No país do sol
«A situação é grave e estrutural, mas os portugueses não estão mobilizados nem preocupados com a competitividade, querem é passar mais tempo na praia».
A sentença é de Fernando Ulrich, presidente do BPI, que segundo o Expresso da semana passada defendeu, em recente conferência sobre «Fiscalidade e Competitividade», um corte de 10 por cento nos salários dos trabalhadores.
Segundo a mesma fonte, também João Salgueiro, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, defende a redução de salários, argumentando que o país é inviável desde há 15 anos e que corremos o risco de nos transformarmos numa «província habitada apenas por reformados nacionais e estrangeiros».
Manifestar espanto e indignação perante semelhantes ditames seria não apenas despropositado como pura perda de tempo, na medida em que destes senhores e doutros como eles tudo é de esperar.
O que já não é despropositado nem tempo mal gasto é lembrar que estes e outros são precisamente os mesmos que há cerca de três décadas vêm fomentando e implementando as políticas que exauram o País enquanto um punhado enrica com a penúria nacional.
Do que vale a pena falar é dos números que nos escondem propositadamente, como por exemplo, que na União Europeia, a média das despesas com salários e benefícios da função pública é maior do que em Portugal (na UE a 12 os gastos ascendiam a 25,6%, contra 18% em Portugal, enquanto países como a Dinamarca e a Suécia, tantas vezes apontados como exemplo a seguir, os gastos eram 32 e 32,6%, respectivamente); ou que na UE dos 15 as despesas médias por habitante com a Saúde eram cerca do dobro das registadas em Portugal (1458 contra 758 euros); ou que o Estado não paga à Caixa Geral de Aposentações a parte que lhe corresponde, ao contrário dos trabalhadores da função pública e dos próprios patrões; ou ainda que as empresas privadas devem qualquer coisa como 3,2 mil milhões de euros à Segurança Social; ou que a PT não paga impostos; ou que a Banca, privilegiada no que toca ao pagamento de impostos, mais do que duplicou os seus lucros em tempo de recessão; ou que as mordomias nas empresas com capitais públicos são decididas pelos mesmos que mandam apertar o cinto aos portugueses; ou ...
Por uma daquelas associações de ideias que por vezes nos assaltam, veio-me à memória a letra de uma canção que descrevia bem as condições de vida no tempo do fascismo e questionava a dado passo (...) «Que mais queres tu no País do sol onde podes andar nu?»
Trinta anos depois de Abril os ulrichs dos tempos modernos descobriram a resposta: Taxe-se a nudez e os banhos de sol!
A sentença é de Fernando Ulrich, presidente do BPI, que segundo o Expresso da semana passada defendeu, em recente conferência sobre «Fiscalidade e Competitividade», um corte de 10 por cento nos salários dos trabalhadores.
Segundo a mesma fonte, também João Salgueiro, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, defende a redução de salários, argumentando que o país é inviável desde há 15 anos e que corremos o risco de nos transformarmos numa «província habitada apenas por reformados nacionais e estrangeiros».
Manifestar espanto e indignação perante semelhantes ditames seria não apenas despropositado como pura perda de tempo, na medida em que destes senhores e doutros como eles tudo é de esperar.
O que já não é despropositado nem tempo mal gasto é lembrar que estes e outros são precisamente os mesmos que há cerca de três décadas vêm fomentando e implementando as políticas que exauram o País enquanto um punhado enrica com a penúria nacional.
Do que vale a pena falar é dos números que nos escondem propositadamente, como por exemplo, que na União Europeia, a média das despesas com salários e benefícios da função pública é maior do que em Portugal (na UE a 12 os gastos ascendiam a 25,6%, contra 18% em Portugal, enquanto países como a Dinamarca e a Suécia, tantas vezes apontados como exemplo a seguir, os gastos eram 32 e 32,6%, respectivamente); ou que na UE dos 15 as despesas médias por habitante com a Saúde eram cerca do dobro das registadas em Portugal (1458 contra 758 euros); ou que o Estado não paga à Caixa Geral de Aposentações a parte que lhe corresponde, ao contrário dos trabalhadores da função pública e dos próprios patrões; ou ainda que as empresas privadas devem qualquer coisa como 3,2 mil milhões de euros à Segurança Social; ou que a PT não paga impostos; ou que a Banca, privilegiada no que toca ao pagamento de impostos, mais do que duplicou os seus lucros em tempo de recessão; ou que as mordomias nas empresas com capitais públicos são decididas pelos mesmos que mandam apertar o cinto aos portugueses; ou ...
Por uma daquelas associações de ideias que por vezes nos assaltam, veio-me à memória a letra de uma canção que descrevia bem as condições de vida no tempo do fascismo e questionava a dado passo (...) «Que mais queres tu no País do sol onde podes andar nu?»
Trinta anos depois de Abril os ulrichs dos tempos modernos descobriram a resposta: Taxe-se a nudez e os banhos de sol!