
- Nº 1554 (2003/09/11)
“As Mulheres e o Desporto em Portugal”
Feita vigorosa denúncia das discriminações
Festa do Avante!
“As Mulheres e o Desporto em Portugal” foi tema de um debate moderado por Isabel Cruz, da área desportiva do CC do PCP. Na tarde de sábado, numa mesa instalada em pleno polidesportivo da Festa, sentaram-se também Nuno Cristóvão, treinador da selecção nacional feminina de futebol de onze, Lara Pinto, futebolista internacional e Suzana Pinto, atleta deficiente.
Todos os intervenientes foram unânimes na condenação veemente da discriminação a que o desporto feminino está submetido em Portugal. “Não há escolas para o desporto adaptado, nem para o desporto praticado por atletas com qualquer tipo de deficiência”– denunciou Suzana Pinto, que apelou à Comunicação Social para que acompanhe mais de perto as provas de deficientes que “são tão competitivas e despoletam tanta emoção como as outras”. Quanto há o distanciamento que se conhece entre o desporto masculino e feminino, “alguma coisa está errada no nosso país”.
Para Nuno Cristóvão, trata-se de um problema de mentalidade, “até porque os problemas são os mesmos”. Quanto às nossas futebolistas, “são tão boas como as outras”. E mais adiante: “A única diferença entre as selecções nacionais de futebol masculinas e femininas, é que as dos homens estagiam em hotéis de cinco estrelas, enquanto nós fazêmo-lo no Centro de Estágio de Rio Maior”. Portanto, há ainda muito que fazer, nomeadamente, “a nível da Federação Portuguesa de Futebol”.
Ficou-se a saber que há 20 milhões de mulheres e raparigas de todo o mundo que jogam futebol federado e que, como o demonstram os campeonatos da Europa e do Mundo, “o futebol feminino é mais bonito, provoca menos faltas e realiza mais golos”.
A capitã Lara Pinto, por sua vez, em conversa com a nossa reportagem, confessou que foi a primeira vez que visitou a Festa do Avante. “Vim só para o debate, mas tive a oportunidade de testemunhar toda esta gente e esta diversão. Em pouco tempo, encontrei muita gente conhecida”.
Entretanto, Isabel Cruz resumiu em poucas palavras as conclusões que se podem retirar deste debate: “As dificuldades e obstáculos com que se confronta o desporto feminino no nosso país são muitos e variados. Na verdade, só com grande força de vontade e espírito de sacrifício se consegue fazer alguma coisa de válido neste domínio”.
Durante os três dias da Festa esteve patente ao público, num dos pavilhões da área desportiva, uma exposição com o mesmo nome do debate. A intenção foi mostrar aos visitantes, através de um belo conjunto de fotografias, o muito que as mulheres têm feito pelo desporto em Portugal, apesar do desleixo com que as autoridades encaram este importante domínio do desenvolvimento social.