- Nº 1638 (2005/04/21)
Contra Cuba

Uma resolução indigna

Internacional
Os EUA, com o apoio de alguns aliados e a conivência de países que pode pressionar, aprovaram uma moção contra Cuba na Comissão de Direitos Humanos da ONU.

Ao contrário do sucedido em anos anteriores, desta vez Washington não conseguiu arranjar nenhum país que se prestasse a servir de testa de ferro para o ataque a Cuba, pelo que teve de assumir a iniciativa de apresentar uma resolução anticubana na 61.ª sessão da Comissão de Direitos Humanos (CDH) a decorrer em Genebra.
Para o representante cubano, Juan Antonio Fernández, tal facto só foi possível porque a CDH está transformada na Comissão da «mentira e da hipocrisia», se tornou num fórum onde o «maior e mais contumaz violador dos direitos humanos do mundo» pode apresentar «um papelucho que não diz nada mas pode singularizar Cuba». O diplomata lamentou ainda o triste papel dos aliados norte-americanos, designadamente a União Europeia, que parece incapaz de desenvolver uma política independente, e que agora se serve dos países do antigo bloco socialista que aderiram à globalização capitalista.
A resolução dos EUA, recorda-se, foi aprovada a semana passada por 21 votos, entre os quais os da Alemanha, Árábia Saudita, Arménia, Austrália, Canadá, Coreia do Sul, Costa RicaFinlândia, França, Gã-Bretanha, Guatelama, Honduras, Hungria, Irlanda, Itália, Japão, México, Países Baixos, Roménia e Ucrânia.
Dos restantes 32 países, votaram a China, Congo, Cuba, Egipto, Eritreia, Etiópia, Guiné, Índia, Indonésia, Quénia, Malásia, Nigéria, Qatar, Russa, África do Sul, Sudão e Zimbabué, enquanto a Argentina, Butão, Brasil, Burkina Fasso, Equador, Gabão, Mauritânia, Nepal, Paquistão, Peru, República Dominicana, Sri Lanka, Suazilândia e Togo se abstiveram.

Cuba não se rende

O diplomata Juan Antonio Fernández, lembrando, que esta nova tentativa de isolamento de Cuba ocorre num momento em que mais de 4000 prestigiadas personalidades internacionais, incluindo seis prémios Nobel, subscreveram o manifesto «Paremos a nova manobra contra Cuba», reafirmou em Genebra que o seu país «não se cansará de lutar», «não se renderá», «não fará jamais concessões», e «não calará a sua voz, nem sequer nesta Comissão dos poderosos onde repugna tanta hipocrisia, medos e cumplicidades».
Os cubanos, sublinhou o diplomata, estarão «sempre com os que não se resignam, os que apostam no valor das ideias e dos princípios, os que não renunciam ao sonho de conquistar toda a justiça para todos num mundo melhor».

Vozes solidárias

Mal foi conhecido o resultado da persistente campanha dos EUA contra Cuba logo se levantaram vozes de apoio e solidariedade à pequena Ilha que ousa desafiar o Império.
Segundo a Prensa Latina, o Centro para a Acção Legal de Direitos Humanos (CALDH) da Guatemala veio a público considerar inaceitável que o governo guatemalteco ceda às pressões económicas da Casa Branca. No mesmo sentido se manifestou a coligação Unidade Revolucionária Nacional da Guatemala, na oposição, que acusou o governo de ter perdido «uma oportunidade extraordinária» de pôr termo à sua submissão a Washington.
Idênticas posições foram divulgadas na Bolívia, onde diferentes organizações lembraram que quem merecia ser condenado eram os EUA pela «sua flagrante violação dos direitos humanos, sobretudo no Iraque», e acusaram os países que apoiaram a política norte-americana de hostilidade a Cuba de pretenderem «aniquilar Cuba porque é um país socialista».
E por falar em condenações, vale a pena lembrar que os EUA foram o único país que votou contra a condenação das acções repressivas de Israel contra os palestinianos, e alinhou ao lado da União Europeia, Japão e Austrália na recusa em condenar as execuções extrajudiciais levadas a cabo igualmente por Israel.
Enquanto isso, em Guantanamo, território cubano que os EUA mantêm ilegalmente ocupado, continuam as torturas aos 540 presos sem culpa formada que ali permanecem há anos. A semana passada, a Reuters dava conta de mais uma demanda contra a administração Bush apresentada num tribunal de Boston, desta feita pelas torturas infligidas ao bósnio de origem argelina, Mustafá Ait Idir, que lhe provocaram paralisia facial.