Misturas
Uma das variadas confusões que a campanha das presidenciais introduziu, através da maioria das candidaturas apresentadas e dos seus apoios mais ou menos revelados, foi a do conceito de «esquerda». O fenómeno não é novo e surge sempre com remoçado vigor quando algo de importante está em causa na escolha que os cidadãos fazem. Apesar da continuada e estafada campanha que pretende apagar o conceito de luta de classes – substituindo-o às vezes por um diáfano «conflito social» – e tentando impingir a treta de que a ideologia é uma categoria ultrapassada no modo de ver o mundo e de o transformar, pugnando os comentadores ao serviço da ideologia dominante pela tese da desideologização, o facto é que a dicotomia esquerda/direita vem sempre à tona, embrulhada embora em confusões e misturas moídas finamente com a finalidade de lançar poeira aos olhos de quem escolhe um caminho ou uma proposta.
Estamos longe, de facto, dos tempos em que Luís XVI foi obrigado a convocar as cortes e em que os campos políticos de então se separaram nos lugares da sala. À direita do rei a aristocracia; à sua esquerda, os burgueses revolucionários, Hoje em dia, e desde há muito – desde que a burguesia tomou o poder político, aumentando o poder económico que já detinha em grossa parte, que o campo se divide de outro modo. À esquerda, os trabalhadores e o povo; à direita, o capital e os seus serventuários políticos.
É claro que as coisas nunca são a preto e branco e é sempre necessário prestar atenção aos matizes. É claro que as circunstâncias e as escolhas de cada uma dos componentes vários do espectro partidário, os seus programas e as suas práticas aconselham muitas vezes convergências, alianças e também clivagens e cortes abruptos. Mas é tendo em conta essas circunstâncias, essas escolhas e atitudes que convém acertar não apenas os rumos mas também os termos com que se caracterizam as forças políticas.
Se pegarmos, por exemplo, nas palavras do candidato – infelizmente eleito – apoiado pela direita, isto é, pelo capital mais agressivo e gordo, poderíamos considerá-lo como um homem de «esquerda moderada», cheio de atenção que se mostrou aos problemas dos trabalhadores e dos funcionários públicos; um homem que se sujeitou ao sacrifício de ouvir e trautear a «Grândola Vila Morena» sem que o céu lhe caísse em cima da cabeça. E ao considerarmos a prática do PS e do seu Governo, donde saíram dois dos candidatos derrotados, teremos de concluir que se trata de um partido de direita, porque é de direita a política que defende e pratica.
Compreendemos o mal-estar de Marques Mendes quando, na Assembleia da República, não conseguiu criticar e mostrar oposição às medidas anunciadas por Sócrates. A mistura é muito forte.
Estamos longe, de facto, dos tempos em que Luís XVI foi obrigado a convocar as cortes e em que os campos políticos de então se separaram nos lugares da sala. À direita do rei a aristocracia; à sua esquerda, os burgueses revolucionários, Hoje em dia, e desde há muito – desde que a burguesia tomou o poder político, aumentando o poder económico que já detinha em grossa parte, que o campo se divide de outro modo. À esquerda, os trabalhadores e o povo; à direita, o capital e os seus serventuários políticos.
É claro que as coisas nunca são a preto e branco e é sempre necessário prestar atenção aos matizes. É claro que as circunstâncias e as escolhas de cada uma dos componentes vários do espectro partidário, os seus programas e as suas práticas aconselham muitas vezes convergências, alianças e também clivagens e cortes abruptos. Mas é tendo em conta essas circunstâncias, essas escolhas e atitudes que convém acertar não apenas os rumos mas também os termos com que se caracterizam as forças políticas.
Se pegarmos, por exemplo, nas palavras do candidato – infelizmente eleito – apoiado pela direita, isto é, pelo capital mais agressivo e gordo, poderíamos considerá-lo como um homem de «esquerda moderada», cheio de atenção que se mostrou aos problemas dos trabalhadores e dos funcionários públicos; um homem que se sujeitou ao sacrifício de ouvir e trautear a «Grândola Vila Morena» sem que o céu lhe caísse em cima da cabeça. E ao considerarmos a prática do PS e do seu Governo, donde saíram dois dos candidatos derrotados, teremos de concluir que se trata de um partido de direita, porque é de direita a política que defende e pratica.
Compreendemos o mal-estar de Marques Mendes quando, na Assembleia da República, não conseguiu criticar e mostrar oposição às medidas anunciadas por Sócrates. A mistura é muito forte.