Abril, o futuro

José Casanova
A pretexto das comemorações do 30.º aniversário de Abril, prossegue e intensifica-se o processo de revisão contra-revolucionária da história da revolução de Abril. Deu o mote o «Comissário» designado pelo Governo Barroso/Portas: em vez de revolução, «evolução», ensina ele. Senão veja-se, acrescenta e explica, a actual «maturidade democrática nacional» deste «regime que chegou à idade adulta», desta «democracia consolidada, desenvolvida, em que os indicadores económicos e sociais se situam a níveis semelhantes aos das demais democracias ocidentais». Ou seja, e traduzindo: apesar da revolução e graças à contra-revolução, aqueles que o «Comissário» serve, vivem, hoje, no mesmo sereno mar de rosas habitado pelos seus homólogos europeus.
Palavras não eram ditas e logo entrou em palco o habitual coro síncrono da turba canora de serviço à «democracia madura». Instalados nas democráticas poltronas da política de direita e exibindo as modernidades da praxe, repetem todas as falsificações conhecidas sobre a revolução de Abril e acrescentam-lhes outras patranhas de autoria recente, talvez inspiradas nas palavras do «Comissário» e todas apresentadas como factos incontestáveis e incontestados.
Longe estão, para todos eles, e por tal suspiram de alívio, os tempos da revolução de má memória: esses tempos em que, por efeito de notáveis avanços sociais, económicos, políticos, culturais, civilizacionais, conquistados no decorrer do processo revolucionário, a maioria dos portugueses atingiu níveis de vida nunca até então alcançados – e a que a contra-revolução pôs termo repondo a exploração e a opressão e procedendo a uma desigual, injusta e antidemocrática repartição da riqueza; esses tempos em que Portugal ocupou a primeira fila da modernidade na Europa – a modernidade de facto, gerada pelo novo, e não a velharia travestida de modernidade que se lhe seguiu e hoje impera; esses tempos em que o conteúdo participativo, pedra de toque da democracia, da liberdade e da modernidade, atingiu singular expressão massiva – e que a contra-revolução eliminou, em nome da democracia, da liberdade e da modernidade; esses tempos que, precisamente pelo seu conteúdo progressista, novo, inovador, revolucionário, constituíram um momento maior da história de Portugal e nos mostraram um bocadinho do sonho materializado – sonho que permanece vivo e a apontar para o futuro.


Mais artigos de: Opinião

Aceitam-se palpites

Noticiando um debate promovido pelas Fundações Ebert e José Fontana, sob o título «Ferro quer mudanças no sindicalismo», o «DN» informava no sábado que o líder do PS defendera «novos modelos de diálogo e de concertação social, mais micro e menos globais, para resolver problemas e não para ocupar tempos de antena»....

O «Sr. Terrorismo» & Cia

Os atentados terroristas de 11 de Março em Madrid, sendo o que são - um crime hediondo da ultra-direita confessional «islâmica» e um brutal «dano colateral» da rapina e da guerra imperialista, imposta ao mundo pelos mega-interesses, pelos carteis dos armamentos e do petróleo, e pela extrema direita Republicana dos USA...

Lembrar a Jugoslávia

No dia 24 de Março fez cinco anos que a NATO desencadeou a agressão contra a Jugoslávia. Em 78 dias, os pilotos da Aliança executaram 35 mil ataques, lançando 20 mil toneladas de bombas, mísseis e armas de urânio internacionalmente proibidas que atingiram a população civil, pontes, comboios, estradas, hospitais,...

O Manifesto

Há obras cuja contribuição para o progresso da sociedade humana, não só não enfraquecem, como a sua importância e grandeza só verdadeiramente se medem com o passar dos tempos. O Manifesto do Partido Comunista de Marx e Engels é precisamente uma dessas obras, apesar de ter completado no passado mês de Fevereiro 166 anos de existência.

Fugas

Segundo investigação levada a cabo pelo Jornal de Negócios, das 316 mil empresas que entregaram a respectiva declaração de rendimentos relativa ao ano de 2002, apenas 42% pagaram IRC (ou seja, cerca de 133 mil empresas).Em contrapartida, uma maioria de 58% destas empresas não pagou qualquer imposto ao Estado por, na...