Vidreiros da Mortensen no Parlamento

Despedimentos recusados

O mecanismo accionado pelos trabalhadores para evitar a falência está a ser usado pela administração para liquidar mais empregos.

Des­pedir su­ces­si­va­mente e sem res­peitar di­reitos não pode ser so­lução

Enquanto dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira eram recebidos pelos grupos parlamentares, uma delegação do pessoal da Jorgen Mortensen, da Marinha Grande, manteve-se em concentração no exterior do Palácio de São Bento, durante toda a manhã de 28 de Agosto.
A deslocação ao Parlamento foi decidida no mesmo plenário em que foi declarado «completamente inútil» o Procedimento Extrajudicial de Conciliação, accionado pelo STIV/CGTP, em representação dos trabalhadores, face à ameaça de ser cortado o fornecimento de gás sem que a administração fizesse algo para evitar o iminente encerramento da empresa.
Após accionado o PEC, haveria condições para evitar a falência e defender os actuais 135 postos de trabalho. No entanto, «ao contrário do que era suposto e aceitável», a administração veio propor a liquidação de mais de metade dos empregos, recusando-se aceitar o pagamento imediato de retribuições e indemnizações às 70 pessoas que quer dispensar. O sindicato revelou que, inicialmente, a Jorgen Mortensen admitia cumprir essas obrigações «daqui a mais de 20 anos», mas acabou por não aceitar a definição de qualquer prazo para tal.
A administração iniciou as operações de desactivação do forno, processo que, refere o STIV, é já «irreversível».
Neste quadro, o plenário de 20 de Agosto recusou que a empresa utilizasse «os meios por nós accionados e que objectivavam a salvaguarda do emprego para abater mais de metade do actual número de trabalhadores, sem sequer lhes garantir os direitos».
A par da tomada de posição acerca do PEC junto do IAPMEI, a quem cabe conduzir o processo, os trabalhadores apelaram ao Governo para que, através das instituições que tutela e que são credoras da Mortensen, recuse «soluções que visem, essencialmente, o despedimento de mais trabalhadores». Em resposta vigorosa a um comunicado da administração, o STIV lembra que já em Junho de 2001 era preconizado o despedimento de 75 pessoas sem qualquer indemnização. Desde Outubro desse ano, quando a empresa apresentou em tribunal um pedido de recuperação, cerca de cem trabalhadores rescindiram os contratos com justa causa. Em Agosto de 2002, no plano de recuperação que apresentou, a empresa projectou pagar as indemnizações e garantiu que não ia proceder a despedimentos.
Agora, voltou a propor a mesma solução, no contexto do PEC mas com um procedimento unilateral. De acordo com o sindicato, a extinção de 83 postos de trabalho (posteriormente reduzidos para 70) foi apresentada a 12 de Agosto, devendo as rescisões ser aceites até dia 15, quando o IAPMEI tinha convocado para dia 18 uma reunião, no quadro do PEC, para debater a referida proposta da administração.
Não fazendo «nenhum sentido» prosseguir com o PEC, o sindicato solicitou ao IAPMEI que «promova a intervenção de entidades exteriores ao processo que apresentem alternativas compatíveis» com a defesa da empresa, dos postos de trabalho e dos direitos dos trabalhadores.


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