- Nº 1627 (2005/02/3)

Más novas vindas de Espanha

Opinião

De Espanha, chega-nos a notícia, triste, de que as Comissões Obreras e a UGT estão a levar a cabo uma campanha apelando aos trabalhadores para que votem sim à «Constituição Europeia». Os secretários gerais das duas organizações anunciaram a decisão numa conferência de imprensa conjunta, no decorrer da qual não se cansaram de elogiar a dita «Constituição», as perspectivas positivas, segundo eles, de que vem carregada, o seu conteúdo «social» – e todas as outras balelas que ao grande capital interessa que sejam ditas, tanto melhor se forem dirigentes sindicais a dizê-lo.
Deixemos de lado as declarações do homem da UGT – do qual, lá como cá, como em todo o lado onde existem ugêtês com esse ou outro nome, tudo é esperável em matéria de agradar ao grande patronato – e fixemo-nos em algumas das afirmações produzidas pelo secretário geral das Comissões Obreras, José Maria Fidalgo. Depois de, numa cavalgada épica, realçar aquilo a que chama «a aposta da Constituição em valores fortes como a paz mundial, a liberdade, a luta contra a exclusão social, o desenvolvimento sustentado», Fidalgo, ao que consta falando a sério, garante que «este texto europeu foi construído de forma participativa e transparente». Ora, os «fortes valores» enunciados por Fidalgo são exactamente o oposto daquilo em que a União Europeia do grande capital aposta. E quanto a participação e transparência só quem quiser ser cego é que não vê que se trata de conceitos totalmente arredados de todo o processo de construção desta União Europeia.
A verdade é que a dita «constituição» não é mais do que um passo em frente na construção de uma União Europeia feita à medida dos interesses dos grandes grupos económico-financeiros e das grandes potências – logo, contrária, oposta, aos interesses dos trabalhadores – desenhando um projecto de sociedade arredado de preocupações sociais, virado para a acentuação do federalismo, da militarização, da exploração, do domínio capitalista.
Há, infelizmente, muita gente que foi impedida de saber isto. E há também os que sabem mas fingem não saber.
Em todo o caso, é triste ver o secretário geral das Comissões Obreras – movimento com um notável passado de luta em defesa dos interesses dos trabalhadores espanhóis – vir a público defender tal monstro e, pior do que isso, apelar aos trabalhadores para que, contra os seus próprios interesse, legitimem tal monstruosidade.

José Casanova