Armas de destruição maciça

Pela abolição completa

A propósito da passagem de mais um ano sobre o bombardeamento de Hiroshima e Nagazaki pelos Estados Unidos, a 6 de Agosto de 1945, Margarida Botelho, membro da Comissão Política do PCP, apelou, na quinta-feira passada, à mobilização do povo português «em torno dos valores da paz, da solidariedade e do desamamento» (transcreve-se declaração).

O orçamento militar anual dos EUA, por si só, resolvia os problemas mais urgentes da fome e da doença

No ano em que se comemora o 60º aniversário do fim da II Guerra Mundial, feito maior da luta e da resistência dos povos contra o nazi-fascismo, que pôs fim ao terrível cortejo de horrores que marcaram e mancharam a história recente da humanidade, o PCP recorda que a este grandioso acontecimento está também associado, pelas piores razões, o bombardeamento atómico das cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki.
Nas primeiras horas dos dias 6 e de 9 de Agosto de 1945, os Estados Unidos da América, evocando a necessidade de pôr fim à guerra no Pacífico, fizeram explodir sobre a população indefesa dessas cidades duas bombas atómicas, matando milhares de homens, mulheres e crianças, num acto que não é demais classificar como um dos mais hediondos crimes jamais perpetrados contra a Humanidade.
O PCP associa-se a todos os que no mundo, e em particular no nosso país, assinalam esta efeméride, num espirito de profundo respeito pela memória das vítimas. E alertamos também para o processo de revisão da história em curso, que tenta a todo o custo diminuir o significado e o impacto desses actos terroristas, omitindo o nome dos seus autores e diluindo o impacto e as razões reais que levaram à execução deste execrável crime. Não é aceitável que paulatina e subtilmente se caucione a admissão da utilização da arma nuclear no quadro da resolução de qualquer conflito. E menos aceitável se torna, quando tomado o exemplo em concreto, se recorre a justificações mentirosas para ocultar as verdadeiras razões que lhe estiveram subjacentes. A verdade de Hiroshima e Nagasaki tem a sua raiz na demencial manifestação de poderio militar dos Estados Unidos da América, particularmente face à União Soviética, potência aliada vencedora da II Guerra Mundial, procurando desta forma submeter o mundo e os povos, através da chantagem nuclear, às suas pretensões hegemónicas.
Recordar o bombardeamento atómico de Hiroshima e Nagasaki, bem como as causas e razões que o tornaram realidade, é um imperativo para impedir que mais nenhum país e nenhum povo venha a sofrer a terrível devastação presenciada há 60 anos.

Não à subserviência

A trágica lição de Hiroshima e Nagasaki, não trouxe contudo a resposta mais esperada: a abolição completa de todas as armas de destruição maciça. Pelo contrário, assiste-se hoje a uma corrida aos armamentos sem precedentes, na qual colossais orçamentos são postos ao serviço da ampliação e do aperfeiçoamento de arsenais nucleares, criando novas armas cada vez mais sofisticadas e com capacidade destrutiva esmagadoramente superior às bombas que flagelaram Hiroshima e Nagasaki.
Os EUA relançam a «Guerra das Estrelas» implementando o sistema de defesa Anti-míssil, e persistem na violação e abandono de importantes tratados internacionais, visando o desarmamento. Outorgam a si próprios o direito de primeiro utilizador de armas nucleares, deixando claro que de doravante, a posse destas deve ser entendida como uma séria possibilidade ofensiva.
A NATO, da qual Portugal é membro activo e de pleno direito, não exclui a possibilidade de primeiro utilizador. Mas não fica por aqui: Portugal não manifestou qualquer oposição ou reserva à alteração do Conceito Estratégico da NATO, que passou a assumir-se como organização claramente agressiva, arrogando-se o direito de intervir em qualquer parte do mundo onde os seus «direitos» se sintam ameaçados. Estas alterações e a subserviência que muitos países manifestam face a elas, vêm confirmar o renovado entusiasmo com que o imperialismo encara a via da guerra e o papel da arma nuclear na persecução dos seus objectivos. O recente envio de 150 militares portugueses para o Afeganistão vem confirmar esta política de subserviência de Portugal face à NATO, sobrepondo as agendas hegemónicas dos EUA e do Reino Unido aos interesses nacionais e ao espírito de paz e solidariedade que presidem à Constituição da República portuguesa e que encontram eco profundo no povo português.

