26.º aniversário da JCP

A caminho do 8.º Congresso

Isabel Araújo Branco
A JCP completou 26 anos há duas semanas. Entre as comemorações e as actividades normais, a organização prepara o seu 8.º Congresso, que se realiza em Vila Nova de Gaia, em Maio. Francisco Leitão, Lígia Faria, Vasco Cardoso e João Tiago - por esta ordem na foto - falam dos preparativos, das lutas que se avizinham e do trabalho desenvolvido nos últimos três anos.
Faltam seis meses para o Congresso da JCP, mas os preparativos já começaram e envolvem cada vez mais militantes. «Outra organização poderá preparar um congresso num curto espaço de tempo. Organiza a logística, arranja um espaço e um grupo de pessoas apresenta uma moção e os militantes votam. Na JCP não se passa assim», diz ao Avante! Francisco Leitão, responsável pelas organizações do Porto, Vila Real e Bragança. «Daí a necessidade de preparar o congresso com grande antecedência, potenciando a ampla participação de todos os militantes na definição das orientações a aplicar nos próximos três anos e na eleição da nova direcção.»
João Tiago, membro da Organização Regional de Vila Nova de Gaia, defende que «o próprio processo de preparação do congresso é já fazer o congresso. Quando chegarmos a Maio teremos uma organização mais forte, os desafios que nos são colocados no recrutamento, chegar junto de mais jovens, uma organização mais sedimentada.»
Tudo porque a JCP quer um congresso intimamente ligado à vida e às lutas da juventude, como diz Vasco Cardoso, membro do Secretariado da JCP e da Comissão Política do PCP. «Por isso não nos fechamos durante o congresso», garante, abordando outras frentes de trabalho da JCP: as eleições presidenciais, o desenvolvimento das lutas do ensino profissional, do secundário e do superior e as iniciativas e actividades própria da organização.
Até Maio, muito há a preparar, nomeadamente a afirmação pública do congresso nas escolas, nas empresas, nas ruas, «onde houver organização da JCP». «Queremos que muitos amigos possam estar presentes nesta caminhada e naturalmente juntarem-se à JCP», diz Vasco Cardoso, falando na campanha de recrutamento que está a decorrer desde o fim da Festa do Avante e que tem com objectivo trazer mil novos militantes até ao congresso. Até à semana passada, já havia 160 recrutamentos.
A organização do ensino secundário é uma das que está a desenvolver uma campanha. Segundo Lígia Faria, a responsável nacional, trata-se de uma campanha ambiciosa «para a qual estamos a trabalhar diariamente». Lígia diz que «não há grande dificuldade em chegar junto dos jovens e afirmar a nossa organização. Somos bem recebidos, até pela situação política que vivemos. A juventude está muito aberta a este tipo de discussão. Nós estamos nas escolas, vivemos os mesmos problemas e todos os dias conversamos sobre a nossa organização.»

Objectivos até Maio

A Direcção da JCP apontou outras metas até ao Congresso, como afirmar a iniciativa junto das organizações internacionais que participam na Federação Mundial da Juventude Democrática, juntar 60 mil euros na campanha de fundos, pintar cem murais alusivos e envolver 1800 jovens no Segundo Torneio de Futsal, o dobro dos que participaram na primeira edição, este ano.
Uma das tarefas mais importantes é a preparação e posterior discussão da proposta da resolução política, apresentada aos militantes em Janeiro. A primeira reunião de direcção de redacção realizou-se na noite da passada sexta-feira. Francisco Leitão, um dos seus membros, conta que o ponto de partida são os princípios orgânicos da JCP, a resolução política aprovada no último congresso e a experiência acumulada. «Estes três anos serviram para aprofundar as nossas reflexões», diz.
«Não é preciso inventar», sustenta Vasco Cardoso. «Houve um enriquecimento de conteúdos e de reflexão sobre várias coisas, como a situação internacional. Há coisas que estão muito diferentes. No último congresso, ainda não se tinha concretizado a invasão do Iraque, por exemplo. Na altura, a JCP ainda não estava na presidência da FMJD. Isto é um elemento importante do ponto de vista internacional, como também permitiu que hoje tivessemos um conhecimento mais aprofundado sobre outras realidades», sublinha.
O dirigente prevê já uma dificuldade na redacção do documento: «Não queremos aumentar o tamanho da resolução política – deve ser um instrumento útil de trabalho, que esteja acessível à esmagadora maioria dos militantes e que seja um elemento para contactos e recrutamentos –, mas conhecemos hoje mais coisas da realidade que nos envolve. É uma realidade que é mais complexa e diversificada e tentamos acompanhá-la. A dificuldade que teremos será falar de mais coisas no mesmo espaço.»

