Parmalat em falência

Fraude milionária

Na passada semana, o governo italiano foi obrigado a aprovar uma lei, feita por medida, para tomar em mãos os destinos da multinacional Parmalat.

30 países, cerca de 37 mil postos de trabalho estão ameaçados

A insolvência do maior grupo alimentar de Itália declarou-se depois de, em 8 de Dezembro, não ter conseguido honrar uma dívida de 500 milhões de euros. O escândalo repercutiu-se de imediato na bolsa, onde as acções da Parmalat caíram a pique atingindo, no dia 22, o valor irrisório de 11 cêntimos. Retirados do índice MIB30 da bolsa de Milão, que agrupa os 30 principais grupos económicos do país, os títulos da Parmalat valem hoje menos do que uma pequena empresa.
Os fortes indícios de uma monumental fraude levaram de imediato as autoridade judiciais a abrir um processo de investigação, que decorre em simultâneo nos tribunais de Milão e de Parma, e a lançar um mandado de captura ao ex-presidente e accionista maioritário do grupo, Calisto Tanzi, que, após não ter comparecido à convocatória dos juízes de Parma, no dia 22, foi detido no passado sábado, 27, no centro de Milão.
Manifestando-se surpreendido com as notícias «quase inacreditáveis», o primeiro-ministro, Silvio Berlusconi, reagiu com prontidão para salvar o gigante agro-industrial, fazendo aprovar com urgência uma lei, que entrega à tutela do Ministério da Indústria a reestruturação do grupo. A Bruxelas deverá ainda pronunciar-se sobre o plano do governo italiano, mas este já anunciou que irá pedir à Comissão Europeia uma derrogação para poder subsidiar o sector leiteiro afectado pela crise da Parmalat.
Por avaliar estão, entretanto, as consequências desta falência nos 30 países onde a Parmalat dava emprego directo a mais a cerca de 37 mil pessoas, quatro mil dos quais em Itália, e mantinha contratos com muitos milhares de produtores que agora temem não receber pelos produtos fornecidos. Em Portugal, a empresa conta com 350 trabalhadores.

Quinze anos de falsificações

As proporções do buraco financeiro não param de aumentar e estima-se que poderá chegar aos 13 mil milhões de euros, consequência de várias irregularidades que terão sido cometidas desde 1988, quando o grupo passou por uma outra crise. Calisto Tanzi, já acusado de «associação criminal para fins de falência fraudulenta», terá ao longo dos anos subtraído às contas do grupo uma soma de 1700 milhões de euros.
Uma complexa rede de sociedades fictícias sediadas no estrangeiros, em particular nas ilhas Caimão, um paraíso fiscal, serviu para dissimular os desvios efectuados durante mais de uma década. O antigo director financeiro, Fausto Tonna, confessou à justiça ter «feito certas coisas, mas nunca por sua própria iniciativa». Tonna referiu-se a numerosos documentos falsos fabricados para esconder balanços catastróficos. Dois destes documentos foram já encontrados nas contas da empresa atestando a existência de 6,86 mil milhões de euros.
Nos primeiros nove meses de 2003, a Parmalat declarou um volume de negócios de 5,26 mil milhões de euros e uma dívida de 6,04 mil milhões de euros. O grupo anunciava dispor ainda de 4,22 mil milhões de euros em tesouraria, dos quais 1,06 mil milhões como activos disponíveis, que terão «misteriosamente» desaparecido.
Este é para já o maior escândalo financeiro de que há memória na Europa, sendo já comparado à falência da eléctrica norte-americana Enron, em dezembro de 2001.


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