A campanha permanente
No momento em que escrevo, dir-se-ia que a mais curiosa telenovela em curso na televisão, e por sinal em mais de um canal simultaneamente, é a da polémica acerca dos debates pré-eleitorais entre os líderes dos partidos com assento na Assembleia da República. Se bem entendo, nem o eng. Sócrates nem o dr. Santana Lopes estão doidamente interessados nesses encontros, o primeiro porque tem pouco a dizer e escasso jeito para uma conversa que não tenha involuntários tons de petulância, o segundo porque tudo o que seja falar dos seus meses de governação lhe é incómodo e parece perigoso. De onde uma espécie de jogo de esconde-esconde que, contudo, deverá ter fim; que talvez o tenha tido no dia em que estas linhas forem publicadas, porque de facto os debates no decurso de campanhas ou pré-campanhas eleitorais tornaram-se tacitamente obrigatórios. Para esclarecimento do eleitorado, ao que parece. Para que o acto eleitoral se realize em plenas circunstâncias de democraticidade. Pois está entendido, e muito bem, ainda que seja aspecto pouco explicitado, que a prática democrática consubstanciada no acto de votar só tem inteiro sentido e só corresponde às exigências da democracia se cada eleitor tiver podido aceder a um esclarecimento amplo e plural, sem discriminações, obviamente anterior ao momento do voto. Sem essa de facto indispensável condição prévia, a escolha eleitoral arrisca-se a parecer-se com uma espécie de corrida onde ceguinhos ou, vá lá!, míopes, são empurrados para itinerários que não são do seu interesse mas são-nos de quem empurra. Ou manda empurrar. Isto é qualquer coisa que não custa a perceber, e até admira que seja tão poucas vezes lembrado. O pior é que o esclarecimento pleno do eleitorado acerca de todas as questões importantes que de facto estão em jogo numa eleição, embora nem sempre e nem todas de uma forma evidente, não é processo que se conclua em quatro ou cinco semanas: é tarefa que reclama um trabalho continuado e que supõe uma situação de pluralidade sempre mantida, designadamente ao nível dos media. No tempo do fascismo é que as eleições de faz-de-conta organizadas depois de 45 eram precedidas de uns dias em que se afrouxava a rolha da censura, mas já não estamos nessa. Embora as actuais circunstâncias pareçam por vezes convidar-nos a escrever, de preferência, que já não estamos bem nessa.
E, contudo, ele resiste
A questão é simples e é evidente para quem queira dar por ela: a prática dos grandes media portugueses, salvo eventuais excepções, equivale a uma situação de permanente campanha eleitoral, isto é, de informação unilateral ou de desinformação sem escrúpulos, não a favor de um dos partidos que se vêm alternando no poder, mas sim de indisfarçado teor anticomunista e, portanto, anti-PCP. A sistemática omissão das realizações do Partido Comunista, a falsificação das suas posições, o descarado empolamento da actividade do punhadinho de cidadãos a quem a caridade manda aplicar por eufemismo a palavra «dissidente», a tentativa aliás inepta de colar algum ridículo à figura de um dirigente comunista (p.e., «Jerónimo de Sousa dança!», «Jerónimo de Sousa gosta de música!»), o obstinado pendor para responsabilizar os comunistas portugueses por maldades que terão sido cometidas por comunistas dos antípodas ou quase, tudo isso consubstancia de facto uma campanha eleitoral permanente que, esperam-no os seus mentores, há-de resultar um dia no tão desejado falecimento da presença eleitoral do Partido Comunista Português. Assim, quando uma pré-campanha eleitoral se inicia, o anticomunismo já entra mais engordado por um substancialíssimo avanço; já durante meses e meses conquistou, impostura a impostura, o espírito dos mais despolitizados, dos mais crédulos, e naturalmente dos que por interesse próprio sempre querem acreditar naquilo que lhes convém. E, contudo, para espanto de muitos e grande desespero de alguns, o PCP resiste mesmo no plano eleitoral, que nem é o único em que existe nem aquele para que estará mais vocacionado, ele, que todos os dias se aplica a defender os cidadãos ameaçados por opressões, espoliados pelos que se sentem senhores da vida, sem que para tanto prefira esperar por eleições que se avizinhem. E acontece mesmo que, a despeito dos anos de permanente campanha eleitoral anti-PCP, se pressente que a 20 do próximo mês o Partido Comunista sairá reforçado do acto eleitoral. Por vários motivos, entre os quais avultará um: é que a mentira também cansa, e o cansaço a desmascara.
E, contudo, ele resiste
A questão é simples e é evidente para quem queira dar por ela: a prática dos grandes media portugueses, salvo eventuais excepções, equivale a uma situação de permanente campanha eleitoral, isto é, de informação unilateral ou de desinformação sem escrúpulos, não a favor de um dos partidos que se vêm alternando no poder, mas sim de indisfarçado teor anticomunista e, portanto, anti-PCP. A sistemática omissão das realizações do Partido Comunista, a falsificação das suas posições, o descarado empolamento da actividade do punhadinho de cidadãos a quem a caridade manda aplicar por eufemismo a palavra «dissidente», a tentativa aliás inepta de colar algum ridículo à figura de um dirigente comunista (p.e., «Jerónimo de Sousa dança!», «Jerónimo de Sousa gosta de música!»), o obstinado pendor para responsabilizar os comunistas portugueses por maldades que terão sido cometidas por comunistas dos antípodas ou quase, tudo isso consubstancia de facto uma campanha eleitoral permanente que, esperam-no os seus mentores, há-de resultar um dia no tão desejado falecimento da presença eleitoral do Partido Comunista Português. Assim, quando uma pré-campanha eleitoral se inicia, o anticomunismo já entra mais engordado por um substancialíssimo avanço; já durante meses e meses conquistou, impostura a impostura, o espírito dos mais despolitizados, dos mais crédulos, e naturalmente dos que por interesse próprio sempre querem acreditar naquilo que lhes convém. E, contudo, para espanto de muitos e grande desespero de alguns, o PCP resiste mesmo no plano eleitoral, que nem é o único em que existe nem aquele para que estará mais vocacionado, ele, que todos os dias se aplica a defender os cidadãos ameaçados por opressões, espoliados pelos que se sentem senhores da vida, sem que para tanto prefira esperar por eleições que se avizinhem. E acontece mesmo que, a despeito dos anos de permanente campanha eleitoral anti-PCP, se pressente que a 20 do próximo mês o Partido Comunista sairá reforçado do acto eleitoral. Por vários motivos, entre os quais avultará um: é que a mentira também cansa, e o cansaço a desmascara.