Não passam mais!

Poema es­crito para ser lido na con­cen­tração con­vo­cada pelos sin­di­catos e co­mis­sões de tra­ba­lha­dores para o Ter­reiro do Paço, em Lisboa, em 11 de No­vembro de 1975.

Em nome dos nossos braços
em nome das nossas mãos
em nome de quantos passos
deram os nossos ir­mãos.
Em nome das fer­ra­mentas
que nos ma­go­aram os dedos
das tor­turas das tor­mentas
das se­ví­cias dos de­gredos.
Em nome da­quele nome
que her­dámos dos nossos pais
em nome da sua fome
di­zemos: não passam mais!

E em nome dos mi­lé­nios
da prisão adi­ci­o­nada
em nome de tantos gé­nios
com a voz amor­da­çada
em nome dos cam­po­neses
com a terra con­fis­cada
em nome dos Por­tu­gueses
com a carne es­ti­lha­çada
em nome da­queles nomes
es­car­rados nos tri­bu­nais
di­zemos que há ou­tros nomes
que não passam nunca mais!
Em nome do que nós temos
em nome do que nós fomos
re­vo­lução que fi­zemos
de­mo­cracia que somos
em nome da uni­dade
linda flor da classe ope­rária
em nome da li­ber­dade
flor imensa e pro­le­tária
em nome desta von­tade
de sermos todos iguais
vamos dizer a ver­dade
di­zendo: não passam mais!

Em nome de quantos corpos
nossos fi­lhos foram feitos.
Em nome de quantos mortos
vivem nos nossos di­reitos.
Em nome de quantos vivos
dão mais vida à nossa voz
não se­remos mais ca­tivos:
O tra­balho somos nós.

Por isso tornos en­xadas
ca­netas frezas de­dais
são as nossas bar­ri­cadas
que dizem: não passam mais!

E em nome das con­quistas
vindas nos ventos de Abril
re­forma agrária con­trolo
ope­rário no meio fa­bril
em­presas que são do es­tado
porque o seu dono é o povo
em nome de lado a lado
termos feito um país novo.
Em nome da nossa frente
e dos nossos ideais
di­ante de toda a gente
di­zemos: não passam mais!

Em nome do que pas­sámos
não dei­xa­remos passar
o pa­trão que ul­tra­pas­sámos
e que nos quer tres­passar.
E por onde a gente passa
nós pas­samos a pa­lavra:
Cada rua cada praça
é o chão que o povo lavra.
Pas­sa­remos adi­ante
com passo firme e se­guro.
O pas­sado é já bas­tante
vamos passar ao fu­turo.

José Carlos Ary dos Santos


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