Os «coordenadores»

Henrique Custódio
«No Bloco de Esquerda», asseverou Francisco Louçã no encerramento da IV Convenção que o entronizou como «coordenador» da nova «comissão política», «não existe consensos autoritários» como ocorre no PCP. A ilustrar tão retumbante novidade, garantiu de seguida que o BE «é o único partido da democracia do século XXI».
Para quem não pratica «consensos autoritários», não está mal esta autoproclamação do BE dono exclusivo da democracia. O que, aliás, só confirma a irreprimível tendência de Louçã para soterrar adversários sob o aluvião das suas singularidades, como ainda há poucos meses o fez com Paulo Portas, quando procurou retirar-lhe o direito à opinião sobre o aborto porque ele, Portas, nunca fizera um filho – prodígio de que Louçã, pelos vistos, se acha peculiar autor.
Embalados pela recente subida eleitoral das legislativas de 20 de Fevereiro último, os «bloquistas» lançaram-se a mãos ambas ao projecto político de «crescer».
Para isso, deliberaram em moção disputar futuramente o eleitorado... do PS e do PCP.
Quanto ao «outro» eleitorado, o que geralmente dá as vitórias à direita, o esquerdíssimo Bloco de Esquerda despreza-o simplesmente, embora Louçã se haja entretanto gabado, algo enigmaticamente, de que a subida do Bloco nas últimas legislativas foi o resultado «da luta contra a direita» reconhecida nas urnas pelos «», suspeitando-se na decorrência de que, para Louçã, quem não vota «Bloco» será mais ou menos aristocrático.
Seja como for, o crescimento eleitoral foi a grande obsessão do ajuntamento bloquista, resumido na «conquista da maioria social através de uma profunda modernização e recomposição no campo popular da esquerda», ou seja, que toda a gente deve passar a votar «Bloco», não porque este traga algo de novo ao País, mas porque constitui a «modernização» e a «recomposição» no «campo popular da esquerda».
Mais «popular» que isto só a música pimba, na sua insondável popularidade.
Mas o Bloco de Esquerda também tomou decisões internas, adequadas à sua repentina «crise de crescimento»: instituiu sanções disciplinares, que podem chegar à expulsão, e criou um novo órgão partidário – a tal comissão política «coordenada» por Francisco Louçã.
Como são muito democráticos, as futuras sanções – com ou sem expulsões – não podem castigar «delitos de opinião».
Devia ser por isso – para defender, já nesta Convenção, o tal «direito à opinião» – que dirigentes de vulto do BE disseram que os opositores à lista liderada por Louçã «não eram sérios nas suas acusações de falta de transparência da direcção» (Fernando Rosas), que «as críticas de que no BE há os influentes e os que colam cartazes» são «as mesmas críticas que Santana Lopes atirava ao BE» (Miguel Portas) ou que havia quem tivesse «a mania terrível de catalogar pessoas e ideias» (Miguel Portas).
A sorte de quem cometeu tais críticas é que as ditas sanções disciplinares ainda não estavam em vigor, o que não impediu, obviamente, que a nova «comissão política», de coordenador à frente, não brindasse com uma severa sisudez os protestos da lista derrotada contra «o divórcio crescente entre a direcção executiva e o resto da organização», a falta de voto secreto na eleição de Louçã, etc. etc.
Para rematar, apresentaram como «novidade» a candidatura pelo «Bloco» do advogado José Sá Fernandes à Câmara Municipal de Lisboa, um «independente» que, segundo o Público, andava a «negociar» há um ano com o BE esta candidatura, ao mesmo tempo que se insinuava ser o PCP que se «opunha» a uma coligação por Lisboa com o BE, quando afinal andavam era todos a «marcar terreno» com as ««providências cautelares» contra a gestão Santana Lopes.
Enfim, uns verdadeiros «coordenadores»...


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