Um insulto à inteligência

É oportuno lembrar que a guerra ilegal e criminosa lançada contra o Iraque teve como justificação a mentirosa afirmação de que este país possuía armas de destruição maciça, procurando legitimar a guerra e uma eventual utilização de armamento nuclear por parte dos países agressores. Esperemos que desta vez não tenha razão o sensato ditado popular que afirma não haver fumo sem fogo, e que, os EUA e seus obsequiosos seguidores, não se lembrem de aplicar contra o povo Iraquiano ou outro, a mesma medida de Hiroshima e Nagasaki,
Os milhões investidos na indústria militar são proporcionais aos milhões de seres humanos flagelados pela guerra, a fome, a doença, a exploração e a guerra. Os países mais ricos do mundo são simultaneamente os que mais investem na indústria armamentista e, na recente Cimeira do G-8 de Edimburgo, galreando o empenho na resolução dos problemas da humanidade, anunciaram medidas de apoio aos países subdesenvolvidos, que mais não constituem que um insulto à inteligência humana. A verdade é só uma: o orçamento militar anual dos EUA, poderia por si só, resolver os mais urgentes problemas da fome e da doença que matam diariamente milhares de seres humanos.
O PCP denuncia esta política de hipocrisia e alerta os trabalhadores e o povo português para os perigos resultantes do militarismo, do intervencionismo imperialista e da campanha propagandista em curso, que visa a aceitação de medidas de restrição de direitos, liberdades e garantias dos cidadãos e de reforço dos orçamentos militares, em nome de uma suposta segurança colectiva e luta contra o terrorismo.
Na data em que se assinalam os 60 anos dos bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki, o PCP apela à mobilização dos trabalhadores e do povo Português em torno dos valores da paz, da solidariedade e do desamamento, certo que a luta e a resistência dos povos inverterá o rumo militarista e impedirá os projectos demenciais que ameaçam a humanidade.


Mais artigos de: PCP

O futuro da CDU é crescer

Cerca de duas mil pessoas visitaram, nos dias 5 e 6 de Agosto, mais uma edição da Festa da Unidade, promovida pelo PCP em S. Pedro da Cova, Gondomar, com a presença do secretário-geral, Jerónimo de Sousa.

Metro de Gondomar em perigo

A Direcção da Organização Regional do Porto do PCP vai solicitar uma reunião de emergência da Assembleia Metropolitana do Porto para esclarecer as declarações proferidas do ministro das Obras Públicas, quando da inauguração da Linha do Metro para Trofa, que põem em causa a concretização da Linha para Gondomar. E, assim...

PCP quer apoios para vítimas de incêndios

A extrema gravidade dos incêndios que têm vindo a lavrar no País levou os eurodeputados comunistas Ilda Figueiredo e Pedro Guerreiro a contactar por carta Josep Borrel, Presidente do Parlamento Europeu. Na carta, enviada na sexta-feira passada, os comunistas solicitam a Josep Borrel «que desenvolva todos os esforços...

PT sem estratégia e ao sabor de interesses

O Grupo PT está «sem estratégia», «à mercê da concorrência», rolando «ao sabor dos interesses dos grandes accionistas», nomeadamente do BES e da Telefónica, que continua a aspirar ao controlo accionista e de gestão do grupo. Ou seja, uma «situação preocupante», apesar da «imagem idílica» que se pretende fazer passar,...