Sessão evocativa de Álvaro Cunhal
José Casanova

«Defendermo-nos com Álvaro Cunhal»

«A questão que se nos coloca não é a de defendermos Álvaro Cunhal: a questão que se nos coloca é a de nos defendermos com Álvaro Cunhal – que o mesmo é dizer, defender o Partido», afirmou José Casanova.
José Casanova assinalou alguns aspectos da vida, militância e produção teórica de Álvaro Cunhal, que evidenciou «desde os verdes anos iniludíveis marcas com cunho de futuro que começariam a ter concretização plena no contributo dado à reorganização de 1940/41».
«Constituindo um processo de reforço do Partido e da sua intervenção, a reorganização de 40/41, a partir da análise à situação mundial, nacional e partidária, e num contexto global complexo e extremamente difícil, transforma o PCP num grande partido nacional, no grande partido da resistência antifascista, na vanguarda revolucionária da classe operária e das massas; cria condições de defesa do partido face à perseguição e à repressão fascistas; redimensiona e define, criativamente, o funcionamento democrático do partido e o trabalho colectivo que lhe é inerente; abre caminhos novos para o futuro imediato e para o futuro a médio e longo prazo; dá um impulso decisivo no processo de construção teórica e prática da identidade do Partido», enumerou José Casanova.
«Os efeitos da reorganização de 40/41, visíveis desde logo no desenvolvimento da luta de massas e da luta antifascista, assumiriam dimensão e expressão marcantes nas conclusões e decisões do III Congresso do Partido, em 1943 – realizado num tempo em que o exército nazi dominava a Europa e a ditadura salazarista sufocava Portugal e os portugueses – e do IV Congresso, de 1946, cuja “importância e significado muito particulares” decorrem de ter sido construído “num momento crucial da história do século XX”, num “dos períodos de mais força e influência do PCP na luta contra a ditadura”, e das “múltiplas experiências e lições que resultam das suas (do Partido) análises, orientações e decisões”. O IV Congresso, para além de definir os princípios orgânicos do centralismo democrático que orientam a sua organização, dá expressão política à rica experiência das lutas desse período, procede a uma análise consequente da situação política nacional, reafirma a sua política de unidade nacional antifascista, aponta o levantamento nacional contra a ditadura como caminho para o derrubamento do fascismo e para a defesa dos interesses nacionais», salientou.

Cor­recção de desvio

José Casanova sublinhou o papel desempenhado por Álvaro Cunhal, na sequência da fuga de Peniche, «no combate à errada análise que via como “traço dominante da situação política nacional, a desagregação irreversível do regime fascista” e apresentava a “via pacífica” como caminho para derrubar a ditadura. Na correcção desse desvio – e na consequente definição da linha do levantamento nacional, que o VI Congresso iria confirmar – correcção construída através de um debate que, apesar das condições de clandestinidade, envolveu parte grande do Partido, a acção de Álvaro Cunhal foi decisiva e determinante. Desse tempo, ficam como património do colectivo partidário importantes documentos, da autoria de Álvaro Cunhal, que integraram o referido debate, nomeadamente O desvio de di­reita no Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês nos anos de 1956/​1959 e A ten­dência anarco-li­beral na or­ga­ni­zação do tra­balho de di­recção
«O impulso gerado pela correcção do desvio teve imediatas repercussões na acção, na dinâmica e no conteúdo da intervenção do Partido», lembrou o dirigente do PCP, referindo que «o 1º de Maio de 1962, atingindo dimensões e significado novos, foi um dos muitos exemplos concretos dessa nova dinâmica: desde aí, o Dia do Trabalhador, enquanto tal, passou a ser o dia nacional da resistência antifascista, ocupando assim o lugar até aí ocupado pelo 5 de Outubro, dia da revolução republicana burguesa. E, naturalmente, todo o processo que conduziu à construção do histórico VI Congresso, cuja influência na revolução portuguesa seria determinante – com as sua orientações visando, e conseguindo, o desenvolvimento da luta de massas e o reforço da unidade da classe operária, das massas trabalhadoras e das forças antifascistas; com a definição da via para o derrubamento do fascismo, traduzida na expressão “o fascismo mantém-se no poder pela força, só pela força poderá ser derrotado”; com o seu Programa para a Revolução Democrática e Nacional. E com o Rumo à Vi­tória, apresentado ao Comité Central em Abril de 1964, como contributo para o debate preparatório do VI Congresso.»

