
- Nº 1606 (2004/09/9)
Música e poesia
Festa do Avante!
Este ano o Palco da Solidariedade, no seu vasto programa de entretenimento e debate, homenageou duas grandes figuras da cultura mundial, dois comunistas: Carlos Paredes e Pablo Neruda. O primeiro tributo, a Carlos Paredes, que se realizou na noite de sábado, encheu-se de gente.
Todos queriam ver, ouvir, dançar, relembrar as músicas que fizeram parte de uma geração de combatentes, que lutaram, com a sua obra, e não só, contra o fascismo. José Afonso, Adriano Correia de Oliveira e Manuel Freire foram alguns dos autores evocados. No final de cada interpretação, o público, sedento de só mais uma música, aplaudia entusiasticamente os interpretes.
No domingo, foi a vez de homenagear Pablo Neruda, prémio Nobel da Literatura em 1971. Odete Santos, Carlos Gomes (viola) e Jorge Serafim, num espectáculo de música e poesia, cor e alegria, recriaram algumas das obras do poeta, marxista e revolucionário, que um dia recitou, para sempre, as angústias de Espanha, em 1936, e a condição dos povos latino-americanos e seus movimentos literários. Morreu a 23 de Setembro de 1973, em Santiago do Chile, oito dias após a queda do governo da Unidade Popular e do assassinato de Salvador Allende.
No final, foram ouvidas frases como: «O povo unido, jamais será vencido», «Viva a solidariedade entre os povos», uma forma que o público arranjou para galardoar o espectáculo.
Durante os três dias, numa panóplia multicultural, subiram ainda ao Palco da Solidariedade «Oleg Tsoumakov» (Rússia); os «Entredanzas» (Espanha); os «Vira Nova» (Portugal); «Fábio Pertence» (Brasil), os «Tocá Arrufar» (Portugal); os «Prisca Dietrich» (Grécia); o «Batuque» (Cabo Verde), entre muitos outros.
O último espectáculo
Os «Navio Negreiro» fecharam, este ano, em grande estilo, o Palco da Solidariedade. Centenas de pessoas, já fãs da banda brasileira, ao tardar da noite, esperavam ansiosamente, aquele que poderá ter sido um dos melhores espectáculos da Festa do Avante!. Manifestando-se, nas suas letras, contra o fascismo, pela beleza de cultura e raças, os Navio Negreiro, com a sua música, provaram que a mistura é sempre mais rica e mais bela.
Poetas e militantes da luta das classes mais oprimidas, os membros da banda brasileira levaram poesia, alegria e entusiasmo à plateia, que não parou de dançar até que se desligaram os amplificadores daquele espaço.