Milhares saem à rua

Russos contestam Putin

Milhares de russos contestam, desde há duas semanas, os cortes nos benefícios sociais que ameaçam espalhar a miséria e a indigência entre os pensionistas e idosos.

«Um terço da população pretende o regresso da economia planificada»

Ano novo, novos protestos. Nem o frio afasta milhares de russos das ruas das principais cidades onde, desde há duas semanas, se manifestam contra os cortes impostos pelo governo de Vladimir Putin nos benefícios sociais.
Pressionado pelo desencadeamento de protestos históricos desde a sua reeleição, em 2000, o presidente russo veio entretanto criticar a forma como foram avançadas as medidas, mas pouco ou nada recuou relativamente ao conteúdo fundamental das políticas.
O primeiro-ministro, Mikhail Fradkov, anunciou a abertura de um período de diálogo com os executivos regionais para amenizar o impacto dos cortes sociais, particularmente no que diz respeito aos subsídios dos transportes públicos, electricidade, gás e rendas das habitações. Fradkov propõe igualmente um aumento das pensões em cerca de 240 rublos, valor que o Partido Comunista da Federação Russa e o Partido da Pátria, representados na Duma, consideram mais que insuficiente para pelo menos manter as actuais condições de vida de cerca de 40 milhões de pensionistas e idosos.

Assim manda o capital

A gratuitidade dos transportes públicos e o fornecimento de gás, electricidade, habitação e medicamentos a preços extremamente baixos favoreciam actualmente cerca de 40 milhões de reformados, militares e polícias. Apesar de depauperados pela economia capitalista, estas camadas da população resistiam à miséria que afecta milhões de pessoas na Rússia muito por força destes benefícios sociais.
A extensão do mercado capitalista a todos os sectores da economia russa obriga, no entanto, ao fim dos mecanismos de justiça social herdados do sistema socialista da União Soviética.
Sondagens recentemente efectuadas revelam que um terço da população pretende o regresso do sistema de economia planificada e a assunção por parte do Estado das anteriores garantias sociais.

Feitas as contas, tudo para a rua

O governo russo não contava que o povo se mobiliza-se com tamanha força e consciência. A dinâmica dos comunistas muito tem contribuído para que milhares de pessoas saiam à rua e, indicam os protagonistas, no final do mês os protestos podem subir de tom com a chegada das facturas da gás e electricidade, agora a preços totalmente liberalizados.
No sábado passado, milhares de russos percorreram as cidades de Moscovo, Samara, Astrakhan, Orekhovo-Zuyevo e Stavropol, entre outras, exigindo a demissão de Putin.
Mesmo nas regiões mais distantes do vasto território do país, o povo responde ao apelo dos comunistas e bloqueia vias de comunicação como forma de demonstrar a indignação, episódio que se repetiu numa das principais auto-estradas da capital impedindo o tráfego em direcção ao aeroporto internacional.
No transato dia 9, mais de dez mil pessoas manifestaram-se em São Petersburgo, iniciativa que ficou manchada com a morte de um idoso. De acordo com testemunhos recolhidos por agências internacionais, os manifestantes bloquearam a passagem de um automóvel de luxo, o qual, abertas as «estradas» da opulência neoliberal desde os anos 90, não se coibiu de atropelar um reformado à beira da indigência.
No mesmo dia, em Kaliningrado, um polícia não acreditou que tinha que pagar o bilhete de autocarro e deteve o motorista para explicações na esquadra.

Indignação em Beslan

Os familiares das vítimas do sequestro de Setembro do ano passado na cidade de Beslan, na Ossétia do Norte, bloquearam durante três dias uma das principais auto-estradas da região em protesto contra a inépcia do governo russo na condução das investigações ao sucedido.
Os parentes dos mais de 300 mortos, entre os quais pelo menos metade eram crianças, só abandonaram a barricada depois de Dimitry Kozak, enviado de Moscovo no Caucaso, ter garantido o reinicio das conversações com as famílias envolvidas.
Alexander Dzasokhov, presidente do governo da região, é outro dos alvos da contestação. Acusado de não tomar medidas céleres e eficazes no apuramento da verdade, os pais e amigos das vítimas exigem a sua imediata demissão.
A população de Beslan quer ainda ver esclarecidas as razões pelas quais as autoridades locais foram incapazes de travar o assalto do comando checheno a uma escola primária no dia de abertura do ano lectivo.
Quanto ao governo russo, apesar de ter conseguido suspender as manifestações até ao dia de hoje, vê-se obrigado a explicar a acção de força empreendida pelos seus operacionais militares, sobretudo depois da divulgação de um vídeo que revela que as primeiras negociações com os raptores foram bem sucedidas.
As imagens mostram a libertação de alguns pais e crianças de mais tenra idade lançando a dúvida: Porque razão o processo foi interrompido?
Recorde-se que o executivo de Vladimir Putin já tinha sido acusado de precipitação e abuso da força no assalto a um teatro de Moscovo igualmente ocupado por guerrilheiros chechenos com centenas de pessoas no interior.


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