
- Nº 1616 (2004/11/18)
O «sequestro» do coronel
Internacional
Perseguido, preso, torturado, assassinado, desaparecido e… nada aconteceu!
O coronel (reformado) Silvino Bustillos, membro do Bloco Democrático(?)é dos que afirma publicamente que há uma só forma de Chávez sair: a violência.
A 31 de Outubro, depois de votar e no seguimento de uma situação ainda pouco esclarecida, desapareceu repentinamente sem qualquer explicação. Num país onde são os meios de comunicação quem impõe a agenda política da oposição, apareceram logo notícias alarmantes sobre o destino do ex-coronel e as culpas caíram de imediato sobre as autoridades venezuelana, que teriam inaugurado uma nova «era de repressão» com «desaparecidos» e tudo o mais que caracterizou as piores ditaduras da América Latina.
A 7 de Novembro, no semanário La Razón, em primeira página e a todo o tamanho, Manuel Molina, ex-deputado, ex-presidente do Colégio de Jornalistas e dirigente oposicionista confirmava que o «primeiro crime político da revolução» estava consumado. E os detalhes abundavam. Bustillos fora detido, tinha sido torturado na Divisão de Inteligência Militar (DIM) e morrera nas mãos dos seus carrascos, que fizeram desaparecer o cadáver.
Obviamente, a sua fonte, um oficial da CIA, era totalmente fidedigna. Os média tinham encontrado um filão para desacreditar o governo bolivariano e não perdoaram. Familiares do ex-coronel e chefes e chefinhos da oposição vomitavam acusações a torto e a direito, especialmente contra Chávez, por este crime que confirmava a «vocação repressiva do regime». Durante 10 dias, foi a notícia coqueluche da reacção venezuelana. Vinha mesmo a calhar, com Bush repotenciado e Fallujah a ser arrasada. Bom presságio!
Mas não há bela sem senão… No dia 9 de Novembro o castelo de areia ruiu.
Manuel Molina apresentou-se no canal do Estado para informar que o ex-coronel estava vivo e em perfeito estado de saúde, numa cidade perto da capital. A sua fonte, disse, tinha mentido. Noutro canal, o advogado do ex-militar confirmava igualmente a notícia e acrescentava que o «desaparecido» tinha estado «escondido» porque «temia pela sua vida». Mais: não tinha comunicado «com a família durante 10 dias» porque «estava a ser perseguido pela DIM». Molina, evidentemente contrariado pelo papel ridículo que lhe tocara nesta farsa, declarou: «Não se pode brincar com o país, não se pode brincar com a opinião pública, não se pode brincar, muito menos, com o seu grupo familiar».
Entretanto, o ex-coronel, depois de deixar a oposição no mais completo ridículo – coisa de pouca monta para os burlados –, continua sem vir ao palco, talvez porque esteja no camarim e em boa companhia. Esquece uma coisa. Agora sim, está em sério perigo. Vivo, deixou de ser útil para uma oposição que já provocou inclusive mortos, que não vacila em devorar os seus próprios filhos quando tal lhe convém. Por outro lado, a esposa não deve ter achado piada alguma a toda este dramalhão e como escrevia há pouco uma analista «uma mulher ciumenta pode ser muito mais terrível que o pior dos torturadores.»
Se Silvino Bustillos quer chegar a velho, talvez lhe convenha seguir nos «braços» da clandestinidade…
Bustillos, um caso único?
Esta não é a primeira farsa do género e não será a última. Há alguns anos, um magnata da oligarquia esteve sequestrado durante mais de um ano, alegadamente pelos bolivarianos. Quando apareceu, o raptado, de seu nome Boulton, desmentiu totalmente as afirmações dos média e agradeceu a ajuda oficial na sua libertação. Há também o caso de Omar Calderón, opositor furibundo. De novo, era obra do governo. Houve manifestações e marchas para que Calderón aparecesse… vivo ou morto. Uma vez resgatado, negou que tivesse sido sequestrado pelo governo. E terminemos esta estória com o caso de Maria Isabel, ex-mulher de Chávez. Timoteo Zambrano, um oposicionista de proa, à falta de melhor ensejo para ganhar palco, denunciou que ela tinha sido sequestrada pelo chavismo e meteu a Cruz Vermelha no assunto para que
ajudasse no resgate. Outra provocação. A «vítima» apareceu quase de imediato num centro comercial e desmentiu totalmente a notícia. O denunciante limitou-se a meter o rabo entre as pernas e saiu do palco a assobiar…
Entretanto… Confirma-se a notícia de que os bolivarianos conseguiram 20 das 22
governações em discussão e ganharam 270 das 335 câmaras municipais do país. São, de longe a primeira força da Venezuela. O mapa político mudou radicalmente, por mérito dos resultados do processo bolivariano e também pelos erros políticos da oposição.
Pedro Campos