Opiniões

Leandro Martins
As sondagens valem o que valem. É o que costumamos dizer, comentando-as. É o que costumamos pensar quando são divulgadas. É o que costumamos argumentar quando nos desapontam. E é também a expressão que costumamos usar quando, inadvertidamente - ou talvez não - alguém publica uma sondagem que nos favorece, que favorece a postura que tomamos, a proposta que fazemos, a luta em que nos empenhamos.

A manipulação das sondagens, o erro das escolhas de painéis, o uso das sondagens como influenciadoras de resultados são de todos conhecidas. As sondagens para fazer medo. As sondagens para desmobilizar. As sondagens para estimular um resultado. Há de tudo nessa farmácia. Registe-se, para que não haja dúvidas, que as sondagens são um método bastante certeiro de conhecimento da opinião pública. Registe-se também que, não raro, são usadas para fabricar resultados. O crescimento do SIM, em França, em vésperas do referendo, deixa um travo de dúvida a todos quantos vinham a assistir a um aumento do NÃO que acabou por ganhar por uma margem muito maior do que alguma delas estimava...
Dito isto - escrito isto - admitamos que há outros meios de conhecer a opinião pública, para além dos meios abundantes de a condicionar. São certamente métodos muito mais subjectivos, menos certeiros mas nem por isso menos significativos e operantes. Ouvir e falar com as pessoas, por exemplo, sem recurso aos media que impõem uma visão ou uma opinião, muitas vezes disfarçada com a «interacção» do receptor que é «convidado» - a tantos euros por minuto - a «participar» no assunto e a ficar com um gosto de «debate».
Há dias, num tasco onde se almoçava modestamente, três homens jovens, com aspecto de quem trabalha - o aspecto também é importante - comentavam a actualidade política, centrando a conversa sobre as promessas mentirosas do Governo de Sócrates. «E depois admiram-se que as sondagens mostrem o PCP a subir», dizia um deles. «É, as pessoas começam a perceber no que se meteram», constatava um segundo. O terceiro era mais dado à filosofia: «As pessoas acabam por perceber. Estou a lembrar-me de um amigo meu que dizia mal da Rússia, da URSS. Que lá não havia Ferraris, nem Porches e agora há. Perguntei-lhe: "E tu quando é que compras um?" "Sei lá", disse ele, "mas posso vir a ter um". E eu: "E quando é que vai ser isso?"»
O primeiro reflectiu: «Faz lembrar aquela de que um gajo é livre de trabalhar onde quiser. O problema é que não há trabalho...»
São opiniões.


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