Quatro verdades

Carlos Gonçalves
No Expresso, com o título «a verdade», a propósito das medidas do Governo PS/Sócrates e do déficit orçamental, J.A.Saraiva repassou pela «enésima» vez a esgotada cassete neo-liberal sobre a matéria. Vale a pena, em face daquele arrazoado e quejandos – que os escribas do «pensamento único» estão atentos e activos –, alinhar quatro verdades, de facto verdadeiras, para a luta de ideias a este respeito.
Verdade primeira, ao contrário do que escreve Saraiva, não houve qualquer «mudança de atitude dos partidos (PS e PSD) ... na oposição ou no governo», nem se coloca a questão de «não saberem do que falam». Trata-se «apenas» de «mentira deliberada» e de juras falsas para ganhar as eleições.
Tal qual aconteceu com o PSD/CDS, a Direcção do PS sempre soube os números do déficit (mais ou menos duas décimas), e preparou com toda a atenção as medidas (mais ou menos ponto no IVA), a encenação minuciosa que as acompanhou (a «surpresa» dos 6,83% e a «inevitabilidade» dos «cortes»), as condenáveis cumplicidades institucionais e até as manobras de diversão de J.Coelho e a «agenda», coincidente com a festa do Benfica.
Segunda verdade, as (re)velhas políticas e mistificações neoliberais e monetaristas, agora relançadas à bruta, não são a «única solução», nem nada que se pareça, mas antes um elemento determinante do «problema».
O «monstro» do déficit orçamental não é culpa de Cavaco, Guterres, D.Barroso, P.S.Lopes, ou Sócrates, mas de todos eles e mais uns tantos, das políticas de direita que somam mais exploração, regressão social e crise económica às dificuldades orçamentais, tornando a situação do país cada vez mais pantanosa, enquanto medram sem pudor os lucros dos interesses e as grandes fortunas.
Verdade terceira, o «pacto de regime» entre PS e PSD no apoio às contra -«reformas decisivas, da Justiça, da saúde e das finanças públicas» não é o «caminho», pela razão óbvia que, para além da politiquice, sempre tem funcionado, ora com o PS - como se confirma – ora com o PSD, a continuarem no essencial as políticas do antecessor, um ponto rosa acima ou um ponto laranja abaixo. Aliás, a «moderação» de M.Mendes pode até indiciar uma pré combinação com Sócrates.
Quarta verdade, «adianta (muito) barafustar», como se viu agora em França e tantas vezes em Portugal, com os recuos e derrotas impostos às políticas de direita. Vale a pena lutar com determinação, para paralisar esta ofensiva brutal do Governo PS, politicamente inaceitável, socialmente injusta e economicamente desastrosa.


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