Um fórum para a direita
Não parece poder restar qualquer dúvida: a rubrica «Prós e Contras» afirmou-se como o lugar mediático que funciona como porta-voz das áreas mais direitistas da sociedade portuguesa. Foi ali, aliás, que o ministro Teixeira dos Santos proferiu as já tristemente famosas declarações de efeito terrorista que tendem a funcionar como testa-de-ponte de uma ofensiva contra a Segurança Social tal como ela ainda é. E que o tenha feito precisamente no «Prós e Contras» e não em qualquer outro lugar e circunstância é pelo menos curioso. Na passada segunda-feira, a questão da Segurança Social voltou a ser o assunto abordado na rubrica, na quase expressa sequência da agressão ministerial, e esse retorno ao tema significa claramente que a ofensiva continua. É certo que desta vez também lá esteve o secretário-geral da CGTP, isto é, que foi decidido guardar aparências e permitir que os trabalhadores tivessem uma espécie de advogado de defesa, mas foi mais que óbvio, chocante, verificar que os acusadores, isto é, os que preconizam que os trabalhadores sejam condenados à pena de ainda maior desprotecção social, foram em número esmagador. Tal como foi chocante, chegando mesmo a ser repugnante, a forma como por alguns foram referidos os direitos que os trabalhadores adquiriram pelo duro preço das suas contribuições pagas por desconto directo nos salários ou por parte das mais-valias que o sector laboral produz em favor do patronato. Chegou a ser dito, e por mais de uma vez, que os trabalhadores recebem benefícios, sugeridos como chorudos, desde que nascem «até ao túmulo», passando obviamente pelos abonos enquanto menores e estudantes; pelos subsídios de casamento, doença e desemprego; terminando no subsídio de funeral. Neste quadro, segundo se ouviu, os trabalhadores não teriam de se ralar, bastar-lhes-ia passar a vida comodamente encostados aos cuidados do chamado Estado Social. É difícil dizer se o que nesta composição ficcional, que finge ignorar a insuficiência, quando não a exiguidade e/ou carácter meramente simbólico, dos apoios, é mais relevante: se o cinismo de que se reveste ou a indignação que inevitavelmente suscita.
Se quiser
Entretanto, esta emissão do «Prós e Contras» confirmou amplamente o que de resto não seria novidade nenhuma: que a condução do programa por Fátima Campos Ferreira desde logo lhe retira a credibilidade que a isenção da apresentadora poderia permitir. Já não falo do seu vezo para interromper as intervenções de participantes que sejam de Esquerda ou de Esquerda pareçam, pois isso é característica comum a muitos outros telejornalistas, de tal modo que parece ser uma espécie de característica propiciadora de uma auspiciosa carreira profissional. Porém, Fátima Campos Ferreira vai mais longe nesse tipo de prestação de serviços. Perante Carvalho da Silva, chegou ao descoco de o acusar de «acicatar» (presume-se que a opinião pública) quando o sindicalista lembrou os cuidados com que as reformas milionárias de alguns gestores que pregam sacrifícios são fixadas pelos próprios. E a criatura também se atreveu a comentários como «isso é verdade!» a propósito de uma afirmação do sindicalista, assim sugerindo implicitamente que não seriam verdade as restantes, ou «ele mantém», manifestando aparente surpresa pela firmeza com que Carvalho da Silva apresentava as suas razões. Que são, bem se sabe, as razões de todos os trabalhadores portugueses que os arautos da direita parecem querer devolver aos velhos regimes de escravidão, mas sem o direito a habitação e abrigo que os antigos escravos tinham. A insistência com que Fátima Campos Ferreira quis, por sinal em vão, colocar na boca de Carvalho da Silva palavras que visassem a «tributação das grandes fortunas» confirmou também, mais uma vez, o que há muito se vem sabendo: que com «moderadora» assim, o «Prós e Contras», que aparentemente surgiu como tentativa para ser um programa de prestígio para uma RTP em tempo de dificuldades, acaba por ser um programa de desprestígio, de enfeudamento ideológico a sectores que de tão violentamente direitistas se tornam odiosos, um programa que surge afinal como factor de opróbio. E, dito isto, acentua-se que a solução, se solução se procurar, não implica necessariamente a substituição de Fátima Campos Ferreira, profissional trabalhadora e nada burra, mas o seu alinhamento pelos deveres de isenção e imparcialidade. Nada que ela não seja capaz de fazer. Se quiser.
Se quiser
Entretanto, esta emissão do «Prós e Contras» confirmou amplamente o que de resto não seria novidade nenhuma: que a condução do programa por Fátima Campos Ferreira desde logo lhe retira a credibilidade que a isenção da apresentadora poderia permitir. Já não falo do seu vezo para interromper as intervenções de participantes que sejam de Esquerda ou de Esquerda pareçam, pois isso é característica comum a muitos outros telejornalistas, de tal modo que parece ser uma espécie de característica propiciadora de uma auspiciosa carreira profissional. Porém, Fátima Campos Ferreira vai mais longe nesse tipo de prestação de serviços. Perante Carvalho da Silva, chegou ao descoco de o acusar de «acicatar» (presume-se que a opinião pública) quando o sindicalista lembrou os cuidados com que as reformas milionárias de alguns gestores que pregam sacrifícios são fixadas pelos próprios. E a criatura também se atreveu a comentários como «isso é verdade!» a propósito de uma afirmação do sindicalista, assim sugerindo implicitamente que não seriam verdade as restantes, ou «ele mantém», manifestando aparente surpresa pela firmeza com que Carvalho da Silva apresentava as suas razões. Que são, bem se sabe, as razões de todos os trabalhadores portugueses que os arautos da direita parecem querer devolver aos velhos regimes de escravidão, mas sem o direito a habitação e abrigo que os antigos escravos tinham. A insistência com que Fátima Campos Ferreira quis, por sinal em vão, colocar na boca de Carvalho da Silva palavras que visassem a «tributação das grandes fortunas» confirmou também, mais uma vez, o que há muito se vem sabendo: que com «moderadora» assim, o «Prós e Contras», que aparentemente surgiu como tentativa para ser um programa de prestígio para uma RTP em tempo de dificuldades, acaba por ser um programa de desprestígio, de enfeudamento ideológico a sectores que de tão violentamente direitistas se tornam odiosos, um programa que surge afinal como factor de opróbio. E, dito isto, acentua-se que a solução, se solução se procurar, não implica necessariamente a substituição de Fátima Campos Ferreira, profissional trabalhadora e nada burra, mas o seu alinhamento pelos deveres de isenção e imparcialidade. Nada que ela não seja capaz de fazer. Se quiser.