Rumo à Vi­tória

«O Rumo à Vi­tória – no qual pro­cede à abor­dagem da linha po­lí­tica e tác­tica do par­tido na ac­tual etapa da re­vo­lução - é um exemplo lu­minar de como Álvaro Cu­nhal en­tendia a li­gação entre a te­oria e a prá­tica. Como já al­guém disse: “Ele não te­o­riza. Faz te­oria, ela­bora te­oria, fun­da­men­tando ra­ci­o­nal­mente as con­di­ções, formas e ob­jec­tivos de luta.” A partir da ca­rac­te­ri­zação da si­tu­ação po­lí­tica por­tu­guesa – da na­tu­reza de classe da di­ta­dura fas­cista, da sua base eco­nó­mica e da ar­ru­mação das forças so­ciais, do papel da forças an­ti­fas­cistas, da classe ope­rária e do Par­tido – de­fine os ob­jec­tivos da re­vo­lução de­mo­crá­tica e na­ci­onal, aponta a via para o der­ru­ba­mento do fas­cismo, de­fine uma po­lí­tica de uni­dade an­ti­fas­cista, de­fine as ta­refas do Par­tido e uma po­lí­tica de ali­anças so­ciais com va­li­dade e acui­dade na luta an­ti­fas­cista e, pos­te­ri­or­mente, no pro­cesso da re­vo­lução por­tu­guesa, e, em muitos as­pectos, hoje ainda», de­clarou..
Para José Ca­sa­nova, «o Rumo à Vi­tória foi isso mesmo: rumo à vi­tória que che­garia em Abril de 74 e se de­sen­vol­veria no pro­cesso trans­for­mador da re­vo­lução por­tu­guesa. O Rumo à Vi­tória es­teve nas ruas, nas fá­bricas, nos es­cri­tó­rios, nos campos, nas es­colas; es­teve nas po­lí­ticas dos go­vernos pro­vi­só­rios; es­teve na acção dos mi­li­tares re­vo­lu­ci­o­ná­rios e pro­gres­sistas e no Pro­grama do MFA; es­teve nas im­por­tantes con­quistas re­vo­lu­ci­o­ná­rias al­can­çadas pelo mo­vi­mento ope­rário e po­pular. Ou seja, o pro­cesso re­vo­lu­ci­o­nário se­guiu a par e passo os passos ri­go­ro­sa­mente de­fi­nidos dez anos antes. E é ainda rumo à vi­tória esta luta que, há trinta anos tra­vamos contra a po­lí­tica de di­reita, que é a po­lí­tica da contra-re­vo­lução de Abril.»
«Ao longo de toda a sua vida de re­vo­lu­ci­o­nário, Álvaro Cu­nhal foi alvo de cons­tantes e fe­rozes ata­ques. Assim foi, assim é e, não é di­fícil prever, assim con­ti­nuará a ser – para Álvaro Cu­nhal e para o Par­tido. E a questão que se nos co­loca não é, de forma al­guma, a de de­fen­dermos Álvaro Cu­nhal: a questão que se nos co­loca todos os dias é a de nos de­fen­dermos com Álvaro Cu­nhal – que o mesmo é dizer, de­fender o Par­tido; que o mesmo é dizer, re­pito, re­forçá-lo or­gâ­nica e ide­o­ló­gi­ca­mente, tor­nando-o cada vez in­ter­ve­ni­ente e ac­tivo, mais in­flu­ente, mais so­li­da­mente li­gado à classe ope­rária e a todos os tra­ba­lha­dores», con­cluiu.


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