
- Nº 1658 (2005/09/8)
O livro em festa na Festa do Livro
Festa do Avante!
Como sempre, a Festa do Livro surgiu na Festa do Avante! corporizando uma monumental livraria que se alongava por dois imensos pavilhões, onde se alinhavam muitos milhares de títulos todos à mão de semear, que é como quem diz a jeito para a consulta.
Havia de quase tudo, desde a mais diversa ficção literária, à poesia e ao teatro, continuando pelo ensaio, a actualidade política e social, pela ficção científica e o policial mas também pela ciência, a música ou o desporto, não esquecendo, obviamente, a literatura para a infância e a juventude.
Não é de estranhar tanta e tão diversificada oferta: a par da Editorial Caminho, que era preponderante no recinto e apresentava o seu prestigiado, vasto e diversificado catálogo, um numeroso conjunto de editoras marcava presença na Festa do Livro, desde as principais e mais influentes no panorama editorial português, até às mais modestas mas, nem por isso, menos dinâmicas e actuantes. Todas com descontos no preço que, frequentemente, iam até aos 50%.
A frontaria da imensa estrutura – organizada em duas gigantescas tendas geminadas – estava inteiramente decorada com referências a Álvaro Cunhal, nomeadamente organizando esta clara homenagem ao grande dirigente do PCP, este ano falecido, com uma fotografia sua rodeada de diversos títulos ficcionais e políticos da sua autoria, bem como os «desenhos da prisão».
Mas a homenagem a Álvaro Cunhal na Festa do Livro não se limitava à frontaria: no interior, em lugar de destaque, estava instalada uma secção inteiramente dedicada ao antigo secretário-geral do PCP, onde se apresentava à disposição do público a generalidade da sua obra política e literária, em muitos casos reeditada em profusão para corresponder à procura sempre crescente por parte do público em geral e confirmando uma curiosa tendência – patente, aliás, nas mais diversas manifestações públicas na Festa, sobretudo entre a juventude –, a da consolidação do prestígio, também sempre crescente e já confirmadamente imparável, do grande dirigente comunista na sociedade portuguesa actual.
Anote-se que a rica e diversificada obra ensaística, ficcional e plástica de Álvaro Cunhal/Manuel Tiago estava, nesta secção exclusiva da Festa do Livro, devidamente exposta ao visitante, com destaque para a reedição dos há muito esgotados Desenhos da Prisão (I Série), ao mesmo tempo que a, porventura, menos conhecida faceta de artista plástico de Álvaro Cunhal estava devidamente recordada através da exposição de algumas reproduções de obras do autor no Auditório.
Sucessos, autores e autógrafos
Entretanto, num evento editorial desta natureza e magnitude, obviamente que pontificavam também os grandes sucessos editoriais e os autores de prestígio na actualidade. Assim, em lugar de destaque estava José Saramago, o Prémio Nobel português que lançava nesta Festa mais um título, a par da sua já vasta e reeditadíssima obra, à volta do qual se destacavam autores como Sophia de Mello Breyner Andersen ou Manuel Gusmão, Luandino Vieira, Ary dos Santos ou Manuel da Fonseca.
Anote-se a presença, bastante visitada e manuseada pelo público, do volume Os Poemas da Minha Vida seleccionados por Jerónimo de Sousa que, nas palavras do próprio, constitui uma homenagem à poesia e aos poetas.
Não faltaram, igualmente, as tradicionais sessões de autógrafos, onde diversos autores foram contactando directamente com os seus leitores ao longo dos três dias da Festa do Avante! e assinando as suas obras, está bem de ver, entre dois dedos de conversa geralmente calorosa e afectiva, pois não é todos os dias que se tem oportunidade de privar directamente, ainda que por breves instantes, com alguns dos autores que nos povoam as leituras.
Também houve, obviamente, diversos lançamentos editoriais - que tratamos ao lado -, lançamentos esses feitos num espaço próprio, um auditório cujas paredes estavam inteiramente decoradas com desenhos de Álvaro Cunhal.
À saída do recinto da Festa do Livro uma eficiente «bateria» de caixas registadoras, organizadas segundo os modelos dos supermercados, garantiam pagamentos expeditos e cómodos, por sinal permanentemente ocupadas a registar compras, o que diz bem do sucesso desta imensa livraria da Festa.
Henrique Custódio