Álvaro Cunhal fez 90 anos

Teoria e prática revolucionárias

Vale sempre a pena - e não somente a propósito de aniversário, mesmo sendo este particularmente festejado, quando Álvaro Cunhal completa 90 anos de vida - lembrar a vasta obra teórica do dirigente revolucionário, ao longo de décadas marcantes para a história do nosso País.

Uma contribuição teórica valiosa e determinante

Isto porque a intervenção de Álvaro Cunhal no plano político teve efeitos determinantes tanto a nível partidário - na reorganização do PCP no início dos anos 40 e na formação da própria «consciência partidária» e do pensamento próprio dos comunistas portugueses na sua actividade, na análise de cada momento histórico e na percepção das tarefas que levaram a cabo - como a nível do que o Partido foi capaz de realizar ao longo de décadas de resistência ao fascismo, nos momentos decisivos da Revolução Democrática e Nacional, no avanço e consolidação das suas principais conquistas, nas batalhas em sua defesa.
Pode dizer-se que será muito difícil - menos para aqueles que têm da história uma visão redutora e sectária ou conservada no obscurantismo salazarento, mesmo quando aparece renovada em roupagens neoliberais - abordar os principais momentos da história portuguesa do século XX sem recorrer às análises a que Álvaro Cunhal procedeu, mesmo submetendo os seus relatórios, livros e discursos à apreciação colectiva dos seus camaradas. O trabalho colectivo, que hoje como ontem preza, nunca pôde apagar a contribuição individual e fundamental que vem dando para a clarificação de questões políticas cruciais do mundo de hoje, como aliás se pode ler no recente texto que o nosso jornal publicou na semana passada.
O dirigente comunista contribuiu decisivamente para a reorganização do Partido iniciada em 1941, na definição das tarefas do PCP não apenas junto dos trabalhadores mas também na criação e dinamização do Movimento de Unidade Nacional Anti-Fascista e mais tarde no Movimento de Unidade Democrática. Álvaro Cunhal, com o pseudónimo de Duarte, apresentará, no IV Congresso, realizado em 1946, um documento intitulado «O caminho para o derrubamento do fascismo», em que defende a única via possível: «Só resta uma saída ao Povo português», escreve; «o levantamento em massa contra o domínio fascista, a insurreição nacional.»
Preso pela Pide e condenado em 1950, Álvaro Cunhal faz no tribunal fascista o processo da política de traição nacional do governo salazarista. Não participará no V Congresso e só em 1960, junto com outros camaradas, sairá para a liberdade, na célebre Fuga de Peniche. Em Março do ano seguinte é eleito secretário-geral do PCP, numa reunião do Comité Central em que é corrigido o desvio de direita registado no trabalho de Direcção entre 1956 e 1959.
É com Rumo à Vitória, o seu mais célebre trabalho, moldado sobre o Relatório Político que apresenta ao VI Congresso realizado em 1965, que o Partido adquire um valioso projecto para a Revolução Democrática e Nacional, consubstanciado num Programa de oito pontos que a História viria a demonstrar necessário e concretizável. Ainda antes do 25 de Abril de 1974, um outro livro dava resposta ao fenómeno esquerdista, onde, a par da impaciência revolucionária pequeno-burguesa pululavam as provocações ao movimento operário e oposicionista. Tratou-se do livro O Radicalismo Pequeno-Burguês de Fachada Socialista, um valioso texto que mostrou as virtualidades da análise marxista-leninista antes, durante e após o período revolucionário que se aproximava.

