
- Nº 1680 (2006/02/9)
Política de medicamentos
Saúde não é negócio
PCP
Os pensionistas com um rendimento anual inferior a 14 salários mínimos correm o risco de não usufruir de comparticipações superiores a 15 por cento nos medicamentos se, até ao final de Março, não fizerem prova dos seus rendimentos nos Centros de Saúde.
Esta medida, recentemente tomada pelo Governo, vai inevitavelmente prejudicar milhares de pensionistas que já hoje se confrontam com a necessidade de optar entre o satisfazer necessidades mínimas, como a alimentação e o vestuário, e a compra de medicamentos de que necessitam, denuncia a Comissão Política do PCP.
Em nota à comunicação social, o PCP diz ser impossível que o ministro da Saúde desconheça as dificuldades com que vive a esmagadora maioria dos pensionistas portugueses com um rendimento inferior ao salário mínimo, visíveis nomeadamente quando obrigados a responder às exigências da burocracia nos serviços do Estado.
Mais, para o PCP, Correia de Campos não pode fingir que ignora «que a circulação de informação não é tão eficaz que garanta aos pensionistas conhecer atempadamente a decisão do governo; as dificuldades de deslocação de muitos daqueles que vivem isolados, muitas vezes em zonas onde nem sequer existe transporte público; os altos níveis de analfabetismo desta camada social, que lhes dificulta o preenchimento de documentos. Não só conhece esta realidade, sublinha, como sabe que a medida agora tomada, «igual a outras que já tomou na área do medicamento», apenas serve para que o Estado gaste menos, «não à custa da diminuição dos lucros da indústria, da distribuição e das farmácias, mas à custa dos utentes». Aliás, «há muito que as suas opções foram no sentido de transformar a saúde numa área de negócio».
Moralizar onde é preciso
Não é que o PCP esteja contra a moralização do sistema a todos os níveis, não só na área do medicamento. Gostaria, por exemplo, de ver a mesma determinação do ministro a Saúde «em acabar de vez com a promiscuidade entre o público e o privado em todos os sectores da saúde, esta sim uma situação profundamente imoral».
O que vai, porém, acontecer com a concretização da portaria 91/2006 agora publicada, é que «todos os anos muitos milhares de pensionistas, sobretudo os que têm mais dificuldades, não vão apresentar a tempo e horas os seus comprovativos para, mais tarde, o ministro vir falar nas virtudes da medida agora tomada e anunciar mais uma redução de gastos por parte do Estado em medicamentos. O que certamente não dirá, antevê o PCP, é que essa redução será feita, mais uma vez, «não porque o ministério tenha definido uma política do medicamento a nível hospitalar onde se podiam economizar milhões de euros, não porque tenha definido uma política racional de gestão de medicamentos a nível nacional, quer ao nível hospitalar, quer ao nível ambulatório, mas porque muitos daqueles que vivem num estado de pobreza e que já hoje não têm acesso a todos os medicamentos de que estão necessitados, perderão parte das comparticipações a que têm direito pelos seus baixos rendimentos».
Assim, o PCP exige que o Ministério da Saúde encontre uma solução mais simples e eficaz na resolução deste problema, «impedindo desta forma que mais portugueses morram neste país por dificuldades no acesso aos meios de combate à doença».