anos lan­çados contra o seu ter­ri­tório; e o mi­nistro do Qatar, outra mo­nar­quia pre­po­tente do Golfo sub­me­tida aos EUA, re­tirou-se do en­contro.

A se­gu­rança dos 22 es­tados que in­te­gram a Liga Árabe es­teve no centro das aten­ções, sendo su­bli­nhada pelo re­pre­sen­tante líbio, Ab­de­salam Tikri, par­ti­cu­lar­mente aplau­dido, que ex­primiu o re­ceio de todos ao afirmar: «Se o Iraque tombar, muitos países árabes tom­barão também». A mesma con­vicção foi ex­pressa pelo mi­nistro dos Ne­gó­cios Es­tran­geiros ira­quiano, Naji Sabri, que apelou à so­li­da­ri­e­dade dos países árabes. Sabri - o pri­meiro alto di­ri­gente ira­quiano a par­ti­cipar em eventos in­ter­na­ci­o­nais desde o ataque anglo-ame­ri­cano - afirmou que «a agressão não visa uni­ca­mente o Iraque, mas todos os países árabes».


Pre­o­cu­pa­ções ge­ne­ra­li­zadas


A men­sagem que o pre­si­dente egípcio, Hosni Mu­barak, fez chegar ao Cairo, foi igual­mente de pre­o­cu­pação. «Quando nós fa­lámos com os ame­ri­canos, eles dis­seram que a guerra seria breve, mas o que eu temo é que as ope­ra­ções mi­li­tares se pro­lon­guem, com o grande nú­mero de mortes que isto acar­re­tará», afirmou Mu­barak, su­bli­nhando que «tudo isso se re­per­cute entre os povos da re­gião».

A po­sição do rei Ab­dallah II da Jor­dânia, país onde di­a­ri­a­mente mi­lhares de pes­soas se ma­ni­festam contra a agressão dos EUA e a pre­sença dos cerca de seis mil sol­dados norte-ame­ri­canos, re­flecte também a du­pli­ci­dade do re­gime. Ex­pri­mindo «pena e có­lera» pelas ima­gens dos bom­bar­de­a­mentos a Bagdad, o rei apelou a que «se pare a guerra quanto antes» e disse que a Jor­dânia tem «pe­sadas res­pon­sa­bi­li­dades» para com os seus «ir­mãos ira­qui­anos». Pouco antes, o re­gime tinha ex­pulso os di­plo­matas ira­qui­anos pre­sentes em Amã.

En­tre­tanto, na Arábia Sau­dita, onde nu­me­rosos di­ri­gentes re­li­gi­osos têm ape­lado à guerra santa (jihad) contra os EUA, o grande mufti - alta au­to­ri­dade mu­çul­mana - pediu se­gunda-feira «pa­ci­ência» aos fiéis. Mais clara é a po­sição da Síria, onde a Frente Na­ci­onal Pro­gres­sista, no poder, de­nun­ciou «a bár­bara agressão» contra o Iraque e exigiu o fim ime­diato da guerra e «a re­ti­rada das forças de in­vasão».



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