O «convite»
Paulo Portas conseguiu, de novo, chegar aos títulos do dia convidando mancebos pela arreata da multa.
A coisa merece alguma atenção - o que agradará sobremaneira ao ministro da Defesa, tão suspenso que parece viver dum lugarzinho na ribalta.
Resumidamente, passou-se assim: pegando numa desconchavada medida prevista na Lei de Programação Militar (tão desconchavada, que nenhum governante a tentou aplicar na sua meia dúzia de anos de vida), Paulo Portas convocou, de forma aleatória, três mil jovens que se recensearam este ano, provenientes de 18 concelhos do País, e «convidou-os» a participar, ao longo de 10 dias e em três locais diferentes (Almada, Lamego e Monte Real) em «iniciativas de sensibilização para as Forças Armadas», integradas nas comemorações do chamado Dia da Defesa Nacional.
Para estimular o empenhamento dos jovens escolhidos, o convite era acompanhado pela ameaça de uma pesada multa, a aplicar aos faltosos que não apresentassem uma «justificação» (não se sabe qual) «no prazo de três dias».
Como tudo isto se passa em vésperas da supressão total e geral do serviço militar obrigatório - prevista para o próximo ano -, avolumam-se as perguntas e as perplexidades perante esta iniciativa.
A primeira questão é a que visa saber para que raio se convocam três mil mancebos para ver a tropa aos saltos, exactamente em vésperas de nenhum jovem, deste País, poder ser obrigado a entrar num quartel.
Segunda, por que se escolheu aqueles três mil mancebos e se deixou de fora os outros, que são quase todos?
Terceira, por que se livrou a maioria esmagadora dos mancebos de gastar um dia no quartel e se obrigou três mil a suportar tal prova?
Quarta, para o ano – onde oficialmente já ninguém pode ser obrigado a ir para a tropa -, também se vão convocar mais três mil mancebos para a incorporação de um dia? Se sim, em nome de quê e com que critérios? Se não, porquê então a convocação deste ano?
Quinta, que «convite» é este para uma visita, com a ameaça de multa em caso de recusa?
Finalmente, onde estão os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, nomeadamente os que determinam a sua igualdade perante a lei, com um «convite» que, além de impositivo pela ameaça de uma multa, apenas atinge uma minoria de mancebos?
É claro que todas estas perguntas só podem ter, como resposta, exactamente a que foi dada pelas autarquias a quem o ministro solicitou transporte para os mancebos «convidados» para o Dia da Defesa Nacional: recusaram liminarmente, afirmando não dar «grande importância» ao assunto.
De facto e manifestamente, esta original iniciativa do ministro Paulo Portas não tem «grande importância».
Apenas tem relevo num aspecto.
Confirma, à evidência, o espírito e a forma tanto de um político, como de uma política.
O espírito, é o do faz de conta – o que importa é dar a ideia que se «faz muito» pelas Forças Armadas, mesmo que seja a agitar meia dúzia de mancebos num dia de tropa a fingir.
A forma, é a do autoritarismo grosseiramente prepotente - «convida-se» uns tantos sob a ameaça de multa.
O político, é Paulo Portas, e a política é, irreprimivelmente, de direita.
No caso, manifestamente caricatural.
A coisa merece alguma atenção - o que agradará sobremaneira ao ministro da Defesa, tão suspenso que parece viver dum lugarzinho na ribalta.
Resumidamente, passou-se assim: pegando numa desconchavada medida prevista na Lei de Programação Militar (tão desconchavada, que nenhum governante a tentou aplicar na sua meia dúzia de anos de vida), Paulo Portas convocou, de forma aleatória, três mil jovens que se recensearam este ano, provenientes de 18 concelhos do País, e «convidou-os» a participar, ao longo de 10 dias e em três locais diferentes (Almada, Lamego e Monte Real) em «iniciativas de sensibilização para as Forças Armadas», integradas nas comemorações do chamado Dia da Defesa Nacional.
Para estimular o empenhamento dos jovens escolhidos, o convite era acompanhado pela ameaça de uma pesada multa, a aplicar aos faltosos que não apresentassem uma «justificação» (não se sabe qual) «no prazo de três dias».
Como tudo isto se passa em vésperas da supressão total e geral do serviço militar obrigatório - prevista para o próximo ano -, avolumam-se as perguntas e as perplexidades perante esta iniciativa.
A primeira questão é a que visa saber para que raio se convocam três mil mancebos para ver a tropa aos saltos, exactamente em vésperas de nenhum jovem, deste País, poder ser obrigado a entrar num quartel.
Segunda, por que se escolheu aqueles três mil mancebos e se deixou de fora os outros, que são quase todos?
Terceira, por que se livrou a maioria esmagadora dos mancebos de gastar um dia no quartel e se obrigou três mil a suportar tal prova?
Quarta, para o ano – onde oficialmente já ninguém pode ser obrigado a ir para a tropa -, também se vão convocar mais três mil mancebos para a incorporação de um dia? Se sim, em nome de quê e com que critérios? Se não, porquê então a convocação deste ano?
Quinta, que «convite» é este para uma visita, com a ameaça de multa em caso de recusa?
Finalmente, onde estão os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, nomeadamente os que determinam a sua igualdade perante a lei, com um «convite» que, além de impositivo pela ameaça de uma multa, apenas atinge uma minoria de mancebos?
É claro que todas estas perguntas só podem ter, como resposta, exactamente a que foi dada pelas autarquias a quem o ministro solicitou transporte para os mancebos «convidados» para o Dia da Defesa Nacional: recusaram liminarmente, afirmando não dar «grande importância» ao assunto.
De facto e manifestamente, esta original iniciativa do ministro Paulo Portas não tem «grande importância».
Apenas tem relevo num aspecto.
Confirma, à evidência, o espírito e a forma tanto de um político, como de uma política.
O espírito, é o do faz de conta – o que importa é dar a ideia que se «faz muito» pelas Forças Armadas, mesmo que seja a agitar meia dúzia de mancebos num dia de tropa a fingir.
A forma, é a do autoritarismo grosseiramente prepotente - «convida-se» uns tantos sob a ameaça de multa.
O político, é Paulo Portas, e a política é, irreprimivelmente, de direita.
No caso, manifestamente caricatural.