Trabalhadores de todo o mundo manifestam-se na rua

Milhões fazem Maio de luta

Milhões de pessoas em todo o mundo festejaram o Dia Mundial do Trabalhador, data assinalada por protestos e manifestações esmagadoras. Em dezenas de cidades, as iniciativas foram as maiores da última década, com destaque para as ocorridas nos EUA.

«Nos EUA, os protestos ocorreram em mais de 60 cidades»

Pela dignidade laboral e a valorização do trabalho; por melhores salários e emprego com direitos; contra a repressão e pela liberdade de acção sindical; contra a pobreza e a discriminação; pela paz e contra as guerras e planos imperialistas que ameaçam a humanidade mas prometem gordos dividendos ao grande capital, milhões, muitos milhões de pessoas tomaram as ruas e fizeram ouvir a sua voz.
Estas e outras causas comuns aos trabalhadores de todo o mundo levaram, fez segunda-feira 120 anos, os operários de Chicago a pararem a jornada laboral até que as suas exigências fossem atendidas. Desde esse histórico dia, pago com o sangue e a vida dos que então tombaram ante a repressão da polícia e dos mercenários pagos pelos patrões, que Maio começa anunciando a continuidade da luta, essa que só fará pausa quando a quem produz e cria, a quem imagina, ergue e constrói, não forem devidos os frutos do seu trabalho.
Na Europa, destaque para as manifestações do 1.º de Maio em França, onde, após meses de combate contra o Contrato do Primeiro Emprego, milhares de pessoas voltaram a festejar, em 110 cidades, a derrota da medida governamental.
Cenário semelhante em Itália. Turim e Milão acolheram desfiles gigantescos com centenas de milhares de trabalhadores. Na capital, Roma, a de San Giovanni in Latrano foi pequena para acolher os cerca de 800 mil participantes no habitual concerto do 1.º de Maio, iniciativa que assinalou ainda a derrota da coligação de direita liderada pelo magnata Silvio Berlusconi.
Em Berlim, as organizações sindicais mobilizaram mais de meio milhão de alemães e centraram os protestos nos projectos de desmantelamento dos sistemas de protecção social estatais, exigências repetidas em Sarajevo onde o povo pediu também a demissão do governo.
Em Viena, Londres e Varsóvia, centenas de milhares de trabalhadores engrossaram o número dos que à mesma hora desfilavam no mesmo sentido, o do progresso e dos direitos de quem trabalha. Em Madrid, as duas confederações sindicais uniram-se «Pela paz e emprego estável em igualdade», mas a ausência de críticas e palavras de ordem fortes e determinadas contra as políticas do governo de Zapatero, levou os representantes do Partido Comunista Espanhol e da Plataforma de Cidadãos pela República a abandonarem o recinto dos festejos na hora dos discursos oficiais. Em Iruña, a LAB reuniu milhares de bascos e comemorou Maio sob o lema «País Basco livre e socialista», centrando as vozes de protesto nos temas mais candentes da actualidade, a negociação com os estados espanhol e francês conducente à autodeterminação de Euskal Herria, e a precariedade laboral e o subemprego que afectam mais de 70 por cento dos jovens bascos.
Mais a Oriente, na Turquia, diversas cidades encheram-se de gente para festejar o dia de quem trabalha. Istambul, Elazig e Esmirna ficam na agenda não só pelas grandes mobilizações, mas também pela violência policial que se abateu sobre os manifestantes. Pelo menos 85 pessoas ficaram feridas.
No «velho continente», nota de destaque ainda para a Rússia, onde mais de um milhão de trabalhadores comemoraram Maio gritando palavras de ordem contra a pobreza extrema em que vivem milhões de concidadãos. Em Moscovo, dezenas de milhares de pessoas desfilaram respondendo ao apelo feito pelos comunistas, e em cidades como Vladivostok, São Petersburgo, Volgograd, Khabarovsk ou Gudernes, os números e as manifestações repetiram-se.

Trabalhadores dos EUA no maior Maio em 120 anos
Norte-americanos e imigrantes unidos


No coração do império, para além das habituais manifestações e celebrações do 1.º de Maio, estavam agendadas iniciativas de protesto promovidas pelos imigrantes e um boicote nacional ao trabalho e ao consumo. A iniciativa foi um sucesso. Milhões de trabalhadores, autóctones e imigrantes, uniram-se numa impressionante demonstração de força.
Em causa esteve a legislação que a administração Bush quer aprovar por forma a dificultar a obtenção da cidadania norte-americana aos cerca de 12 milhões de trabalhadores imigrantes dos EUA, mas também o facto do Dia Mundial do Trabalhador não ser feriado nacional no país onde Maio nasceu.
Na semana que antecedeu a iniciativa, George W. Bush, Arnold Schwarzenegger – governador da Califórnia, o estado norte-americano que acolhe o maior número de imigrantes e o único onde se registaram confrontos entre polícias e manifestantes, já durante a noite, em Los Angeles – e os sectores mais reaccionários da igreja católica desdobraram-se quer em ameaças, quer em apelos contra a adesão às manifestações.
De nada valeram as palavras do poder e dos seus agentes. Em mais de 60 cidades, centenas de milhares de pessoas marcharam contra a discriminação e pelo inalienável direito à dignidade, quer na cidadania, que no trabalho.
Sacramento e Los Angeles atingiram números históricos de adesão. Ninguém foi trabalhar, estudar ou fazer compras. 350 mil na primeira metrópole, mais de meio milhão na segunda marcharam nas ruas.
Protestos a ultrapassarem as centenas de milhares de pessoas (segundo as agências noticiosas, acima das 300 mil pessoas na maioria dos exemplos referidos), também decorreram em Washington, cuja manifestação terminou frente ao Capitólio. Igual mobilização em muitas cidades do Estado de Nova Iorque, no Estado de Nova Jersey, em Chicago e Aurora - cidades do Estado do Illinois onde residem grande número de imigrantes indocumentados – em Houston, Orlando, Atlanta ou Dallas.
Dados reportados pelas companhias Tyson Foods, Perdue Farms, Gallo Wines, Mc Donalds e Wal-Mart, empresas que empregam milhares de trabalhadores imigrantes e em situação precária, indicam sérias dificuldades na manutenção da laboração durante o dia 1 de Maio e perdas consideráveis ao nível das vendas.
O sector da construção civil também foi seriamente afectado, e na Florida, a Associação de Produtores de Frutas e Vegetais afirmou que mais de metade dos trabalhadores afectos às empresas inscritas na organização não foram trabalhar.

