
- Nº 1562 (2003/11/6)
Crise na MB Pereira da Costa SA
Trabalhadores
No passado dia 30, os trabalhadores concentraram-se à porta da empresa.
Fazia um mês que esperavam pelo salário de Setembro. Alertaram a comunicação social e recusaram trabalhar enquanto não obtivessem resposta satisfatória por parte da administração. A pressão deu resultado e os salários, após três dias de promessas adiadas, lá apareceram. Para João Serpa, do Sindicato dos Trabalhadores da Construção, Mármores e Madeiras do Sul, ficou assim provado, mais uma vez, que «só lutando se consegue alguma coisa».
Em situação de insolvência financeira, a MB Pereira da Costa e os seus 400 trabalhadores aguardam decisão do Tribunal do Comércio para que avance o processo de recuperação extraordinária.
Situada na Venda Nova, Amadora, a MB Pereira da Costa SA, em laboração desde 1962, está com graves problemas de tesouraria que têm levado ao pagamento em atraso de salários e deixado apreensivos os 400 trabalhadores desta empresa. João Serpa, contou ao Avante! que a unidade tem como principal cliente a EDP, empresa da qual dependem 60 por cento de toda a facturação.
Com salários a rondar, em média, 450 euros mensais, a MB Pereira da Costa tinha, há pouco mais de um ano, cerca de 1500 trabalhadores. Agora tem apenas quatro centenas.
João Serpa revelou que os problemas começaram com a concorrência desleal.
A empresa perdeu clientes, uma vez que os orçamentos tinham um custo bastante superior em relação a outras empresas que não orçamentavam os custos fixos, incluindo os encargos sociais, «usando formas de fugir a esses encargos». Como a MB Pereira da Costa sempre cumpriu as suas obrigações, acabou por ficar prejudicada, começou a perder clientes e ficou impedida de concorrer directamente a obras públicas em concursos, uma vez que passou a ser devedora da Segurança Social.
O principal credor da empresa é o Estado, mas também a banca tem aqui créditos de que não abdica. A 15 de Outubro passado, entrou no Tribunal do Comércio de Lisboa o processo de recuperação extraordinária, acompanhado por um diagnóstico onde é revelado o montante da dívida à Segurança Social e quais são os restantes credores além do Estado, desde a banca - BPSM e Espírito Santo - aos fornecedores. Aguarda-se agora a nomeação do administrador judicial.
Trabalhadores e sindicatos esperam que o tribunal se pronuncie quanto ao prosseguimento do processo.
Para fazer face aos encargos, a empresa conta com o estaleiro situado na Venda Nova, avaliado em 5 milhões de euros, e um terreno no Linhó, não hipotecado e avaliado em cerca de 900 mil euros, podendo a sua venda servir para pagar os salários.
O estaleiro está situado numa zona de requalificação urbana e a empresa pretende vender esse terreno e alugar instalações alternativas na zona de Lisboa.
O sindicato não concorda, uma vez que a venda irá descapitalizar ainda mais a empresa, retirando-lhe todo o património que tem sido a garantia para credores e trabalhadores.