ASSIM VAI A CAMPANHA
«A confirmar a necessidade premente de uma mudança a sério»
Santana Lopes bateu o recorde nacional de inaugurações em tempo de campanha eleitoral: onze em duas horas. Demorando um pouco mais tempo, o secretário de Estado da Família, que, não por acaso, é candidato do PSD pelo Porto, procedeu a 26 inaugurações, lançamentos de primeiras pedras e distribuições de cheques no distrito onde é candidato. Trata-se da caça ao voto com dinheiros públicos – prática recorrente dos vários governantes ao longo de longos vinte e oito anos. Curiosamente, nos brevíssimos intervalos entre cada uma das inaugurações em que eleitoralou, Santana Lopes teve ainda tempo para intimar o Presidente da República a zelar pela democraticidade da campanha eleitoral, nomeadamente obrigando José Sócrates a debater com ele, Santana Lopes, não se sabe bem o quê. O PR respondeu pedindo aos partidos que discutam «os problemas dos portugueses» – pedido desnecessário no que respeita à CDU, mas que aqui se regista.
Enquanto isso, o líder do CDS-PP apresentou uma série de candidatos a ministros e, pragmático, manifestou abertura para todo e qualquer entendimento que lhe permita continuar a fazer parte do governo – seja com o PS, seja com o PSD.
Entretanto, a telenovela dos debates ameaça ocupar a parte maior do espaço e do tempo mediáticos: se há ou não há debates, eis «o acontecimento da semana». Santana Lopes e José Sócrates acusam-se mutuamente – e assim vão fugindo à questão essencial: ambos receiam ser confrontados, num debate a cinco, com «os problemas dos portugueses» (que Jerónimo de Sousa não deixaria de trazer a lume): a destruição do aparelho produtivo, o desemprego, os baixos salários e reformas, a distribuição da riqueza...
É verdade que Santana Lopes e José Sócrates terão grandes dificuldades em encontrar tema de debate a dois, tão perfeita é a sintonia entre eles nas questões fulcrais: em tudo o que é essencial e estruturante, a soma dos programas do PS e do PSD é igualzinha ao programa do Bloco Central comum aos dois. A dividir os dois líderes – que, em 2004 foram os convidados de honra da Trilateral – há, apenas, esse toque de modernidade que dá pelo nome de «choque»: para o líder do PS, o «choque» é «tecnológico», para o do PSD, o «choque» é «de gestão».
Autêntico choque é, por exemplo, o combate de José Sócrates ao desemprego, anunciado com o tema de O Gladiador como música de fundo. Ele promete criar 150 mil novos postos de trabalho nos próximos quatro anos e reduzir drasticamente o número de desempregados que é superior a 500 mil. No entanto, um denso nevoeiro envolve esta promessa: para além de nada dizer sobre como e onde vai conseguir esses 150 mil novos postos de trabalho, José Sócrates parece não estar a ver todos os ângulos do problema. Ou seja: os 150 mil novos postos de trabalho que ele, eventualmente, criará, não chegam para compensar as dezenas de milhares de trabalhadores que, seguramente, nos próximos quatro anos, se juntarão ao exército de desempregados e os mais de duzentos mil jovens que, nesse mesmo período, deveriam entrar no mercado de trabalho. Assim, o mais provável é que a promessa de José Sócrates em matéria de combate ao desemprego venha a traduzir-se num aumento considerável do número de desempregados – e para que esse aumento seja coisa certa, ele propõe que a idade da reforma seja aumentada para os setenta anos.
Oriundos, segundo consta, de áreas distintas da família rosa, António Guterres e Manuel Alegre entraram, também, em cena nos últimos dias. O primeiro para exigir a maioria absoluta sem a qual, acha ele, o PS não tem condições para governar, isto é, para aplicar à vontade a política de direita. E tamanha é a sua obsessão pela maioria absoluta que não hesitou em afirmar, com trinados de esquerda moderna na voz, que se o PS não puder obtê-la, então que a obtenha o PSD: sem maioria absoluta é que nada feito. Quanto ao segundo – cumprindo o seu papel de esquerda de serviço à defesa do PS praticante da política de direita - representou uma vez mais um seu sketch, velho de mais de um quarto de século: «O PCP faz do PS o seu adversário principal». Já lhe foi dito – mas não deu qualquer sinal de ter ouvido - que o adversário principal de nós todos é a política de direita e que a esquerda só pode defender e fazer uma política de esquerda e que é por esta que o PCP continuará a lutar.
Por seu lado, Francisco Louçã, em debate, começou por disparar sobre o seu opositor, sem se aperceber de que estava a disparar contra propostas que embandeiram festivamente o programa do BE. Acresce que o líder bloquista decidiu que quem não tem filhos não tem o direito de se pronunciar sobre a questão do aborto (assim negando, objectivamente, o direito de voto a uma imensidão de portugueses e portuguesas num eventual referendo sobre a matéria). Postas as coisas deste jeito, manda a coerência que o BE introduza duas novas causas no seu programa eleitoral: uma, proibindo de votar quem não tenha filhos; outra concedendo a cada cidadão e a cada cidadã tantos mais votos quantos mais filhos tiverem. Quanto ao resto, o BE continua igual a si próprio: um partido de causazinhas – muitas delas copiadas, surripiadas, plagiadas e que, depois de devidamente enfeitadas, são difundidas pela comunicação social dominante como coisa nova e produto da casa .
