A última vontade

É minha von­tade ser in­ci­ne­rado no forno cre­ma­tório e que as cinzas sejam es­pa­lhadas na terra ou can­teiros de flores do ce­mi­tério.
É também minha von­tade, que peço ao meu Par­tido que res­peite, que no fu­neral não sejam pro­nun­ci­ados quais­quer dis­cursos.
É-me também par­ti­cu­lar­mente grata a ideia de que po­derão querer (seja-lhes ou não pos­sível fazê-lo) des­pedir-se de mim nesse dia, de­sig­na­da­mente:
- ca­ma­radas meus, dos mais res­pon­sá­veis aos mais mo­destos e des­co­nhe­cidos, junto com os quais, antes e de­pois do 25 de Abril, lutei até aos úl­timos dias de vida (sempre com con­fi­ança no fu­turo) pelos in­te­resses e di­reitos dos tra­ba­lha­dores, por uma so­ci­e­dade de li­ber­dade e de­mo­cracia, pelo bem do nosso povo e da nossa pá­tria, pelo nosso par­tido como par­tido da classe ope­rária, dos tra­ba­lha­dores, de todos os ex­plo­rados e ofen­didos, por uma so­ci­e­dade so­ci­a­lista;
- também fa­mi­li­ares a quem muito quero, antes de mais a filha que­rida e seus fi­lhos, a irmã, a com­pa­nheira mu­lher amada e ou­tros fa­mi­li­ares pró­ximos, aos quais, mesmo quando longe, me li­garam, e ligam, até aos úl­timos mo­mentos de vida, os mais pro­fundos e ím­pares sen­ti­mentos de amor e ter­nura;
- e ainda amigos sem par­tido, e ho­mens, mu­lheres e jo­vens que me ha­bi­tuei a es­timar e a res­peitar, e a muitos dos quais me li­garam pro­fundas re­la­ções de ami­zade e com­pre­ensão;
- ou­tros que queiram estar pre­sentes, com res­peito pelo que como co­mu­nista fui toda a vida, com vir­tudes e de­feitos, mé­ritos e de­mé­ritos como todo o ser hu­mano.

A todos de­sejo que, vida fora, re­a­lizem os seus so­nhos.

Álvaro Cu­nhal



Mais artigos de: Em Foco

Faleceu Álvaro Cunhal

«O Secretariado do Comité Central do Partido Comunista Português, com profunda mágoa e emoção, informa os militantes comunistas, os trabalhadores e o povo português que nesta madrugada, aos 91 anos, faleceu Álvaro Cunhal.

Faz-nos falta, mas a luta continua

Prematuramente regressado da China e do Vietname, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, comentou, terça-feira, na sede nacional do Partido, o falecimento do camarada Álvaro Cunhal. Transcrevemos na íntegra a sua intervenção, recebida com emoção pelos muitos comunistas presentes.

Até sempre, camarada!

Centenas de milhares de pessoas, vindas de todo o País, quiseram prestar a sua última homenagem a Álvaro Cunhal. Na quarta-feira, no funeral, as ruas de Lisboa encheram-se e tingiram-se de vermelho, a cor da causa a que o histórico dirigente comunista dedicou toda a sua vida. Mais do que lamentar uma perda irreparável, as cerimónias fúnebres de Álvaro Cunhal representaram a celebração de uma vida intensamente vivida e da plena confiança de que são indestrutíveis a força e vitalidade do projecto comunista.

Mensagens de pesar e condolências

À hora do fecho desta edição continuavam a chegar à sede do PCP, por correio e através do site na Internet, votos de pesar e condolências pelo desaparecimento de Álvaro Cunhal. Necessariamente incompleto, o registo que publicamos nesta edição refere-se unicamente a personalidades públicas, organizações, movimentos e partidos nacionais e estrangeiros, outras entidades, que endereçaram mensagens escritas à direcção do Partido.

Álvaro Cunhal - a escrita revolucionária

Ao longo da vida, o militante revolucionário e desde muito cedo quadro dirigente do Partido, aliou a teoria e a prática, deixando-nos uma vasta obra que é ao mesmo tempo reflexão e intervenção na vida política, conhecimento profundo da realidade e da História, definição de rumos que, tendo sempre em conta as circunstâncias históricas e as correlações de forças, não deixou nunca de perseguir um objectivo central: a conquista da liberdade e da democracia, da justiça social e da democratização da cultura, a construção em Portugal de uma sociedade socialista.

A realidade ficcionada

Para além dos textos políticos e dos ensaios, e, ainda, dessa monumental tradução do Rei Lear, de Shakespear, cujos críticos consideram a melhor realizada até hoje e que constitui um verdadeiro «estudo» sobre a obra, dadas as numerosas notas que a acompanham visando uma melhor compreensão por parte do leitor, Álvaro Cunhal distingiu-se também como romancista.

