- Nº 1582 (2004/03/25)
Associações de estudantes de Lisboa protestam

Manifesto gigante lembra reivindicações

Juventude
Os estudantes do superior de Lisboa pedem ao Governo que repense a sua estratégia para o sector e que não impeça as camadas mais carenciadas de estudar.

Onze associações de estudantes de instituições do ensino superior de Lisboa entregaram um manifesto em formato gigante no Ministério da Ciência e do Ensino Superior, na sexta-feira. O texto – escrito em letras grandes e colocado dentro de um longo envelope – apresentava as principais reivindicações dos estudantes, criticando as políticas do Governo para o sector e considerando-as nefastas para o futuro dos jovens.
Os estudantes não aceitam a actual Lei de Financiamento do Ensino Superior e exigem a sua imediata revogação, apelando à criação de um amplo debate efectivo sobre a Lei de Autonomia e Gestão e a Lei de Bases da Educação.
«Os estudantes do ensino superior são uma força de evolução técnica, científica e económica do País e uma camada dinâmica e participativa da sociedade. O ensino superior público constitui o espaço privilegiado de formação dos jovens enquanto cidadãos envolvidos no desenvolvimento de Portugal», declaram as AEs.
«Preocupados com o actual curso deste sistema de ensino, não aceitamos que agora se negue direitos que foram adquiridos ao longo do tempo, através das nossas lutas e contributos. Passados trinta anos sobre a Revolução dos Cravos, os estudantes apelam ao Governo e à ministra da Ciência e do Ensino Superior que repensem as suas estratégias, já que excluem a possibilidade de frequência do ensino superior às camadas mais carenciadas da população e representam um forte retrocesso na construção de uma democracia que urge tornar-se mais coesa, mais participada e mais apelativa», sustentam.
Os estudantes manifestam a «esperança de que o Governo entenda a necessidade de um ensino superior público que não tenha restrições no acesso e na frequência e que proporcione uma educação de qualidade para todos os que nele queiram ingressar».
O protesto foi organizado pelas associações de estudantes da Faculdade de Ciências, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, do Instituto Superior de Agronomia, da Faculdade de Belas Artes, do Instituto Superior Técnico, do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, da Faculdade de Letras, da Faculdade de Direito, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas e das Faculdades de Direito e de Economia da Universidade Nova.

«Canudos» para todos

Cinco mil diplomas de curso simbólicas foram distribuídos pela Associação Académica da Universidade do Minho na sexta-feira, numa acção que pretendeu mostrar que «o País precisa de investir na educação, já que só com formação de qualidade será possível vencer os desafios da produtividade e da competitividade», como explicou o presidente da associação, Jorge Cristino, em declarações à Lusa.
Quem passou pela zona da Arcada e da Avenida Central, em Braga, e pelo Largo do Toural, em Guimarães, recebeu um «canudo» concedido pelos estudantes, como forma de compensar o facto de Portugal ser o país da União Europeia com as mais baixas taxas de investimento no ensino superior, com mais licenciados no desemprego e com as piores bolsas de estudo.
«O Governo está a desinvestir na educação, esquecendo que só com formação será possível desenvolver a economia e diminuir o desemprego», acusou Jorge Cristino.
Na segunda-feira, a Associação Académica entregou um caderno reivindicativo numa reunião com o Ministério do Ensino Superior, acompanhado pelas maquetas de três projectos arquitectónicos que se encontram suspensos na Universidade do Minho: a Escolas de Direito no pólo de Braga, a biblioteca e o complexo pedagógico em Guimarães.

Greve nacional a 1 de Abril

Os estudantes do ensino superior público cumprem uma greve nacional na próxima quinta-feira, 1 de Abril. Para a tarde de ontem estava marcada uma manifestação nacional em Lisboa, com alunos de todos os pontos do País.
Anteontem, a Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências de Lisboa sublinhou, em comunicado, que a mobilização, a preparação e a discussão sobre a manifestação não teve o contributo da Associação Académica de Lisboa. Por isso, a AE «não reconhece a essa instituição nem aos seus órgãos legitimidade para expressar a reivindicação estudantil».
Os protestos e as políticas do Governo que os motivaram foram o tema do plenário nacional realizado na semana passada, em Coimbra. Na reunião, os estudantes aprovaram a realização de um «debate público alargado» sobre este subsistema, pois «é urgente demonstrar a desadequação das políticas educativas adoptadas nos últimos anos no nosso país, bem como da actual reforma legislativa», como argumenta a moção que propôs o debate, da autoria da Associação Académica de Coimbra (AAC).
A iniciativa «envolverá os parceiros educativos e tem de surgir até ao mês de Maio, porque a tutela nunca fez este debate», afirmou à imprensa Miguel Duarte, presidente da AAC. Os estudantes devem promover um debate que permita «construir, com todos os parceiros educativos, uma perspectiva de futuro para o ensino superior público, bem como uma análise do binómio educação/desenvolvimento», considera a academia.
No plenário participaram estudantes de universidades de Aveiro, Beira Interior, Coimbra, Minho, Lisboa e Porto. Alguns intervenientes defenderam que os problemas do ensino superior só poderão ser solucionados com a demissão do Governo de Durão Barroso. «Derrubar o Governo com a nossa luta parece a única resposta que podemos dar», defendeu um estudante na ocasião, citado pela Lusa.