PCP desafia PS a concluir processo legislativo sobre o aborto

Está na hora de dizer basta!

O PCP desafiou a bancada socialista a concluir o processo legislativo destinado a resolver o grave problema de saúde pública que é o aborto clandestino. «É tempo de dizer basta. Já chega desta vergonha», desabafou o líder parlamentar comunista, que não vê nenhuma razão para que a Assembleia da República não assuma plenamente as suas competências nesta matéria.

O PS voltou a trocar o certo pelo in­certo

Bernardino Soares subiu à tribuna para afirmar que é mais do que chegada a hora de o PS não se deixar «enredar nas teias que, de incidente em incidente, vão adiando a tão indispensável como justa despenalização da interrupção voluntária da gravidez».
«Há momentos da vida política em que é preciso um assomo de coragem e determinação para enfrentar as questões difíceis. É isso que se exige neste momento do Partido Socialista», sublinhou o presidente da formação comunista, em declaração política proferida na semana transacta.
Esta intervenção do parlamentar do PCP surge na sequência da recusa do Presidente da República em convocar o referendo (ver caixa) proposto pelo PS e BE. Um desfecho previsível, adiando a resolução do problema sine die, face à tra­pa­lhada em que aqueles par­tidos trans­for­maram o caso ao in­sis­tirem num re­fe­rendo, sem data e sem a cer­teza de que venha a re­a­lizar-se a curto prazo.
Por isso o repto da ban­cada co­mu­nista para que seja posto termo «às he­si­ta­ções, aos tac­ti­cismos, às su­ces­sivas que­relas que abrem o campo à di­reita e per­pe­tuam esta lei».
«En­quanto he­sitam e cedem à agenda da di­reita, os par­tidos que de­fendem a des­pe­na­li­zação adiam esta tão ur­gente re­forma», alertou Ber­nar­dino So­ares, in­con­for­mado com a ma­nu­tenção de uma lei que hu­milha e per­segue as mu­lheres, que as leva a jul­ga­mento e con­dena, man­tendo o «drama do aborto clan­des­tino para mais de 20 mil mu­lheres por­tu­guesas».
O pre­si­dente da ban­cada co­mu­nista, di­ri­gindo-se à ban­cada so­ci­a­lista, lem­brou ainda que - à ex­cepção da «re­tró­grada di­reita que con­tes­tará tudo o que for no sen­tido de uma lei penal justa» - ao PS «nin­guém virá co­brar o com­pro­misso de re­petir a pro­posta de um re­fe­rendo que já tentou fazer mas que acabou por não ter ven­ci­mento».
«O que os por­tu­gueses co­brarão ao PS é o com­pro­misso com a des­pe­na­li­zação. O que nin­guém com­pre­en­derá é que o PS troque mais uma vez aquilo que está na sua mão – a des­pe­na­li­zação na As­sem­bleia da Re­pú­blica – por aquilo que não de­pende de si – a con­vo­cação de um re­fe­rendo», ad­vertiu o pre­si­dente do Grupo Par­la­mentar do PCP.
Daí que Ber­nar­dino So­ares não tenha dei­xado de ex­pressar a sua es­tu­pe­facção pe­rante os re­centes anún­cios que in­dicam que o PS pre­tende rein­cidir no ca­minho que con­duziu ao im­passe ac­tual. Mais grave ainda, do seu ponto de vista, são as jus­ti­fi­ca­ções avan­çadas, por in­cre­dí­veis, desde hi­pó­teses como a da tripla con­sulta (nas elei­ções au­tár­quicas), até ao anúncio de uma nova pro­posta de re­fe­rendo em Se­tembro (com a frágil in­ter­pre­tação de que então se inicia uma nova sessão le­gis­la­tiva). O que faz adensar a pre­o­cu­pação de que toda esta questão con­tinue sem fim à vista.

O im­bró­glio

A pró­xima sessão le­gis­la­tiva tem início a Se­tembro de 2006, sus­tentam todos os par­tidos da opo­sição. Iso­lado, em po­sição di­versa, ficou o PS ao de­fender que o co­meço seja já em Se­tembro de 2005. Uma in­ter­pre­tação, numa fuga para a frente, des­ti­nada a mos­trar von­tade em re­a­lizar o re­fe­rendo ainda este ano e assim salvar a face da tra­pa­lhada em que se en­leou ao optar uma vez mais pela via re­fe­ren­dária.
A questão foi sus­ci­tada, na pas­sada se­mana, de­pois de o Pre­si­dente da Re­pú­blica ter anun­ciado que não iria con­vocar o re­fe­rendo sobre aborto, o que, de acordo com a Cons­ti­tuição, in­vi­a­bi­liza que a pro­posta de con­sulta po­pular seja re­no­vada na mesma sessão le­gis­la­tiva.
Apesar de ser assim, tanto o líder par­la­mentar so­ci­a­lista, Al­berto Mar­tins, como o pri­meiro-mi­nistro, José Só­crates, ga­ran­tiram que o PS vai re­a­pre­sentar o pro­jecto de
re­fe­rendo em Se­tembro pró­ximo.
A Cons­ti­tuição, re­corde-se, de­ter­mina que a As­sem­bleia da Re­pú­blica é eleita por um man­dato de quatro anos - uma le­gis­la­tura -, que se di­vide em quatro ses­sões le­gis­la­tivas de um ano.
A pro­pó­sito, o líder par­la­mentar do PCP, Ber­nar­dino So­ares, lem­brou o que se passou na an­te­rior le­gis­la­tura, afir­mando que «em 2002 foi as­su­mido que a pri­meira sessão le­gis­la­tiva du­rava de Abril de 2002 até Se­tembro de
2003».


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