Alegria e trabalho

O congresso é uma experiência única para muitos militantes da JCP, pois a maioria não participou na preparação do sétimo congresso. É uma oportunidade ímpar para uma aprendizagem profunda sobre o funcionamento democrático da JCP e o nosso entendimento sobre a participação da juventude. Três anos é quase uma eternidade na JCP, porque a vida da juventude tem uma grande instabilidade e inconstância. Uma organização ligada às massas interioriza no seu funcionamento essa indefinição: muda-se de escola, passa-se do secundário para o superior, a precariedade leva a que a mudança de local de trabalho frequente, jovens que emigram», enumera Vasco Cardoso.
Pela primeira vez, a JCP realiza o seu congresso fora da Área Metropolitana de Lisboa, em Vila Nova de Gaia. Esta não foi a única hipótese levantada, mas, depois de pesar a capacidade das várias organizações regionais e os apoios institucionais possíveis de conseguir, a decisão foi tomada. Actualmente está a ser preparado um protocolo com a Câmara Municipal de Gaia e prevê-se «um grande contributo para a afirmação da JCP naquela região», como assegura Vasco Cardoso.
João Tiago pertence ao colectivo de Gaia e conta como foram as reacções dos companheiros. «Uma camarada ficou muito contente quando soube, enquanto outro camarada disse logo: “Isso dá muito trabalho!” De facto, estas são as duas melhores expressões: a alegria de receber o congresso – e a alegria faz parte da nossa organização e da vida dos jovens comunistas – e a consciência, com os pés assentes na terra, de que dá trabalho e que sem trabalho não se faz nada.»
«É um desafio muito grande para a Organização do Porto: preparar logisticamente o congresso e receber camaradas de todo o País e ao mesmo tempo não descurar a preparação política do congresso», acrescenta João Tiago.

Apelar à inteligência
e aos valores dos jovens


A sociedade incentiva à passividade, à não contestação do estado de coisas, mas nem por isso o número de jovens que entra para a JCP deixa de aumentar. Como é possível? Lígia Faria responde: «É por estarmos nas empresas, nas escolas… É uma coisa natural para um comunista esclarecer e é gratificante vermos à nossa volta cada vez mais pessoas a questionar a sociedade. Relacionamos as decisões tomadas na Assembleia da República e pelo Governo às realidades concretas, ao facto de faltarem cadeiras na escola, à dificuldades dos trabalhadores numa determinada empresa, ligamos as coisas e mantemos um contacto privilegiado com as pessoas…»
«Não há receitas contra a alienação e as tentativas de camuflar a realidade», adianta João Tiago. «Privar um comunista da sua militância é um castigo, sentimos essa necessidade de luta. Mas não é só facilidades, é uma luta dura e o combate ideológico é tão forte que sentimos dificuldades. Mas a nossa maior vantagem é o ideal que defendemos, o ideal de verdade e de transformação da sociedade e, sem moralismos ou superioridades, lutamos ao lado dos nossos colegas de trabalho ou de escola. Só através da unidade é possível transformar», defende.
Vasco Cardoso acrescenta outros ingredientes: a inteligência e os valores. «Os instrumentos da burguesia são muito poderosos e procura impor o individualismo, o oportunismo e o egoismo. Mas esses não são os sentimentos das massas, em particular dos jovens. Os jovens movem-se por valores de generosidade, solidariedade, cooperação, paz e amizade. Há essa semente e depois temos de apelar à inteligência», refere.
Deve ainda juntar-se perseverança e firmeza. «Apesar desta cortina de fumo que nos lançam sobre a impossibilidade de melhor as condições de vida, sobre o fim da luta de classes, a ideia de que uma pessoa se desenrasca melhor sozinha do que com a entreajuda de outros, há a realidade que desmente isso todos os dias. Somos corredores de fundo... Não há ilusões de que vamos distribuir uns papéis na rua e fica tudo resolvido. Tem de haver muita persistência», garante.