Uma batalha que prossegue

Com A Revolução Portuguesa - o Passado e o Futuro, relatório apresentado aso VIII Congresso realizado em 1976 na FIL, os democratas e os revolucionários adquirem uma visão ampla de todo o processo em que intervieram e se prepavam para intervir, agora defendendo as conquistas de Abril. E a longa série de discursos - todos publicados pelo Avante! e reunidos numa colectânea de livros publicados ao longo dos anos pelas Edições Avante! - foram, durante as últimas décadas, o «ponto da situação política» para milhares de quadros e camaradas. Analisando os problemas de actualidade, definindo perspectivas e grandes tarefas a cumprir pelo Partido para intervir na batalha política, social, de organização e ideológica, os discursos são ainda hoje valiosos. Neles se aprende História. Mas também um método de análise e de crítica, um poderoso apelo à reflexão e à intervenção política.
Ainda como secretário-geral do Partido, Álvaro Cunhal escreve novo livro. Desta vez sobre o PCP. O Partido Com Paredes de Vidro é simultaneamente uma reflexão sobre a identidade e sobre a postura e a actividade dos comunistas portugueses e, ainda, um esforço de desmistificação, uma crítica aos que, desde sempre, procuraram e procuram dar dos comunistas uma ideia errada, toldada pelo reaccionarismo e pela propaganda anticomunista.
Outros dois títulos se juntam à verdadeira batalha das ideias que Álvaro Cunhal prossegue. Um deles é o ensaio Acção Revolucionária, Capitulação e Aventura, escrito já em 1967, e que, para o leitor de hoje, constituirá um valioso motivo de reflexão sobre uma época em que se acercava o tempo do derrubamento do fascismo e quando se manifestavam entre certa oposição as ilusões e as tendências para o compromisso com a ditadura. A Verdade e a Mentira na Revolução de Abril - a contra-revolução confessa-se revela, nas mentiras primeiras dos contra-revolucionários, vinte anos depois de Abril, as confissões do que essencialmente os movia, lançando luz sobre um período exaltante da nossa história recente.
Num momento em que, naturalmente, muitos escrevem sobre a figura de Álvaro Cunhal, raramente usando a verdade, nada melhor do que proporcionar aos leitores uma leitura melhor. A dos livros deste dirigente comunista que não desiste.

Saudação do Secretariado do Comité Central

Por ocasião da passagem do teu 90º aniversário, em nome da Direcção do Partido, enviamos-te calorosas e fraternais saudações que incorporam um renovado testemunho do profundo apreço e reconhecimento de todo o colectivo partidário pela tua destacada e notável contribuição para a história, a vida e a luta do nosso Partido e para a defesa e afirmação das causas, dos valores, dos ideais e do projecto de uma sociedade liberta da exploração, que são a razão de ser da luta nacional e universal dos comunistas.
Estamos certos que o teu exemplo de dedicação, verticalidade, coerência e capacidade política continuará a acompanhar e a representar um forte estímulo e referência para o caminho áspero mas esperançoso que o nosso Partido continuará a percorrer em Portugal, sempre com os trabalhadores, sempre pela democracia, pelo socialismo e o comunismo

O Secretariado do Comité Central
do Partido Comunista Português


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Também o colectivo da Redacção do Avante! dirigiu ao camarada Álvaro Cunhal as suas felicitações, sublinhando:

«Rejuvenescido ao longo dos anos, tal como o Partido a que dá voz, o nosso colectivo é composto por camaradas mais velhos, que tiveram a possibilidade de conviver e de trabalhar contigo, e por outros, mais jovens, que recolhem do Partido a memória de outras lutas e a vontade de construir um futuro mais justo, solidário e libertador.
Todos nós juntamos as nossas vozes às dos muitos milhares de comunistas que se reconhecem na tua contribuição para esta luta que procuramos manter com o vigor que lhe tens dado sempre, nas várias circunstâncias da tua vida dedicada à causa da liberdade, da democracia, do socialismo e do comunismo.

O teu exemplo de militante e de dirigente revolucionário, orientado pelos valores e ideais comunistas, por um profundo patriotismo e pela fidelidade aos princípios do marxismo-leninismo e da solidariedade internacionalista, continua a ser uma referência para a nossa actividade militante.

Manifestando-te, neste teu aniversário, os nossos votos de melhor saúde, enviamos-te este ramo de noventa cravos, símbolo feliz de fraternidade.»

Leitura de classe

Conforme anunciámos na semana passada, o Sector Intelectual da Organização Regional de Lisboa promove, desde ontem e até às 17.00 de hoje, uma maratona de leitura integral do livro Até Amanhã, Camaradas, de Manuel Tiago.
A iniciativa, a decorrer na Sala João Hogan, na Voz do Operário, em Lisboa, prolonga-se noite dentro com a recitação de passagens de outras obras do autor, a cargo de Carmen Santos e Vítor Ribeiro, e a projecção do filme de José Fonseca e Costa, Cinco Dias, Cinco Noites, inspirado na obra homóloga de Manuel Tiago.
A finalizar está prevista a realização de um debate com a participação de Domingos Lobo, Jorge Leitão Ramos, Rogério Ribeiro e Urbano Tavares Rodrigues.


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