PRESOS EM LUTA

Jorge Cadima

Os palestinianos precisam urgentemente da solidariedade dos trabalhadores e dos povos do mundo!

Milhares de palestinianos, detidos nas prisões israelitas, entraram em greve de fome. De acordo com um comunicado do Comité das Famílias dos Presos e Detidos Palestinianos, em que se pede solidariedade internacional, os presos palestinianos «queixam-se de que as condições de detenção assemelham-se às da prisão de Abu Ghraib no Iraque», incluindo «espancamentos indiscriminados e brutais»; «o lançamento indiscriminado e arbitrário de gases lacrimogéneos»; «buscas humilhantes, com os presos a serem despidos em frente de outros presos e de guardas», prática que se aplica também aos familiares durante as visitas; o recurso ao «isolamento total ... durante meses e até anos»; a «aplicação de penalizações financeiras» por infracções menores, «tais como cantar ou falar demasiado alto»; a «detenção de crianças juntamente com presos adultos e de presos políticos com presos de delito comum». As autoridades israelitas já reagiram, com o seu habitual desprezo. Segundo o referido comunicado das Famílias dos Presos, o Ministro israelita da Segurança Pública declarou, numa conferência de imprensa realizada em 13 de Agosto, que os presos «podem fazer greve durante um dia, um mês ou até á morte pela fome: nós não vamos responder às suas exigências».

O êxito da luta dos presos palestinianos vai depender de forma decisiva da solidariedade dos povos do mundo. A «mãe de todas as democracias ocidentais» (os EUA) apoia incondicionalmente qualquer atrocidade cometida pelo governo israelita. Dos governos da UE não se pode esperar qualquer posição firme e consequente. Tal como da comunicação social ao serviço do grande capital. Veja-se a sua «apatia» ao noticiar o escândalo dos quase diários assassinatos de palestinianos pelo governo israelita, que já se contam aos milhares. Veja-se a «normalidade» com que encaram o facto de o Presidente Arafat, livremente eleito pelo povo palestiniano, estar, já há anos, cercado pelas tropas de ocupação israelita na sede de governo do Estado Palestiniano (cuja existência todos, oficialmente, dizem apoiar). Veja-se o seu «pouco interesse» pela prática corrente das autoridades israelitas demolirem casas (em muitos casos prédios de vários andares) de palestinianos, deixando centenas de pessoas desalojadas. Quantos portugueses sabem que uma jovem norte-americana, Rachel Corrie, foi morta em 2003, propositadamente esmagada por um bulldozer do Exército israelita, enquanto procurava generosamente impedir uma dessas demolições? E que as forças armadas de Israel também já mataram a sangue frio médicos ingleses e funcionários da ONU? O recente parecer do Tribunal Internacional de Justiça da Haia condenando como ilegal o criminoso Muro do Apartheid que o governo Sharon está a construir no interior do território palestiniano ocupado e pedindo o seu desmantelamento imediato está a ser rapidamente «esquecido». Tal como a posterior resolução (20 de Julho) da Assembleia Geral da ONU em sentido análogo. O silêncio das auto-proclamadas «democracias ocidentais» sobre os crimes dos fascistas que governam Israel é um dos maiores escândalos dos nossos dias, já de si tão pródigos em escândalos.

É de prever que, no decurso desta luta dos presos palestinianos pela sua dignidade, seja de novo lançada muita poeira para os olhos dos povos do mundo. Mas isso não deve desviar a atenção da questão central e fundamental. Os quase 8000 palestinianos presos são vítimas da ocupação ilegal e criminosa dos territórios palestinianos por parte de Israel. Uma ocupação que dura há várias décadas (desde muito antes de se registar o primeiro caso de bombista suicida). Que viola inúmeras resoluções da ONU. Que tem sido acompanhada (desde antes mesmo da criação do Estado de Israel) duma política permanente de violência, massacres e limpeza étnica contra a população palestiniana. Os palestinianos precisam urgentemente da solidariedade dos trabalhadores e dos povos do mundo!


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