Assim vai a campanha. A confirmar a necessidade premente de uma mudança de política. Uma mudança a sério. Só possível com mais votos e mais deputados para a CDU.
Enquanto isso, o líder do CDS-PP apresentou uma série de candidatos a ministros e, pragmático, manifestou abertura para todo e qualquer entendimento que lhe permita continuar a fazer parte do governo – seja com o PS, seja com o PSD.
Entretanto, a telenovela dos debates ameaça ocupar a parte maior do espaço e do tempo mediáticos: se há ou não há debates, eis «o acontecimento da semana». Santana Lopes e José Sócrates acusam-se mutuamente – e assim vão fugindo à questão essencial: ambos receiam ser confrontados, num debate a cinco, com «os problemas dos portugueses» (que Jerónimo de Sousa não deixaria de trazer a lume): a destruição do aparelho produtivo, o desemprego, os baixos salários e reformas, a distribuição da riqueza...
É verdade que Santana Lopes e José Sócrates terão grandes dificuldades em encontrar tema de debate a dois, tão perfeita é a sintonia entre eles nas questões fulcrais: em tudo o que é essencial e estruturante, a soma dos programas do PS e do PSD é igualzinha ao programa do Bloco Central comum aos dois. A dividir os dois líderes – que, em 2004 foram os convidados de honra da Trilateral – há, apenas, esse toque de modernidade que dá pelo nome de «choque»: para o líder do PS, o «choque» é «tecnológico», para o do PSD, o «choque» é «de gestão».
Autêntico choque é, por exemplo, o combate de José Sócrates ao desemprego, anunciado com o tema de O Gladiador como música de fundo. Ele promete criar 150 mil novos postos de trabalho nos próximos quatro anos e reduzir drasticamente o número de desempregados que é superior a 500 mil. No entanto, um denso nevoeiro envolve esta promessa: para além de nada dizer sobre como e onde vai conseguir esses 150 mil novos postos de trabalho, José Sócrates parece não estar a ver todos os ângulos do problema. Ou seja: os 150 mil novos postos de trabalho que ele, eventualmente, criará, não chegam para compensar as dezenas de milhares de trabalhadores que, seguramente, nos próximos quatro anos, se juntarão ao exército de desempregados e os mais de duzentos mil jovens que, nesse mesmo período, deveriam entrar no mercado de trabalho. Assim, o mais provável é que a promessa de José Sócrates em matéria de combate ao desemprego venha a traduzir-se num aumento considerável do número de desempregados – e para que esse aumento seja coisa certa, ele propõe que a idade da reforma seja aumentada para os setenta anos.
Oriundos, segundo consta, de áreas distintas da família rosa, António Guterres e Manuel Alegre entraram, também, em cena nos últimos dias. O primeiro para exigir a maioria absoluta sem a qual, acha ele, o PS não tem condições para governar, isto é, para aplicar à vontade a política de direita. E tamanha é a sua obsessão pela maioria absoluta que não hesitou em afirmar, com trinados de esquerda moderna na voz, que se o PS não puder obtê-la, então que a obtenha o PSD: sem maioria absoluta é que nada feito. Quanto ao segundo – cumprindo o seu papel de esquerda de serviço à defesa do PS praticante da política de direita - representou uma vez mais um seu sketch, velho de mais de um quarto de século: «O PCP faz do PS o seu adversário principal». Já lhe foi dito – mas não deu qualquer sinal de ter ouvido - que o adversário principal de nós todos é a política de direita e que a esquerda só pode defender e fazer uma política de esquerda e que é por esta que o PCP continuará a lutar.
Por seu lado, Francisco Louçã, em debate, começou por disparar sobre o seu opositor, sem se aperceber de que estava a disparar contra propostas que embandeiram festivamente o programa do BE. Acresce que o líder bloquista decidiu que quem não tem filhos não tem o direito de se pronunciar sobre a questão do aborto (assim negando, objectivamente, o direito de voto a uma imensidão de portugueses e portuguesas num eventual referendo sobre a matéria). Postas as coisas deste jeito, manda a coerência que o BE introduza duas novas causas no seu programa eleitoral: uma, proibindo de votar quem não tenha filhos; outra concedendo a cada cidadão e a cada cidadã tantos mais votos quantos mais filhos tiverem. Quanto ao resto, o BE continua igual a si próprio: um partido de causazinhas – muitas delas copiadas, surripiadas, plagiadas e que, depois de devidamente enfeitadas, são difundidas pela comunicação social dominante como coisa nova e produto da casa .
Assim vai a campanha. A confirmar a necessidade premente de uma mudança de política. Uma mudança a sério. Só possível com mais votos e mais deputados para a CDU.