A arte, o artista e a sociedade

Reflectir e fazer, poderia ser a dupla chave com que Álvaro Cunhal abordou a realidade, os problemas, os sonhos, os projectos, o mundo em que viveu. Homem de interesses e de actividades múltiplas, sempre subordinados à política - uma política ao serviço dos trabalhadores, do povo e do País -, o dirigente comunista, o ensaísta, o escritor, também se interessou profundamente pela arte. Reflectindo e praticando.

Nota do Secretariado da DN da JCP

Foi com sentida emoção e profunda mágoa que a Juventude Comunista Portuguesa tomou conhecimento da morte do Camarada Álvaro Cunhal. Álvaro Cunhal, figura incontornável na história contemporânea da luta do povo português, dedicou toda a sua vida aos mais dignos e belos valores da humanidade, ao ideal e projecto comunista,...

Viver e lutar com alegria

(Ex­certos do dis­curso de Álvaro Cu­nhal no En­contro do Se­cun­dário da JCP, 31 de Março de 1994)

<font color=994000>Notas biográficas de um combatente</font>

Vasco Gonçalves nasceu na cidade de Lisboa no terceiro dia do mês de Maio de 1921.Aluno do Liceu Camões e posteriormente da Faculdade de Ciências de Lisboa, o jovem alfacinha dá largas ao seu interesse por matérias ligadas à Engenharia, licenciatura que cursou com destaque na Academia Militar, instituição para onde...

<font color=990000>«O seu exemplo vai perdurar»</font>

Liderando uma delegação do Partido em digressão por diversos países da Ásia no dia da morte do General Vasco Gonçalves, Jerónimo de Sousa considerou o ex-primeiro-ministro como «o homem que talvez melhor interpretou, de forma mais genuína, os ideais de Abril e aquilo que comportavam de democracia económica e social, numa...

<font color=994000>14 meses que mudaram Portugal</font>

«Conseguiram arredar do poder aquele contra o qual, utilizando os mais indignos meios e campanhas, tinham movido uma guerra sem quartel. Sem quartel, porque, firme e corajoso, durante mais de um ano primeiro-ministro nos tempos cruciais da Revolução, deu tudo de si próprio para que em Portugal fosse criada uma sociedade...

<font color=994000><em>Companheiro Vasco</em></font>

A morte levou-nos o Companheiro Vasco. E deixou-nos uma tristeza e uma saudade do tamanho do mundo. Connosco fica, contudo, a memória viva daquele que, enquanto militar de Abril e Primeiro-Ministro de vários governos provisórios, foi o mais puro e fiel intérprete dos ideais libertadores e transformadores do 25 de Abril....

<font color=3333ff>Nota do PCP à morte de Eugénio de Andrade</font>

«A literatura portuguesa e muito especialmente uma das suas mais valiosas e universais manifestações, a poesia, perderam hoje uma das vozes que mais rica, bela e inovadora expressão lhes concedeu: Eugénio de Andrade.Poeta fundamental da expressão literária do Portugal contemporâneo, Eugénio de Andrade foi também uma...

<font color=3333ff>Urgentemente</font>

É urgente o Amor,É urgente um barco no mar.É urgente destruir certas palavrasódio, solidão e crueldade,alguns lamentos,muitas espadas.É urgente inventar a alegria,multiplicar os beijos, as searas,é urgente descobrir rosas e riose manhãs claras.Cai o silêncio nos ombros,e a luz impura até doer.É urgente o amor,É urgente...

<font color=3333ff>Morreu Eugénio de Andrade,<br>ficamos com o Poeta</font>

Morreu Eugénio de Andrade, figura maior da poesia portuguesa no século XX, o «poeta solar», da palavra luminosa, que teve a sua estreia fulgurante para o grande público com o celebérrimo livro As Mãos e os Frutos no já longínquo ano de 1948, tinha o Poeta apenas 25 anos. Fizera há pouco 82 anos, faleceu de doença prolongada, mas há muito que a sua obra magnífica o lançara para a imortalidade, fazendo também dele o poeta mais traduzido do século XX, logo a seguir a Fernando Pessoa. De caminho, ganhara o Prémio Camões, o maior galardão em língua portuguesa que lhe foi atribuído em 2001, aos 78 anos.

Uma vida ao serviço dos trabalhadores e do seu Partido

Álvaro Cunhal nasceu em 10 de Novembro de 1913, na freguesia de Sé Nova, em Coimbra, filho de pai advogado e mãe doméstica.Em 1931, com 17 anos, adere ao Partido Comunista Português, estudava então na Faculdade de Direito de Lisboa. As suas primeiras tarefas partidárias...