Três anos de trabalho
e de bons resultados


Uma das funções do 8.º Congresso será fazer um balanço do trabalho desenvolvido pela organização nos últimos três anos. No entanto, mesmo que de modo insuficiente, é já possível análisar este período em que a JCP se projectou no País e no mundo.
«A riqueza do congresso é essa: permitir à JCP conhecer-se melhor», diz João Tiago, que refere o objectivo de actualizar o ficheiro dos militantes. «Só esta é uma tarefa grande e muito significativa. É um trabalho que deve ser contínuo, não é agora que o começamos, mas agora ele toma uma importância maior.»
Francisco Leitão destaca o reforço no plano nacional da JCP como organização revolucionária da juventude e, no plano internacional, o contributo dado à FMJD: «Tem sido muito significativo e a JCP naturalmente também tem enriquecido o seu património de experiência e conhecimento da realidade mundial.»
Vasco Cardoso apela ao sentido autocrítico, mas não deixa de destacar o trabalho realizado. «Valorizamos os passos que damos e, numa luta política, ideológica e de classes que é tão violenta como a que travamos, temos mesmo de valorizar os nossos avanços. Nalguns casos, lutar significa resistir e segurar posições. Mas não nos esquecemos das insuficiências que temos», diz.
A maior regularidade da edição do Agit, a qualidade do site da organização (com actualização regular e um elevado número de visitas) e o nível de recrutamentos são destacados. «Com a ofensiva ideológica que hoje existe contra os direitos, as liberdades e garantias, contra a democracia e contra os comunistas, é de valorizar que uma organização como a JCP se aproxime bastante dos mil recrutamentos por ano», defende Vasco Cardoso. Actualmente quase metade dos novos militantes são jovens trabalhadores.

Militância revolucionária

O dirigente refere ainda os avanços da organização da juventude trabalhadora desde o último congresso: «Temos uma preocupação mais generalizada sobre estas questões, há organização por sectores, empresas, locais de trabalho e regiões, há trabalho no sentido da sindicalização dos camaradas, um conhecimento mais aprofundado dos ritmos de trabalho, das empresas de trabalho temporário, da situação de precariedade e das suas facetas... Mesmo na política de quadros há um trabalho mais direccionado, mas ainda é um trabalho muito insuficiente para as necessidades e para as potencialidades.»
A crítica recai na pouca intervenção no movimento juvenil de base local ou na insuficiente diversidade de iniciativas. «Havendo prioridade na questão do emprego e da educação, há outras coisas que motivam os jovens relacionadas com a cultura, o desporto, o ambiente, a ocupação de tempos livres», comenta.
Outro campo que Vasco Cardoso é o «entendimento da militância»: «Não queremos uma organização para ter e para estar. É muito importante ter centros de trabalho cheios de jovens disponíveis para trabalhar, mas temos de estar virados para intervir na nossa escola, na nossa empresa... Devemos dar maior visibilidade a este entendimento da militância revolucionária.»

Contribuir para o reforço do PCP

«Nós contribuímos e beneficiamos do reforço do Partido», afirma Vasco Cardoso, defendendo que qa JCP «contribui cada vez mais». E explica: «Primeiro, a JCP é o melhor instrumento que o Partido tem de intervenção junto da juventude, para além de ser a melhor forma de afirmar o ideal comunista. A formação de quadros comunistas na JCP tem sido muito benéfica para o Partido. Muitos quadros que passaram pela JCP assumem as mais diversas responsabilidades no PCP.»
A decisão do último Comité Central de responsabilizar 500 jovens em organismos do Partido comprova esta ideia, bem como o facto de nas eleições autárquicas de Outubro muitos jovens terem encabeçado as lista da CDU às câmaras, assembleias municipais e assembleias de freguesia.
Francisco Leitão salienta que «os jovens quadros são o futuro e o presente do PCP. A JCP é uma organização de comunistas, por isso sempre que reforçamos a JCP estamos a reforçar o PCP.» Para ele, «integrar as listas da CDU é um aspecto normal nas nossas vidas de militantes». Francisco conta como houve boas reacções à composição de muitas listas da coligação, mas igualment críticas descabidas. «Postos perante a evidência de que não eram “listas de velhos”, chegavam a atingir cúmulo de nos atacarem por sermos demasiado novos.»

Participação directa no Parlamento

Nas últimas eleições legislativas um dirigente da JCP foi eleito deputado nas listas da CDU e integra o Grupo Parlamentar do PCP. O trabalho de Miguel Tiago Rosado permite aliar a luta com as questões institucionais, intervindo na Assembleia da República a partir dos problemas que são detectados no dia-a-dia pela JCP, à imagem do que acontece habitualmente com o PCP. É difícil de enumerar este trabalho, pois já são muitos os requerimentos apresentados e as iniciativas parlamentares realizadas nos últimos meses. Também foram apresentadas várias propostas parlamentares, como a alteração do incentivo ao arrendamento de habitação por jovens e a actualização da lei da droga.
«O Miguel Tiago visita escolas e empresas praticamente todas as semanas. Claro que não fazemos depender o nosso trabalho dessa questão, até porque houve alturas em que não tivemos um dirigente da JCP na Assembleia da República e isso não nos impediu de nada. Mas facilita, como é óbvio», comenta Vasco Cardoso.