Na Ásia e América Latina
Trabalhadores contra o neoliberalismo


Se na Europa as comemorações do 1.º de Maio foram uma resposta ao neoliberalismo, na Ásia e na América Latina os povos também se mobilizaram.
Em Havana, um milhão rejeitou a política terrorista dos EUA e reafirmou a vontade em prosseguir o processo político e social iniciado com a revolução de 1959.
Em São Paulo, no Brasil, quase três milhões de brasileiros participaram nas comemorações das duas centrais sindicais do país, a Força Sindical e a Central Única dos Trabalhadores.
Na Venezuela, depois de saberem que Chavez decidiu aumentar o salário mínimo em 10 por cento, centenas de milhares de venezuelanos afectos a mais de mil organizações políticas, sindicais e de base popular tiveram razões redobradas para fazer um Maio maior e responderem ao apelo da União Nacional de Trabalhadores em defesa do processo bolivariano.
Temas transversais em todas as manifestações na América Latina foram os Tratados de Livre Comércio (TLC’s), com os quais os EUA tentam impor, por via da assinatura de convénios bilaterais, a mesma política económica imperialista derrotada pelos povos em Mar de La Plata, na Argentina.
Nas Honduras, no Uruguai, no México, em El Salvador, na Colômbia, no Chile e no Equador, milhares de trabalhadores manifestaram-se contra a política de direita e pela soberania sobre os recursos naturais.

Cedo se começa a protestar

No Extremo Oriente, o 1.º de Maio começou a ser assinalado horas antes. Na China, milhões de trabalhadores iniciam uma semana de férias, sorte que não toca aos 300 mil japoneses que se juntaram sábado na capital, Tóquio, para protestarem contra o executivo de Koizumi e por um feriado nacional a 1 de Maio.
«Chega de Mortes nas fábricas» foi a palavra de ordem mais ouvida no Bagladesh, enquanto na Tailândia milhares reclamavam um aumento salarial de 25 por cento, e na Coreia do Sul os trabalhadores denunciavam as longas jornadas de trabalho de mais de 12 horas diárias.
Na Nova Zelândia e na Austrália, Maio foi também de luta, tal como no Paquistão, onde a Confederação dos Trabalhadores Paquistaneses, a Federação de Sindicatos do Paquistão e a Organização da Mulher Trabalhadora realizaram a maior manifestação de operários dos últimos anos.
Na Palestina, a União de Sindicatos fez do 1.º de Maio uma denúncia das barreiras impostas por Israel à mobilidade de cerca de 100 mil trabalhadores locais, e em Teerão, capital do Irão, a ocasião foi aproveitada por milhares de pessoas para repudiarem, junto da embaixada dos EUA, uma eventual agressão norte-americana.
No Iraque, em 2003, os comunistas saíram à rua para, pela primeira vez desde 1979, assinalarem o Dia do Trabalhador. Três anos volvidos, em Bagdad houve quem insistisse em celebrar, isto apesar das ameaças violentas feitas por grupos armados afectos às facções que partilham o poder. Manifestações também em Bassorá, no Sul, onde houve quem levasse para a rua o símbolo da liberdade, a foice e o martelo.

Nem a repressão travou Maio

O Dia do Trabalhador fica também assinalado pela repressão e proibição dos festejos populares. Tal aconteceu no Camboja, onde apesar de tudo centenas de pessoas desafiaram as ordens das autoridades, e nas Filipinas, cuja capital, Manila, assistiu a uma marcha de dez mil pessoas em direcção ao palácio presidencial exigindo a demissão de Glória Arroyo.
Em Katmandú, no Nepal, o povo voltou a manifestar-se repetindo as mobilizações ocorridas desde 6 de Abril, e na Indonésia milhares de trabalhadores não só assinalaram o seu dia como exigiram que o parlamento decretasse a data como feriado nacional. A maioria dos deputados votou contra o projecto alegando que tal ideia «se baseia no pensamento de Karl Marx».


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«Como sabemos, existem conhecidos conhecidos; há coisas que sabemos que sabemos. Também sabemos que existem conhecidos desconhecidos; quer dizer sabemos que existem coisas que não sabemos. Mas também existem desconhecidos desconhecidos – coisas que não sabemos que não sabemos.» Este é um exemplo da clareza de comunicação...